sábado, 28 de fevereiro de 2009

Alguém bem melhor....


Hoje de tarde fui beber uma água de coco no Jardim de Alah com Juliana, uma amiga querida. Eu já falei dela aqui em outros momentos. Tenho um carinho especial por ela. Ela é jovem e linda. Apesar de estarmos em momentos bem diferentes da vida, nos encontramos nesse universo feminino sem fronteiras, e nos identificamos em muitas coisas. Sinto que muitas dores e angustias que ela vive, eu de alguma forma já vivi. Tento lhe dizer da minha experiencia...tento lhe passar mais confiança, mais segurança, mais coragem.... enfim, dizer da vida que tenho vivido...

Sempre fui muito corajosa e batalhadora. Acho que até muitas vezes, enfrentei guerras que nem existiam de fato, confrontei pessoas sem a menor necessidade, vi desafios em momentos em que poderia estar descansando, falei coisas que me levaram a situações dificeis e quando poderia ter ficado calada... acho que muitas vêzes compliquei minha vida sem a menor necessidade. Lembro de muitas situações em que fui "bucha de canhão", ou até mesmo "bode expiatório" por ter escolhido ficar nesse lugar, ou por não ter feito nada para evitá-lo, muito pelo contrário.

Meu marido sempre me dizia que eu precisava ser mais política, mais conciliatória, mas eu achava que tinha que expôr as sombras, revelar as feridas, as falhas e as mentiras, não só minhas como de todos. Reconheço que em muitas situações na minha vida, agi como uma kamikase, algo meio orgulhoso e infantil. Tratava de forma dura e severa as fraquezas. minhas e dos outros. Não tinha paciência com as inseguranças e com os medos, nem meus, muito menos dos outros.

A vida vai nos ensinando. Hoje me trato com muito mais carinho, e aos outros também. Tenho paciência com meus medos e com os dos outros também. Ainda tenho alguma dificuldade em receber todo tipo de ajuda, por que ainda é dificil reconhecer minha fragilidade, ou também por não gostar de todo tipo de oferta de ajuda, mas isso hoje já é possível. Sei que não gosto do tipo de ajuda, piegas e melosa, muitas vezes, prefiro a companhia silenciosa e o apoio expresso de forma simples e direta. Sou assim. É difícil pra mim ser piegas, mas sou boa em ajudar fortalecendo, escutando e mostrando-me disponível.

Devo essa transformação ao meu marido, meus filhos, meus clientes, alunos e aos amigos, como Juliana; que compartilham suas vidas comigo e deixam à mostra seus corações e almas, e dessa forma vão me oferecendo histórias e vivencias preciosas que me transformaram e continuam a me transformar cada dia em alguém muito melhor!

Acredito na vida! Acredito em uma sabedoria divina que tudo rege...acredito principalmente, no poder do amor e da amizade.

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. Foto sobre a Laxma Jhula (ponte sobre o Rio Ganges) , em Rishikesh, uma das cidades que mais amo na Índia.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Tememos a morte ou a vida?

Fui apresentada à Irmandade da Boa Morte, através de um documentário realizado por uma amiga que é jornalista (Cláudia Bonatte). Essa irmandade, famosa na Bahia, sempre me chamara atenção por causa do seu nome. Achava curioso uma irmandade chamar-se de Boa Morte! Acho que esse documentário, infelizmente nunca foi exibido pela TV, mas graças a essa minha amiga, eu pude conhecer um pouco da história desse grupo de mulheres negras que vivem na cidade de Cachoeira na Bahia e soube que elas praticam uma religiosidade, assim como muitas comunidades que tiveram origem nos escravos ou seus descendentes, que mistura o candomblé com o catolicismo.

Lembro perfeitamente de assistir no documentário, uma das "irmãs", que era bem velhinha, mas perfeitamente lúcida e com uma alegria contagiante, explicar um pouco do significado desse nome tão forte. Minha amiga perguntava na entrevista o porquê desse nome e ela explicava de forma absolutamente simples, que elas não cultuavam a morte como alguns pensavam, muito menos que elas passavam a vida pensando na morte, mas afirmava ela, que todas as "irmãs" queriam e tinham uma boa morte, uma morte tranquila e, quando minha amiga perguntava qual era o segredo disso, ela dizia rindo parecendo surpresa com a pergunta: ter uma boa vida!

A sabedoria daquela mulher aparecia nos vincos do seu rosto idoso, na simplicidade e generosidade das suas palavras. Nunca a esquecerei! Bom...me dei conta naquele momento que a morte não tinha menor importancia para elas... entretanto, a vida, essa sim, era cultuada e vista como sagrada, única. Segundo essas irmãs, se vivêssemos bem e tranquilamente, certamente teriamos muita chance de, na hora da nossa morte, estarmos tranquilos e entregues.

Para os hinduístas o momento da morte tem muita importancia, eles acreditam que se na hora da morte, a pessoa chamar o nome de Deus..., estaria revelando o seu desapego das coisas materiais, elevando a mente a um nível espiritual e poderia assim, romper uma cadeia de prisão kármica, desencarnando livremente e em paz. Os indianos contam que na hora da morte, o Mahatma Gandhi chamou Rama(o nome de Deus).

Amo muito a vida! Amo muito a minha vida...amo as coisas que faço, as coisas que aprendo, as pessoas que conheço e não consigo me ver diferente disso. Acredito na vida em todos os seus momentos, acredito no poder soberano da vida que nos ensina a renascer sempre e a prreservá-la, mas reconheço que a morte no ocidente é um assunto evitado. Sempre que pensamos em morte, pensamos em dor, sofrimento e perdas. Penso que nossa cultura é pouco reverente à vida, por isso teme tanto a morte. Acho tambem que só morrendo várias mortes em vida, não temeriamos a última morte...

As perguntas que ficam nessa reflexão são: que mortes são essas que teríamos que experimentar em vida? O que teria que morrer em nós para que pudéssemos viver plenamente e sem temer a morte?

E finalmente, já que a morte faz parte da vida..., tememos a morte ou tememos a vida?

Namastê!

Ludmila Rohr

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

COSMOS...CAOS....


A idéia de procurar um padrão nas coisas é comum para um engenheiro (meu marido) e para uma capricorniana (eu). Tentamos de alguma forma entender como as coisas acontecem...se elas possuem algum padrão, como elas se repetem....Essa é uma tentativa bem humana de encontrar alguma segurança....se sabemos como acontecem, podemos estar mais preparados...essa é uma (não a única) forma de lógica!

Bom...o efeito desagradável da quimio passou. Judson acordou disposto, com fome e com a cara ótima, sem náuseas....realmente muito bem. Saimos para caminhar na praia, que fica em frente da nossa casa, bebemos água de côco....almoçamos um peixe delicioso em um restaurante que adoramos....e começamos a tentar entender o que se passou e imaginar um padrão.

Imaginamos que a cada quimio...sofreremos uns três dias de náuseas e mal estar e depois... a vida volta!.... sendo assim, já iniciaríamos a contagem regressiva de sessões de quimio.... nos prepararíamos física e emocionalmente para isso. Mas,...parece que as coisas não acontecem exatamente assim. Conversando com algumas pessoas que já passaram por isso, elas dizem que a reação às sessões de quimio podem ser diferentes, muitos fatores influenciam essas reações, e pra mim isso parece óbvio, tudo nessa doença e nesse tratamento é multifatorial...nada é simples...não existe padrão....aliás, câncer é exatamente isso! Células que crescem fora do padrão!!

Bom...não sei, só sei que teremos uns dias de "normalidade" até a próxima quarta. Exatamente uma semana, em que tudo indica que os enjôos não existirão, e até lá, poderemos refletir sobre essa crença de que há alguma "segurança na ordem". A segurança talvêz esteja em saber da nossa capacidade de reestabelecer algum tipo de ordem mesmo no caos, em saber e sentir que a ordem sempre se reestabelece...., mas que ela de fato nunca se perde em algum lugar em nós. Tenho essa fé. Tenho essa sensação de que por mais difícil que seja o momento, posso acessar um lugar tranquilo dentro de mim, e basta que eu busque, que o encontrarei.

No ano passado, na época do 1º câncer, fiz uma tatuagem de um "dorje". Tenho a mania de marcar momentos da minha vida com tatuagens, e achei que esse símbolo do Budismo Tibetano que fala sobre o estado da mente dos Budas, seria uma lembrança de que isso é possível, de que por mais caótico que as coisas aparentem e se mostrem, sempre vai existir um cosmo... algo que pode estar tranquilo como um lago sereno...

A Mente inquebrantável e inabalável dos Budas é algo que ainda está muito, mas muito distante de ser alcançado por mim, mas a certeza de que isso é possível, isso eu já alcancei. Sei que não precisamos nos identificar com o caos e com a desordem e que de fato...tudo é uma grande ordem, e se não é assim que enxergamos naquele momento é porque não estamos distanciados e tranquilos o bastante para perceber.

Namastê

Ludmila Rohr
P.S. Foto da minha tatuagem da imagem de um dorje.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A fé na fênix....


Após dois dias de muito mal estar, com vômitos, náuseas e sem conseguir comer nada, Judson parece que começa a melhorar...amanheceu tomando café e depois fomos caminhar....isso me deixou muito feliz. Vê-lo saindo da prostração e voltando a vida é uma verdadeira delícia. Quando ele sentir fome, celebrarei!

Tentei nesses dias, envolver mais os meus filhos nesse processo. Tenho uma visão sistêmica da vida que o Tântrismo me oferece (a psicologia muito depois me ofereceu também). Nada acontece somente em algum lugar específico, ou com um alguém. Somos sempre um sistema, tudo está integrado e interligado. Uma doença apesar de aparecer em uma parte específica do corpo, deve ser cuidada olhando para o corpo todo. Uma doença em uma família (círculo mais próximo) é um sintoma daquela família e deve ser cuidada por todos, assim como pelos amigos e comunidade (ampliando os círculos). Por isso, tento envolver muitas pessoas nessa história. É de todos nós e todos podem ajudar e serem ajudados por isso.

Meus filhos são dois rapazes lindos, já falei deles em outros momentos nesse blog, mas acho que a tendencia deles nessa idade, é de se eximir de alguma responsabilidade, é de achar que tudo está sendo feito e que eles não teriam muita coisa a fazer. Isso é um engano. Preciso muito deles. Precisamos muito deles. Não pra fazer coisas, mas precisamos da presença e da energia deles. Precisamos do amor e da continência. Eles são muito amados e tenho certeza do amor deles, mas é bom sentir isso.

Tivemos durante toda a vida, muita preocupação em deixá-los conscientes do nosso amor, com manifestações e expressões desse sentimento. Nessa fase da nossa família, não posso protegê-los da realidade, e nem quero, e preciso sentir o amor deles. Eles precisam sair da posição de quem recebe, para o lugar de quem dá. Esse é o momento de dar, e isso produz muito crescimento., muito amadurecimento. Alguém que não sabe dar, ou que não consegue.....é com certeza alguém muito infeliz e pobre, e alguém que insiste em se manter no lugar egoísta da criança que precisa ser atendida por todos. Então digo pra eles: Temos que estar juntos nessa, e com manifestações explícitas dessa união! Choro muito.....simplesmente choro, choro quando falo com eles, choro quando penso no que estamos e ainda teremos que passar, mas penso que teremos que fazer isso juntos. Choro porque estou colocando-os diante dessa dor que preferia que eles não sentissem, mas que é preciso que eles sintam.

Nesses dias em casa tenho meditado muito...não faço outra coisa. Tenho meditado sobre como a minha fé se comporta, como é a minha fé.....tenho ficado na minha caverna quase que o tempo todo. Esse é lum lugar de tranquilidade que me conecta com o meu Deus interno. Faço uma descoberta nesses mergulhos introspectivos, descubro que nunca invoco "Deus", que nunca peço nada....não sei pedir nada a Deus. Nunca fui acostumada a pedir a Deus alguma coisa. Fico meio sem graça. Me dou conta de que as pessoas fazem isso, e que deve ser muito reconfortante, que deve ser muito bom....sei lá, não sei pedir. Estranho pensar isso, mas não sei pedir. Peço pra todas as pessoas que me ligam ou escrevem, que peçam por nós...que orem ou vibrem por nós....que peçam pela saúde de Judson, mas eu não sei pedir...que coisa doida me dar conta disso!

Minha fé diz que tudo está certo, que no fim tudo dá certo, que não sabemos de nada e que devemos fazer a nossa parte...o resto virá como acréscimo...., mas acho que queria sentir como algumas pessoas descrevem, que sentem uma certeza de que Deus as atenderá! Bom, por enquanto vou fazendo aquilo que entendo ser a minha parte. Tento manter a minha mente tranquila, o coração aberto, compassivo e amoroso, e o corpo leve. Cuido de Judson com aquilo que tenho de melhor, tento manter a minha família unida nessa jornada e choro, choro muito quando fica pesado, sem perder a certeza de que como Fênix podemos renascer sempre. Essa, com certeza é a minha maior fé!

Namastê

Ludmila Rohr

P.S. foto tirada em Varanasi, no Aarti, ritual Brahmane que acontece às márgens do Ganges todas as noites. Chorei muito na 1ª vêz que lá estive....é uma manifestação espiritual muito forte!


sábado, 21 de fevereiro de 2009

Uma jornada dura, mas com boas companhias...


Ontem foi sexta-feira de carnaval, e foi um dia bem estranho. Acordamos cedo para tentar chegar na clínica em que a bolsa da quimioterapia seria retirada. A clínica oncológica fica em Ondina e pra quem não conhece Salvador, isso significa que ela está no circuito do carnaval., que aqui em Salvador já começou na quinta-feira. Estávamos com medo de encontrar algum problema de acesso. A clínica havia nos dado um atestado que nos ajudaria a alcançá-la se isso acontecesse. Chegamos às 7h da manhã e por incrível que possa parecer, ainda encontramos pessoas que bebiam e voltavam pra casa naquela hora. As ruas ainda estavam sujas e muitos trios estacionados bem na frente da clínica. Deixamos o carro o mais próximo que conseguimos e fomos o resto a pé. Na clínica, outros pacientes chegavam pra fazer suas aplicações....muito estranho....quimioterapia.... câncer....carnaval.....bom, assim é a vida, né?

Saimos de lá aliviados, porque concluimos a 1ª aplicação da quimio.....voces não podem imaginar a sensação que nos acomete, uma sensação que dispara uma contagem regressiva....menos uma! Sabemos que haviamos colocado o pé na estrada da cura e conseguimos cumprir a 1ª etapa!! Muito boa a sensação. Daí começam as náuseas, vômitos, inapetência e tudo que acompanha colateralmente esse tratamento, mas com uma certeza de que podemos superar tudo que vier.

Descubro que não sei o que fazer com esses efeitos. Me dou conta de que quero conversar com pessoas que já passaram por isso, quero saber o que elas sentiram, o que elas fizeram, como conseguiram superar, o que fizeram com os filhos, com as questões emocionais, com os medos...o que fizeram com suas vidas durante o tratamento. Quero muito conversar com outras pessoas. Mas é carnaval! Onde encontrar pessoas que queiram falar sobre câncer? Não tenho coragem de incomodar ninguém. Lembro da internet! Tudo é possível ser encontrado na internet. Procuro sites de grupos de apoio a pacientes com câncer. Encontro alguns. Começo a me cadastrar e escrever para eles. Um deles me chama mais atenção, é um grupo que se chama Grupo Ezequiel. É um grupo de pessoas voluntárias que pensam o câncer com uma visão integralista, corpo/mente/espírito..., gosto deles, gosto porque são voluntários, fui voluntária por mais de 20 anos, sei o que motiva os voluntários, gosto disso. Escrevo, conto nossa história e envio o email.

Esperava receber alguma resposta depois do carnaval, mas me surpreendo quando 1h depois abro minha caixa de emails e lá está! Uma pessoa responsável pelo grupo, Dr. Décio Elias me respondeu. Não era uma resposta padrão, me falava em cima do que eu havia escrito. Falava dos meus filhos, da família, indicava livros e falava daquilo que é importante termos em mente durante um tratamento desses. Mas falava algo muito muito lindo...ele disse: Seu marido precisa querer a cura, mais do que o ar que respira! Não há espaço para dúvidas, esse é o momento da fé! A fé em si mesmo e a fé em Deus!

Fiquei emocionada....em pleno carnaval, consegui falar com alguém que nem conheço e que me deu tanto. Que incrível o poder da internet! Ontem descobri que quero e preciso falar com pessoas que tiveram ou estão tendo essa experiência...se alguém souber de outro alguém, por favor, pode me indicar, quero pertencer a esse rede daqueles que querem a cura e lutam por ela. O câncer é uma doença da família, é minha também e dos meus filhos e precisamos saber de tudo que venha a nos ajudar nessa jornada!

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. foto tirada na Índia, em algum templo hinduísta ou budista que visitei...velas de oferendas devocionais.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O TEMPO QUE NÃO VEMOS!!


Existe tempo pra tudo. Tempo pra pensar, tempo pra fazer, tempo pra parar.....tempo pra nada fazer. Quando "me dou" um tempo, posso perceber claramente qual é esse momento. Se reconheço isso, se entendo e aceito o que o momento pede, me entrego....respeito a sabedoria que existe na vida e, me entrego. Assim não existe sofrimento, e me parece que não existe luta.

Esse momento que vivo, é definitivamente um momento para muitas ações invisíveis e poucas, muito poucas ações visíveis. Preciso manter a minha mente lúcida, calma e tranquila, e isso é um grande trabalho, mas preciso me render, me entregar, me entregar à sabedoria do tempo.

Na manhã de hoje a quimioterapia do meu marido começou. Ele ficará até sexta de carnaval com um recipiente com drogas sendo bombeadas para sua corrente sanguínea. O recipiente é muito menor do que eu imaginava, e o bombeamento é muito mais lento do que eu esperava. Imagino que deva entrar uma gota de remédio a cada 10 mintos ou mais, porque nem percebemos ao olharmos. Confesso que fiquei ansiosa ao perceber isso. Na minha fantasia seria como um soro que rapidamente é gotejado e conseguimos ver o recipiente esvaziando.

Isso me fêz lembrar de uma escola de monges que conheci em Kathmandu, no Nepal. Os monges nessa escola aprendem a fazer pinturas de mandalas, tankas....algo de uma beleza que impressiona pelos detalhes. Comprei uma tanka linda quando lá estive pela primeira vêz. Essa tanka fica na parede atrás do tablado que uso para dar aula de yoga. Acho que a maioria dos alunos nunca parou pra olhar os detalhes que existem nessa pintura. Eu olho todos os dias, e por incrível que pareça não consigo percebê-la integralmente nos seus infinitos detalhes.

Uma vêz, lá no Nepal, fiquei parada olhando um monge pintar uma dessas tankas. Ele usava um pincel muito fino! Cada vêz que ele passava o pincel na tinta, ele o limpava antes de levá-lo à pintura. A quantidade de tinta que ía pra pintura era ínfima....Fiquei por uns 15 minutos olhando-o pintar e pra mim, no meu olhar grosseiro nada estava acontecendo! Nada estava sendo pintado...eu não conseguia ver resultados. Na minha mente ansiosa, resultados só existem por que são vistos...assim eu pensava!

Bom, os resultados eram vistos.... só que depois de muito tempo....cada pincelada que, sozinhas, me pareciam insignificantes, resultavam em pinturas impressionantes! Porém o que mais me impressionou, foi a paciencia daqueles monges....eles simplesmente ficavam ali...pincelando.....tranquilamente, sem nada ansiar, sabendo que só se fizessem desse jeito conseguiriam aquele resultado! Eles sabem e exercitam a verdade que esse tempo, esse exato segundo, é o único que existe e que somente a cada pincelada, com um pincel de apenas alguns poucos fios, eles conseguiriam produzir aquela preciosidade.

Bom.....existe tempo pra esperar, e esse pode parecer o pior de todos se, não entendermos que na verdade, não estamos esperando por nada, tudo já está acontecendo, por que esse é o único momento que existe!

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. Foto tirada na referida escola no Nepal.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O descanso enquanto caminho.....


Ontem uma aluna escreveu, falando do quanto ela foi tocada pelo blog e por minhas reflexões e que isso a levou a se expressar também. Isso tem acontecido sempre e me leva a um sentimento muito lindo de leveza e de preenchimento. Senti meu coração muito grato por receber tantas demonstrações de afeto. Adoro meus alunos, eles são lindos! Adoro meus amigos, clientes, família....todas as pessoas que me escrevem...simplesmente adoro!

Acredito no poder dos sentimentos....sei o quanto as manifestações e expressões deles tem o poder de formar uma rede, de abraçar e tocar as pessoas nas suas almas. Os sentimentos criam laços e vínculos profundos, por isso não temo expressá-los. Não temo o que eles possam produzir nas outras pessoas, muito pelo contrário...espero sinceramente afetar as pessoas. Acredito que expressar sentimentos alivia a alma e é extremamente curador, além de abrir uma porta muito sagrada, que é a porta do coração.

O nosso coração tem um poder enorme de estabelecer vínculos com outros corações a partir da expressão sincera dos sentimentos. É uma conexão que ultrapassa qualquer barreira, que vence qualquer defesa e resistência, rompe diferenças culturais, sociais, econômicas.....a linguagem do coração é universal. Toda vez que nosso coração fala, outro coração, em algum lugar, escuta. Esse campo energético simplesmente acontece....é simplesmente assim! Os corações simplesmente são atraídos....e se encontram....é um encontro que muitas vêzes é silencioso e invisível, mas sempre é nutridor e multiplicador.

Além desse poder de conexão, sinto que a expressão dos meus sentimentos autoriza outras pessoas ao mesmo. É como se as pessoas que são tocadas pelas minhas palavras se sentissem autorizadas, liberadas para o mesmo. Cria-se uma egrégora de confiança, uma sensação de pertencimento, uma rede multiplicadora de energia amorosa que une corações e almas nas dores e nas alegrias, e não nos deixa sós.

Não tenho medo de me mostrar, porque não tenho medo dos vínculos que isso possa gerar. Quero relações profundas na minha vida. Seria uma falácia se eu dissesse que não quero que gostem de mim. É bom ser querida. É muito bom, mas não preciso que gostem de mim pelo que pareço, mas sim pelo que sou, e o que sou ainda está em construção, cada dia se transforma, estará em contrução sempre, mas uma coisa já sei , aliás, tenho certeza, que o meu coração é o meu centro. Por onde tudo irá circular, de onde tudo irá partir e chegar, onde todas as relações e experiências deixarão as suas marcas. O meu coração é o centro....pulsa e dá o rítmo à minha vida.

Ontem passei muitas horas no hospital. Judson foi fazer um procedimento cirúrgico de implantação de um portcater para a aplicação da quimio que começa na quarta-feira. Portcater é um acesso venoso permanente instalado na região do pescoço, onde os medicamentos serão injetados, pra não precisar ser furado a cada quimio, e também por que dessa vêz a quimio acontecerá por 3 dias ininterruptos a cada 15 dias. A médica nos explicou que ele ficará nesses dias da quimio, com um recipiente pendurado numa bolsa com o medicamento sendo injetado por uma bomba. Segundo ela é tranquilo e até Ana Maria Braga já fez isso (eu ri com essa informação) e apareceu na tv assim. Iniciar o tratamento nos dá uma boa sensação, embora tudo isso seja muito cansativo, mas tenho a sensação que o início nos dará algum tipo de descanso, é como se colocássemos o pé na estrada e descansássemos enquanto caminhamos.

Do fundo do meu coração.....muito grata, muito grata por me proporcionarem um descanso nessa caminhada!

Namastê!

Ludmila
P.S. Foto no Templo em forma de lótus da fé Bahai em New Delhi na Índia.



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Mulheres poderosas....muita alma....muitos sentimentos...


Duas pessoas muito queridas para mim, estão vivendo momentos bem fortes em suas vidas e embora desejem, têm muita dificuldades de me procurar, dizem que é por causa do meu momento. Uma delas está muito feliz, apaixonada, vivendo um amor; ela está leve, bonita, animada e cheia de energia. Me confessou que é complicado para ela dividir comigo sua felicidade, pois sente-se egoísta, sente que meu momento é mais importante. A outra está se separando, está oscilando entre a raiva por estar sendo sacaneada pelo ex-marido e o mêdo de tantas mudanças. Sente-se mal e sozinha pra enfrentar tudo, e também acha que não devia me incomodar, pois os meus problemas são maiores.

Bom....se não consigo olhar para fora de mim, esse meu quadro daqui a pouco iria me enlouquecer. Como já disse antes aqui no blog, não me sinto especial, porque estou vivendo um momento especial. Não preciso ser poupada da vida, porque estou inundada, imersa nela; se eu não conseguir me comover com a vida, se eu não conseguir me afetar com as histórias das pessoas, que pessoa egocentrada eu seria.

Às vêzes, como já disse aqui também, tenho a sensação de que estou fora da vida, como se estivesse em outro ritmo ou outra dimensão, mas isso passa. Cada vêz que me aproximo de alguém e ouço uma história, isso me tráz de volta à realidade. Eu sempre soube que "olhar pro outro, me ajuda a reconhecer os meus limites", o outro é o meu limite, a dor do outro dá limite a minha, a alegria do outro também! e isso é fantástico, porque se não houvesse esse limite....como nos sentiriamos? sem bordo...num vazio que não ajuda a estabelecer forma, ou possibilidade.

Ouvir uma mulher apaixonada, me coloca em contato com essa porção que existe em mim...posso sentir essa energia vibrando no meu coração e por todo o meu corpo. Pedi pra ela, para não ser excluida desse seu momento, que eu estou achando lindo...e que fico muito feliz por ela. Sou uma pessoa intrínsecamente feliz, e a felicidade do outro não me assusta, nem me causa desconforto. Gosto de ver alguém feliz, e vibro por isso. Ela está irradiando luz, brilho, sexualidade, alegria, excitação....pode existir um momento tão lindo quanto esse?

Minha outra amiga, está com raiva....muita raiva, às vêzes muito medo e quase sempre, muita solidão. Ela é linda. É realmente uma mulher linda. Ela é inteligente, sensível, confiavel e boa amiga. Adoro a beleza dela. Acho que muitas mulheres podem ter problemas com ela, por ser tão linda e inteligente, e num momento como esse, ela esquece de quem ela é. Ela se vê sempre frágil, sozinha, sem recursos internos, com medo...ela vive um momento meio negro...sem conseguir olhar pra frente, se acha sem saída, sem possibilidades, com medo de ser uma fracasso....Digo pra ela que isso é impossível. Ela não será uma fracassada, só por que algumas coisas estão fracassando....., ela conversa comigo, mas também se sente mal em me incomodar.

Adoro essas duas pessoas e sinto que jamais estaria fechada para elas...aliás sinto que sempre que me coloco diante da dimensão humana, me sinto tão mais inteira, sem mais, nem menos; do meu tamanho. O sentimento do outro faz com que a minha dor, ganhe um tamanho e uma forma, não fique difusa, espalhada pela minha vida. Tem um lugar na minha vida, mas não é minha vida. Elas são poderosas, apesar de viverem momentos opostos, são mulheres poderosas, por poderem se entregar aos seus sentimentos, por não temerem suas próprias almas. Adoro isso!

Quanto mais mergulho nos meus sentimentos, mais próxima de todos que sentem eu conseguirei estar. Certamente seria difícil ouvir qualquer pessoa com suas histórias de alma, se eu estivesse tentando fugir da minha. Se eu tivesse tentando negar a minha alma, eu não suportaria alguém na minha vida que me levasse ao encontro dela.

Deméter é uma Deusa grega cujo nome significa, "porta de entrada para o feminino Misterioso". Ela sempre ilumina os nossos caminhos pelos labirintos das emoções e dos sentimentos. É uma linda Deusa que certamente vai nos ajudar a entrar nesses labirintos e honestamente olhar para os nossos sentimentos...sem negá-los e vivenciando cada um deles.

Então, obrigada minhas queridas, por me incluirem e me deixarem participar das suas vidas e dos seus corações.

Namastê!
Ludmila Rohr
P.S. na ilustração...Deméter...linda, poderosa e com o peito (alma) exposta!


sábado, 14 de fevereiro de 2009

Multiplico quando compartilho?


Uma amiga me perguntou o porquê de eu estar me expondo tanto nesse momento da minha vida. A princípio não entendi bem o sentido da pergunta, porque me parece óbvio que escrever me organiza. Quando era criança, eu tinha diários e mais diários, escrevia cartas e mais cartas para os amigos...adorava escrever sobre o que estava sentindo ou pensando. Talvez ela esteja querendo saber por que faço isso agora em um blog, onde muitas pessoas terão acesso, e pessoas que nem conheço. Vou tentar entender enquanto escrevo e quem sabe eu consiga respondê-la.

Desde 1988 dou aulas de yoga, e nesse tempo era costume que em toda aula prática tratássemos de algum tema teórico do yoga. Hoje fazemos isso apenas uma vêz por mês, mas lembrando bem, sempre me coloquei de forma muito evidente nessas aulas e palestras. Sempre coloco minhas histórias, meus sentimentos e minhas idéias. Nunca me escondi, nem evitei exposição, e sempre me impliquei nas coisas. Não consigo ser simplesmente teórica, acabo contando casos e exemplificando, e só posso fazer isso, com minhas histórias. Então, essa exposição que minha amiga questiona não é uma novidade na minha vida.

Nas viagens pra Índia sempre fiz diários. Contava detalhes dos lugares, mas acima de tudo, falava dos meus sentimentos, do que a Índia provocava em mim, e de como era a interação com as pessoas. Esses diários eram (e ainda são) lidos por muitas pessoas que nos acompanhavam nessa aventura. De vêz em quando alguém me escreve dizendo que leu os diários e ficou cheio de encantamento. Eles estão disponíveis no site do Espaço Mahatma Gandhi.

Sou assim....não sei como responder a questão da minha amiga, a não ser dizendo que isso funciona para mim. Eu fico mais inteira. Não sei se funcionaria para todas as pessoas, mas em mim, produz um bem enorme. Com certeza é uma forma de meditação, e com mais certeza ainda posso afirmar que consigo algumas coisas muito boas com isso, para mim e para outras pessoas.

Uma delas é que nunca me sinto só com os meus pensamentos, estou compartilhando, trocando, e isso me enriquece, pois abro o leque, saio do meu umbigo, e a consequencia imediata disso é que ajudo e sou ajudada. Algumas pessoas adoram ler o que escrevo e sentem-se animadas, identificadas e outras pessoas, me ajudam...escrevem pra mim, me dão força, desejam coisas boas e enviam vibrações positivas. Adoro isso!!

O I ching (oráculo chinês) me disse hoje que quem compartilha, multiplica! Acredito nisso! Compartilhando, dando, ou seja, abrindo minhas histórias e sentimentos...estou multiplicando, e sem problema nenhum com minha vaidade, acho que tenho muito o que multiplicar e compartilhar. Por que sempre me sinto muito rica! Essa é uma sensação que me sustenta, sempre acho que tenho muito pra dar....mesmo nos momentos mais dolorosos, acho que tenho muito pra dar. Dificilmente tenho a sensação de ser uma pessoa pobre ou com pouco pra dar e me sinto generosa e aberta.

Buda conta em uma das suas histórias, que um "intocável" na Índia pede esmola pra ele, era uma pessoa absolutamente pobre, e acostumada a pedir esmolas. Ele achava que não tinha nada e simplesmente pedia. Nesse dia que encontrou com Buda, fez muitas reverencias e pediu. Buda não deu e disse: Você é quem terá que me dar algo! Mas eu não tenho nada, disse o pobre homem! Buda diz: tem, encontre e me dê! O pobre homem que sentia que não tinha nada, vasculha suas roupas, que eram trapos e encontra um grão de arroz. Era a única coisa que tinha! Olha pra Buda e lhe oferece seu único grão de arroz, que eram todas as suas posses! Naquele momento, o homem alcança a iluminação!

É dando que se recebe! Jesus ensina. Acredito nisso. Realmente acredito que quanto mais damos sem esperar retribuição, simplesmente damos, porque é muito bom dar, compartilhar, mais nos sentimos ricos, plenos.

Bom...muito distante e ao mesmo muito perto de Buda e de Jesus, porque adoro as retribuições e confesso que as aguardo com o coração aberto, me sinto bem quando escrevo, porque acho que estou dando aquilo que tenho de mais precioso, que são as minhas meditações e os meus sentimentos!

Espero minha amiga, que eu tenha conseguido responder sua pergunta...

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. foto de bandeiras de orações em um templo Budista no Nepal. Eles penduram orações em forma de bandeirolas para que o vento as multiplique e as leve para todos os lugares.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Começando o tratamento....


Hoje foi um dia longo..... consulta com médicos para determinar como será a quimioterapia. No outro câncer, tudo foi feito em SP, radio, quimio...consultas, dessa vêz tudo mudou; cirurgia em SP e quimio aqui em Salvador. Gostei da médica que o acompanhará aqui, apesar de estar acostumada com os de SP, acho que ela foi ressonante com o nosso sofrimento. Tenho a tendência a pensar que é coisa de baiano, embora ao escrever isso, me sinta injusta com a forma maravilhosa que fomos tratados em SP, mas aqui, eu estou em casa, acho que isso faz diferença.

Enquanto aguardava na sala de espera, olhava as pessoas; fazia isso no ano passado em SP também. Nas salas de espera de quimio e radio vi minhas fantasias a respeito de pacientes oncológicos serem reafirmadas e completamente transformadas também. Conheci em SP , durante o tratamento do primeiro câncer, o paciente oncológico das minhas piores fantasias e das melhores também. Vi pessoas com raiva, com medo, sentindo-se sozinhas...vi velhos, adolescentes.... e vi pessoas guerreiras, esperançosas e corajosas.

Essa experiencia de ser acompanhante de paciente de câncer é muito forte. Eu estou lá com o meu marido, e as vêzes penso que não pertenço àquele lugar... ainda acho que ele é diferente, que a doença dele é diferente, que com a gente a história é diferente. Bobagem....ali, somos iguais....todos estão ou enfrentando uma doença que ninguém gostaria de enfrentar na vida, ou estamos sofrendo porque alguém querido nosso está fazendo isso. Nossos medos são os mesmos. Temos medo do sofrimento e da morte. Eu tenho.

Olho as pessoas e vejo que algumas mulheres usam perucas, outras usam chapéus e ainda há aquelas que exibem naturalmente a cabeça careca. Elas têm todas as idades, são mães, avós e filhas, são amigas de alguém. Os homens mostram a careca. Tudo bem, eles podem fazer isso sem chamar atenção.

Meu marido iniciará um tratamento de seis mêses de quimio. Nesse momento, as estatíticas são favoraveis a ele. A médica olha pra mim e diz solidária: Muitas mudanças, né? e eu choro....eu simplesmente choro, porque de fato são muitas mudanças, são mudanças incomensuráveis, são mudanças que ainda nem me dei conta....tudo mudou, nada está do mesmo jeito. Minha percepção das coisas mudou, as prioridades mudaram, a noção de tempo mudou, a relação com a comida, com o ar que respiro, com minhas crenças e até com a minha prática espiritual...tudo mudou....é como se de repente o chão debaixo dos meus pés ficasse o tempo inteiro em movimento. Acho que em algum momento poderei me acostumar a isso, mas por enquanto.... sinto medo.

O mais incrível é se deparar com a ilusão de que pensávamos, antes da doença, que tínhamos algum controle sobre alguma coisa. De fato, nunca tivemos controle sobre nada, a única coisa que podemos exercitar algum controle, é sobre a nossa mente, e isso muda tudo. Se controlo os meus pensamentos, posso manter a noção de realidade.

No caminho do yoga, nos ensinamentos Vedantas e no Budismo, aprendemos a não nos identificarmos com os fenômenos e, isso é libertador, pois se não me identifico com o câncer, apesar de não negá-lo (muito pelo contrário), olho pro meu marido e vejo nele, o mesmo homem de sempre, o homem que é justo, batalhador, pais dos meus filhos, lindo e que me ama muito....isso não mudou...isso é o que ele é. O que muda, é que esse homem, agora tem diante dele uma batalha pela vida, e terá que enfrentá-la com as mesmas virtudes que viveu até agora e outras tantas que ele terá que descobrir que já existiam dentro dele e que agora precisam ser reveladas.

Sinceramente acredito que temos em nós tudo aquilo que precisamos pra enfrentar nossos desafios. Se em algum momento não sentimos assim é porque nos afastamos daquilo que realmente somos. E nós...além de sermos abençoados com o melhor tratamento possível, temos ainda uma família linda e amigos, muitos amigos que rezam, oram e vibram por nós!

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. obrigada a todas as pessoas que me mandam emails. e vibram por nós...vcs não têm idéias de como isso nos alimenta.


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Impermanência...Shiva e Kali...fazendo tudo passar...


A vida é realmente interessante! Várias rodas, giram ao mesmo tempo...Ontem enterramos o nosso Simba, ele estava bem velhinho, Caio e Lucas o levaram à clínica para ser sacrificado...não havia mais o que esperar...era a hora dele......Meus filhos voltaram dessa situação completamente devastados, choraram muito....Caio que tem mais facilidade em demonstrar os sentimentos simplesmente deixava as lágrimas soltas...estávamos todos muito tristes....mas sabiamos que o nosso Simbica tinha vivido uma vida muito linda...e que a partir dalí não seria mais ele.

As coisas tem o seu tempo certo....isso é uma verdade....entender a Impermanência é compreender a própria vida! Quando estudei no Budismo sobre a Impermanência, senti que estava tendo acesso a algo que transformaria a minha vida. Buda ensina que tudo tem seu tempo, que tudo absolutamente tudo passa. Não adianta nos apegarmos às paixões, porque elas vão passar, e quando algo está nos causando dor, também isso vai passar. Tudo cumpre o seu tempo, e querer prolongar o tempo de algo que já morreu, é causar dor desnecessária.

Os filhos crescem, e temos que vê-los como adultos...aquelas crianças não existem mais. Os amigos de um momento podem não ser de outro, e outras pessoas podem surgir. Amores aparecem e trazem um alimento, mas se o ciclo encerra e insistimos em manter algo que não mais existe, ou se não conseguimos perceber que aquilo ou aquela pessoa já não é mais a mesma, e cegamente continuamos e nos relacionar como se fosse, algo começa a se deteriorar.

A vida muda....mas a Lei da Impermanencia não. Tudo é impermanente.....absolutamente tudo. O que não é impermanente é a manifestação da vida, em todas as suas formas....a vida é permanente.

No hinduísmo a impermanência é representada pelo Deus Shiva que é o Deus da morte, da transformação, aquele que ceifa, que diz que o tempo acabou, sua manifestação feminina é a Deusa kali, que destroi para purificar.....e nos ensina que esse aspecto (destruição/purificação), por mais que nos assustem, garantem a própria vida...garantem o ciclo interminável e permanente da vida! Essa sim, permanente, não em forma, mas em essência!

Ganhei de presente da minha amiga Rosa uma agenda que na capa tem escrito, " Tudo o que é bom, dura o tempo necessário para ser inesquecível...". É verdade...porque se nos apegamos tentando fazer com que algo dure mais do que o necessário, geraremos muito sofrimento na nossa vida. Buda ensina que apego e aversão são faces de uma mesma atitude. Nos apegamos muito a algo que julgamos prazeroso e queremos a todo custo que aquilo continue em nossas vidas, não conseguimos abrir mão quando chega a hora, e nem conseguimos perceber quando aquilo que amávamos tanto, nem existe mais. Por outro lado, a aversão produz algo semelhante com as situações e pessoas desagradáveis. Por estarmos tão reativos, evitamos algo, ou fugimos e, dessa forma nos mantemos ligados, nos esforçando para não encarar algo que se tivéssemos vivido simplesmente, provavelmente já teria passado. Dessa forma arrastamos alguns sofrimentos por um tempo além do necessário em nossas vidas.

O Budismo e o Yoga falam que a saida para isso é a contemplação. Nem apego, nem aversão...contemplação. A pergunta básica é: O que isso quer me ensinar? O que essa dor quer me ensinar? O que esse prazer quer me ensinar? Se respondemos essa pergunta e de fato aprendemos com aquilo....essa história chega ao fim. Esse ciclo gira, e (psicologizando) essa gestalt se fecha.

Essa atitude contemplativa não nos tornará pessoas insensíveis, que não se afetam com as dores e prazeres, mas certamente nos ajudará a não estarmos tão identificados com as situações. tão apegados a elas, na tentativa vã e inútil de parar a vida, impedindo que as rodas girem e que novas experiências aconteçam.

Os meus filhotinhos lindos cresceram...por mais que eu quisesse que o tempo em algum momento parasse e eles continuassem a me achar a melhor e a mais linda mãe do mundo! Esse tempo passou. Meu cachorro morreu....o tempo dele passou...e a dor que sinto hoje, também vai passar, deixará uma lembrança, mas vai passar. Judson está melhorando, e isso que estamos vivendo agora vai passar....viveremos outras histórias, mas "essa" vai passar.

O grande aprendizado é: " A cada dia, o seu bem e o seu mal". Basta isso....viver uma dia após o outro com intensidade e verdade....contemplando, aprendendo, conhecendo...desapegando....e amando, amando muito o que realmente existe....e o que existe é o exato momento que vivemos...um segundo atrás não existe mais, um segundo à frente ainda não existe....

Bom....Simba existe em nossas lembranças e em fotos, mas a sua energia continua a existir nesse momento na natureza...aquilo que de fato ele foi...continua existindo....nada se perde, tudo se transforma e a vida continua....

Namastê

Ludmila Rohr
P.S. Fotos de Caio e Lucas (quando me achavam a melhor mãe do mundo...rsrsrsr) com Simba!!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O Rei Leão se despedindo....


Ontem acordei estranha....a vida continuando....trabalho, pessoas, compromissos e, os amigos que sentiram que eu não estava bem ontem, ou que leram o blog, me ligando. Uma pessoa me disse: Voce precisa se cuidar. Apesar de sentir que estou me cuidando, tive que refletir sobre essa recomendação, pois não me sentia nos melhores dias. Estava triste, mas não estava mal...apenas triste, e como uma convalescente, precisando ficar quieta. Ouvi a recomendação. Não escrevi no blog ontem, fiquei quieta, calada e, à noite, dei aula de yoga, que amo muito, e em casa, chorei um choro que simplesmente vinha, como se aquelas lágrimas, simplesmente quisessem sair....lavando algo...levando algo....


Uma coisa ficou muito clara pra mim hoje de manhã quando acordei ao lado do meu marido. Sinto muita falta dele. Sinto falta de abraçá-lo, sinto falta do contato físico. Meu corpo e minha alma sentem essa falta. Ontem na minha tristeza ou estranheza, eu precisava simplesmente abraçá-lo, sentir seu corpo colado ao meu, mas isso nesse momento é impossível. Temos uma cicatriz imensa entre nós dois...uma cicatriz que está no corpo dele e atravessa de leste a oeste o seu abdomem. Cada dia que passa, ela está melhor, por que o tempo faz isso...o tempo passa...e as coisas vão acontecendo....as coisas vão cicatrizando.....


Eu também estou cicatrizando....mas tem um tempo pra isso. Minha aura ontem tinha um buraco...sentia falta do meu companheiro, do meu amor. Sentia falta do contato, de ficar juntinho, quietinho, mas juntinho. Ele me ofereceu o ombro, eu recebi, mas queria mais, muito mais. Sempre quero muito. Nossas áuras caminham juntas há muito tempo.


Nesse momento preciso estar conectada a muitas virtudes da minha alma, e uma delas é a paciência. É preciso ter paciência pra aceitar o ritmo das águas que correm independente das nossas vontades. É preciso ter paciência, fé e gratidão. É preciso estar recolhido para lamber as feridas, mas nem tanto, para não nos transformarmos em pessoas fechadas em suas dores, pessoas que não conseguem olhar para os lados, pessoas que se incomodam com a alegria alheia.
É preciso reconhecer que o que existe no mundo e, que é meu também. Assim como quando estamos alegres não podemos fechar egoísticamente os olhos para as dores do mundo; ao estarmos tristes, não podemos excluir as alegrias e expressões de excitação que existem e que sempre existirão, para nos lembrar o quanto a vida é cíclica, dinâmica e que não para...sempre anda.....Não posso cobrar paciência das pessoas, mas eu preciso ter paciência comigo e respeitar os meus limites...


Quero contar hoje pra voces, sobre Simba. Ele é um cachorro poodle, que nasceu pra nossa família 16 anos atrás, ou seja, ele agora é um senhor idoso, muito idoso...e ele está morrendo... está cego, não anda mais e esses dias parou de comer....ontem à noite quando cheguei em casa, Caio veio me falar assustado que acha que chegou a hora de Simba ir, e sinto que é verdade. Seu nome foi dado em homenagem a Simba, O Rei Leão, desenho da Disney, da época e ele realmente era um guerreiro, valente...nos defendia (apesar de ser um poodle). Acho que ele nunca entendeu que era um poodle, ele se achava algo maior como um dobermam, ou algo assim...Quando Caio e Lucas moraram nos EUA, Simba enlouqueceu de saudade, fazia xixi no quarto dos meninos, ficava por lá...Ele hoje, nem de longe lembra o nosso "Simba", é um velhinho que viveu muito bem, correu livre tudo que pôde (sempre moramos em casa com quintal), teve muitas namoradas, defendeu a nossa casa de todos que passavam diante dela...e nos amou muito....mas agora teremos que ajudá-lo a ir embora, sem dor, sem grandes sofrimentos para ele.

Só de escrever sobre isso choro muito....não vai ser fácil me despedir de Simba, ele viveu tantas coisas conosco e agora não deveria simplesmente desaparecer, mas o ciclo dele está se concluindo, e como Judson me lembrou ontem...ele foi muito, muito feliz... Acho que se ele pudesse avaliar a sua vida, ele diria que não se arrepende de nada e que viveu tudo que tinha que viver... Um dia, quem sabe eu consiga escrever algumas histórias sobre ele pra que voces o conheçam, mas sem dúvida nenhuma, ele jamais será esquecido por nós....Nesse momento sinto uma dor em pensar que ele esteja se sentindo sozinho, que ele pense que nos esquecemos dele, ou que queremos nos livrar dele...Acho que a casa não será mais a mesma sem Simba, e Zack ,nosso outro poodle idoso, vai sofrer muito com sua partida...eles eram inseparáveis e pareciam siamêses quando corriam sempre juntos...Já a algum tempo Zack não tem seu companheiro de corridas e acho que hoje, ele o perderá pra sempre.

Hora de despedida...ciclos que se fecham....perdas que deixam marcas e lágrimas que lavam a alma....

Namastê!

Ludmila Rohr

P.S. Esse é um símbolo do Budismo Tibetando...o Nó da Eternidade...ele nos fala sobre esse giro que transforma, mas que nos mantém sempre no ambiente da criação....tudo que um dia foi criado...de fato, gira nesse ciclo da eternidade. Nada de fato desaparece!




domingo, 8 de fevereiro de 2009

A Lua quase cheia....


Hoje teve um almoço aqui em casa. Quisemos comemorar o aniversário de Caio. Nessa época do ano sempre tenho estado na Índia e, no ano passado Caio me perguntou se em algum ano dali pra frente, ele teria um aniversário com toda a família? Bom, estamos juntos esse ano, porque não comemorar?

Estive estranha durante a festa, me sentia estranha, parecia estar em outra velocidade, ou outra dimensão. A sensação é de que as pessoas eram estranhas, mas na verdade, eu estava. Tudo estava.

Uma pergunta vem em forma de sensação. O que está acontecendo? Judson está se recuperando, mas parece que eu vivo uma espécie de ressaca. Uma ressaca da dor que vivemos. Os dias passam, as pessoas falam, as coisas acontecem, mas parece que algo em mim parou em algum lugar ou tempo, e que tenta voltar mas ainda não consegue.

Os índios norte-americanos diziam que depois de uma viagem deviamos ficar quietos, esperando a alma voltar. Eles diziam que, o corpo chega, mas a alma leva algum tempo pra chegar. É assim que me sinto. Parece que meu corpo chegou aqui na vida de todo dia, mas minha alma tá chegando aos poucos.

A viagem que fiz à caverna que existe dentro de mim (falei outro dia sobre isso), ainda repercute....parece que em alguns momentos estou inteira....em outros não. Hoje não.

Não tenho dúvidas sobre a minha capacidade de recuperação. Sou realmente uma pessoa resiliente. Me recupero, e tenho me recuperado. Sinto esse descompasso com o ambiente externo em alguns momentos e aí, fico esperando...me dou um tempo....tento não me deixar afetar pelas cobranças....e tranquilamente, no tempo que minha alma quer, no tempo que é possível para o meu coração...vou voltando....

Hoje foi um dia estranho.... no céu, uma lua quase cheia... e eu, quase aqui....

Namastê!

Ludmila Rohr


sábado, 7 de fevereiro de 2009

Por um! Ficar triste ou feliz?


Estamos vivendo uma situação inusitada aqui na minha família. Lucas é o meu filho de 18 anos, ele estudou o último ano do colégio nos EUA, voltou pro Brasil e entrou em contato com uma questão própria dessa fase da vida. Vestibular! A questão basicamente era o que fazer? Ele nunca antes havia falado sobre seus interesses e começou a pensar em Economia...tenho dois irmãos economistas, então, não estranhei. Mas uma dia ele me fez a seguinte pergunta: Mãe, eu devo fazer o que vai dar certo, ou o que for do coração? Bom...achei que uma pergunta tão linda como essa deveria ter uma resposta mais elaborada, mas confesso que fiquei com medo de saber o que estava passando pela cabeça dele. Uau! o que esse menino está pensando em fazer?

Acho que a principio me comportei como uma mãe clássica preocupada, mas em seguida respondi: Meu filho, só vai dar certo se for do coração! e fiz a pergunta temida: O que vc está pensando em fazer que é do coração? Ele responde: História. Ponderei por alguns instantes sobre a realidade de um historiador no Brasil, até que ele me disse: Não me incomodo de passar a vida estudando história! E é verdade! sei disso. Lucas gosta de História desde criança. Ele lê e se interessa por tudo que tenha esse conteúdo. Não podia discordar dele. Impus uma condição: Se quer fazer história, terá que ser na Federal! Ele topou, embora soubesse que teria que correr atrás de um prejuízo já que ele não havia feito os dois últimos anos do colégio aqui no Brasil.

Lucas estudou animado em um cursinho. Passou na 1ª fase e comemoramos, estudou mais ainda pra 2ª, mas perdeu! Na lista dos 50 classificados não estava o nome dele! Ficamos tristes por ele, e ele, ficou determinado a fazer outro vestibular pra História, parece que é realmente o que ele quer.

Tudo ía assim...até que uma cliente me perguntou qual havia sido a classificação dele. Não sabíamos. Nem tivemos a curiosidade de olhar. Fomos olhar e descobrimos que Lucas ficou em 51º lugar, ou seja de 50 vagas ele está em 51º. O que sentir nessa hora? Essa é a minha reflexão de hoje.

Tem coisas na nossa vida que nos causam emoções bem claras, em algum momento sentimos raiva, em outros medo, tristeza, alegria, excitação. Mas nessa situação parece que ele oscila em acreditar que alguém não vai se matricular e a vaga será dele, e então essa história será de muita felicidade; ou que ele não entrou por causa de uma vírgula no lugar errado na redação, ou porque a pessoa que corrigiu a sua prova podia estar de mau humor, é impossível não pensar também que algum cotistas, talvez tenha feito menos pontos que ele (embora aqui não exista nenhuma posição com relação a esse tema), não entrar por uma colocação, nos leva a pensar que ter sabido da posição de classificação será muito chato.

Essas situações me lembra um dito popular: "O que é do homem, o bicho não come", se a vaga tiver que ser dele será, mas por enquanto não é, pelo simples fato de que ele não ficou entre os 50. Pra isso ter ficado em 80º lugar ou em 51º lugar dá no mesmo. Ele perdeu, os 50 melhores entraram, e é preciso respirar tranquilo nessa situação, por que essas 50 pessoas que passaram devem estar felizes e merecem tanto quanto ele.

E a expectativa? O que fazer com ela? Não dá pra fazer de conta que a chance de entrar não existe e que uma ansiedade nasce disso. É um fato. Acho que ele pode entrar, e se isso acontecer iremos celebrar muito! Adoramos celebrar! mas....nesse momento, a realidade é clara, ele e todos nós temos que aceitá-la.

A realidade às vêzes é assim, parece estranha, bizarra....mas, como escrevi antes nesse blog, "Não somos especiais", Lucas não é especial, apesar de ser meu filho amado, os outros 50 devem ter mães corujas assim como eu sou. Não há nada especial em ganhar ou perder, tudo isso faz parte de uma coisa muito maior que é a vida. Quando os meninos eram pequenos, eu pensava que não podia e não devia, protegê-los das frustrações próprias da vida, porque eu acredito que elas nos constroem, nos tornam mais fortes.

Bom....se isso for uma frustração, não será a única na vida dele, e ele não sucumbirá por causa dela e, certamente poderá crescer com isso, talvêz ele aprenda a dar mais valor a cada vírgula, a cada segundo, talvêz ele aprenda ser mais atento e a valorizar muito mais as coisas e a vida! Isso é o que a mãe profunda pensa, mas como uma mãe clássica, tenho que confessar que estou torcendo pra que alguém desista por que passou em um curso melhor, ou porque descobriu que não é isso que queria, e que abram uma segunda lista e que ele entre naquilo que ele tanto deseja.

Namastê!

Ludmila Rohr

P.S. Foto: Eu e Lucas andando de elefante em Jaipur na Índia!!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Se eu posso isso, posso qualquer coisa!


Vinte e um anos atrás, nesse exato momento que escrevo, eu estava parindo o meu primeiro filho e começando a viver a maior e mais incrível experiência da minha vida. Caio nasceu antes do tempo previsto, mas nasceu com 4kg, era um bebê enorme, gordo e eu o achava lindo, perfeito....ele era tudo! Era como se de repente nada mais no mundo tivesse importancia, eu só olhava pra ele, eu vivia pra ele...eu acompanhava com o olhar e com o coração cada movimento mínimo que ele fazia, cada ruido que ele produzia...eu estava completamente apaixonada e assustada com o tamanho daquela experiencia....eu acabava de completar 24 anos e tinha um bebê e, era pra toda a vida! Meu Deus! Como voltar a vida normal agora que Caio tinha chegado?

Bom....pra quem não conhece Caio..., preciso dizer que ele sobreviveu a esse excesso de mãe. Ele é um homem lindo e como já falei antes, um cara muito legal. Ele é um bom amigo e penso que um bom namorado também! E preciso dizer que eu também sobrevivi à maternidade. Consegui com o passar do tempo voltar a ser uma pessoa, uma amiga, uma profissional, uma colega... alguém com muitos interesses pessoais, consegui voltar a ser um indivíduo além da maternidade. Embora entendo que não passamos incólumes por essa experiência.

Normalmente acho um saco o discurso de mulheres que afirmam que a experiência da maternidade é algo mágico ou insubstituível, porque apesar de ser completamente apaixonada pelos meus filhos, eu nunca fui muito uma mãe estilo Deméter (Deusa grega da maternidade), eu sempre fui uma mãe Athena ou Árthemis...sempre valorizei a autonomia e independência deles, (discurso de uma mãe Athena) porém tenho que concordar, em parte, com a descrição fantástica dessa experiência.

A experiência de parir (normal) foi demarcadora na minha vida. A conexão que fiz com minha natureza animal foi algo que nunca antes havia experimentado com tamanha intensidade. Adorei parir. Senti uma força tão grande que vinha dentro de mim, que nunca consegui esquecer. Ao contrário do que muitas mulheres fazem, me entreguei a essa força e senti que isso era eu. Eu era forte assim! A primeira frase que disse quando Caio nasceu foi: Se eu sou soubesse que era isso, tinha uma filho por ano!; e a segunda frase foi: Se eu posso isso, posso qualquer coisa!

Bom....adorei parir, mas não tive um filho por ano, minha insanidade foi temporária, meu juízo voltou aos poucos, a medida que as noites passavam sem que conseguisse pregar o olho! Mas...a conexão que fiz com meu poder, essa não desapareceu. Sei que não posso tudo! Mas sei que posso muito! A experiência de conexão com esse aspecto animal, vísceral, que faz força, muita força e ajuda um filho a nascer, a vir ao mundo...essa eu não perdi.

Infelizmente as mulheres estão cada vêz menos querendo parir, elas têm medo dessa força e resistem a ela. Quando algo que vem com tanta força sofre resistência, a dor aparece. Não me lembro de sentir dor. Lembro de fazer força. Lembro que quanto mais força eu fazia, mais forte eu me sentia, e eu podia mais, cada vez mais...

Muitas mulheres não conseguiram ser mães, ou não quiseram viver essa experiência. Como não sou uma mãe tipo Deméter, acho isso completamente possível. Não acho que sou mais feliz ou plena, do que elas. O amor que sinto por meus filhos, é o amor que todos nós podemos exercitar....podemos viver esse sentimento de várias formas na nossa vida, mas a experiência de parir, essa eu acredito ser insubstituível...talvêz escalar o Everest, ou soltar de paraquedas...produzam uma sensação corporal semelhante...sei lá! e quando escrevo isso dou risada de mim mesma, pois esse é uma comparação típica de uma mãe Ártemis. Amei a experiência corporal de parir...sentir algo tão forte como as contrações de um parto, e além de sentir isso, poder me entregar a essa força.

Caio veio ao mundo em 88 e, de lá pra cá sou mais forte e mais feliz!
Obrigado meu filho!

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. Foto de Caio em Khajuraho na Índia em 2007!


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Yoga....o meu caminho!


Ontem foi meu primeiro dia em Salvador depois que retornamos de SP. Adoro isso aqui! mas na verdade, o que gosto mesmo é de tudo que faço. Adoro meu trabalho. Adoro minha rotina, sou uma pessoa que adora acordar e saber que terei o meu dia diante de mim.

Ontem dei minha primeira aula de yoga desde que me despedi dos alunos avisando que iria pra SP acompanhar meu marido. E eu quero muito falar sobre isso. Comecei a fazer yoga com 16 anos, (tenho 45 agora). Eu já era apaixonada pelo yoga, mesmo sem conhecer, dizia que queria fazer yoga, mesmo sem saber do que se tratava. O Yoga entrou na minha vida e nunca mais saiu. Praticava muito, estudava muito (muito mais que hoje), lia os textos sagrados, fazia praticas duas vêzes ao dia, meditações diárias...enfim, mergulhei com meu corpo e minha alma nesse universo que trouxe sentido a minha existência.

A Hatha-yoga me colocou diante da possibilidade de um corpo saudável..um corpo feliz. E de fato, tenho uma relação muito boa com meu corpo, ele me dá prazer, não tenho histórias na minha vida de dores no meu corpo. Claro que já fiquei doente e certamente ainda ficarei, mas meu corpo, produz muito mais prazer do que dor. Ele é um lugar muito agradável de se morar. Vejo pessoas reclamando de dores, pessoas saudáveis, inclusive que malham, que correm...eu normalmente não tenho dores....acho realmente que o meu corpo tem sido um bom lugar para morar.

Quando descobri a respiração, descobri o prazer simples de respirar, e o quanto a respiração me conectava com o meu corpo, mas o quanto que através da respiração eu conseguia alterar meus estados mentais. A respiração se tornou o meu grande remédio e companheira. Respiro conscientemente em todas as situações que preciso estar mais inteira, mais forte, mais calma, mais centrada....mais aberta....a respiração me leva pra dentro de mim, a lugares profundos, mas também me coloca aberta para o mundo, para as pessoas...sou muito grata ao yoga, por ter me apresentado esse instrumento valioso.

Bom...ontem reencontrei meus alunos....voltei pra minha sala de aula... e comprovo o quanto amo o que faço...o quanto o yoga me faz bem. A prática corporal do yoga organiza o meu corpo, me sinto leve e feliz, mas enche o meu coração de muito amor....é...sinto um amor imenso quando pratico yoga, sinto que sou uma pessoa melhor (do que de fato sou), me conecto com aquilo que é sagrado em mim...e fico muito feliz!

O outro lado lindo do yoga são os alunos, eu sou muito apaixonada por eles...vejo a busca, a confrontação com as dificuldades, os corpos que aos poucos vão desenferrujando, a felicidade em conseguir fazer algo que não conseguiam antes, uns são fiés, persistentes, permanecem anos após anos, já incluiram o yoga em suas vidas, outros são flutuantes, vem e vão, somem e novamente aparecem....mesmo assim os adoro, fico imensamente feliz quanto vejo um ex-aluno retornar!

Ontem dei minha primeira aula de yoga depois que retornei e quero hoje agradecer aos alunos que lá estavam. Obrigado...obrigado por me acompanharem nessa viagem de auto-organização, nesse processo de nutrição da minha alma. E o melhor de tudo isso, é me dar conta de que esse é o meu trabalho!!!! Sou tão grata a vida, porque penso que sou uma pessoa abençoada, que pode trabalhar com aquilo não só que ama, mas com aquilo que cuida de mim, que me faz uma pessoa melhor, que me alimenta....

Uma vêz um professor de psicologia me falou que iria chegar a hora em que eu teria que escolher entre a psicologia e o yoga, eu achei aquele comentário meio bobo, por que em nenhum momento uma prática concorre com a outra, muito pelo contrário. O fato de ser prof de yoga sempre me fez uma terapeuta melhor. O fato de meditar e cuidar de mim e dos meus alunos em vários níveis, sempre me possibilitou uma visão mais ampla da psicologia. Amo tudo que faço, amo a psicologia, o consultório, mas o yoga é a minha vida. Se esse professor tivesse razão, se eu tivesse que escolher, a escolha já estava feita, pois o yoga com certeza foi escolhido pelo meu espírito milênios atrás. Nessa vida eu só o reencontrei!

Namastê!

Ludmila Rohr


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Buda...Mahatma...fazer o que deve ser feito!


Muitos amigos escrevem querendo notícias de Judson, outros escrevem nos enviando dicas de livros legais pra ler, outros ainda nos mandam receitas de ervas e chás..etc.. Acho isso tão lindo! Criei uma pasta com essas informações, todas as dicas e livros... e vou passando pra ele...ele vai escolhendo. Nesse momento ele lê um livro chamado "Anticancer", e está gostando muito. Disse que esse livro vai ajudá-lo a mudar a alimentação e alguns hábitos e atitudes. Fico feliz.
Acredito do poder da nossa mente e da respiração. Sou uma professora de yoga, e realmente tenho essa experiencia. Poderia escrever muito sobre experiencias com a respiração e a meditação. Na verdade não está certo dizer que acredito nessas coisas, "Eu Sei". Uma vez perguntaram a Jung se ele acreditava em Deus, ele respondeu: "Eu não acredito, eu sei". Bom, eu sei do poder da meditação e da respiração.
Digo a Judson que o momento de tomar os remédios ou a quimio, é o momento de grandes meditações. Que ele deve visualizar esses medicamentos, sem rejeitá-los, entrando no seu corpo como energias luminosas e se espalhanso felizes por cada uma das suas células, e que essas células recebem abertas essa energia generosa que vem dos medicamentos; Digo pra ele que quando faz a inalação, que ele deve respirar aquele medicamento como se respirasse o sopro de Deus. que Deus está soprando em suas narinas algo muito sagrado que está entrando nos seus pulmões e curando-o; que a quimio quando goteja nas suas veias deve ser recebida como quem recebe uma seiva generosa e cheia de amor e energia curadora. Digo pra ele que a atitude mental dele pode dar um colorido todo especial a tudo que os médicos fazem. Que receber um remédio achando que é divino, faz uma diferença enorme de recebê-lo rejeitando-os, ou vendo-os como veneno.
Ne verdade essa atitude mental é a diferença na vida! A vida que temos é essa! Como disse ontem, não somos especiais, somos pessoas que vivem uma vida igual a de muitas outras pessoas, mas quando nos rendemos ao sagrado, a nossa vida fica muito especial. Nunca tive muita atração para o mágico, por isso mesmo me identifico tanto com o Budismo. Buda falou de forma muito pragmática sobre como devemos viver para rompermos com a roda do Karma que nos leva a tanto sofrimento, e nos ensinou como viver o Dharma, ou a nossa natureza. Buda falou de passos, de Verdades, ele não falou de mágicas, nem de sermos protegidos, nem muito menos de que existe um Deus para nos proteger se formos bons e uma pra nos castigar se formos maus. A doença não é um castigo, mas o sofrimento é próprio da vida kármica.
Eu tenho uma amiga, que amo muito, e que deve estar lendo esse blog, embora não tenha me escrito. Inge é uma dinamarquesa, que é baiana de coração, ela sabe até sambar (melhor qu eu!), nós passávamos muito tempo refletindo sobre karma, Dharma, Iluminação....temas budistas...adorávamos filosofar...e ela dizia que queria a iluminação e eu, brincando dizia, que não queria não, que gostava muito da minha vida.....riamos muito dessas conversas, que eram grandes brincadeiras, mas que sempre nos levavam a estudar o que Buda dizia.
Bom...continuo amando profundamente os ensinamentos de Buda, eles não tem nada de mágico, eles são práticos, falam da nossa mente e como tudo pode mudar a partir da forma como olhamos as coisas...ele fala de um caminho do meio...um caminho possível, já que apesar de ensinar sobre o Caminho, ele diz que o caminho não existe, que é construido a cada passo, a cada momento, a cada escolha que fazemos. Podemos errar e acertar...não existe pecados...existe cadeia de consequencias e Dharma. Continuo sem querer a iluminação, mas quero ter atitudes iluminadas, quero uma mente clara e cheia de luz pra fazer as melhores escolhas...quero que a luz brilhe através dos meus olhos e das minhas palavras...e das minhas mãos...
Bom...hoje dei a minha primeira injeção...apliquei injeção na barriga de Judson...lembrei do Mahatma e das minhas conversas com Inge...O Mahatma achava que deveriamos desenvolver autonomia, deveriamos aprender a fazer tudo que precisamos, que isso era uma condição para a liberdade...hoje dei uma injeção...seguindo o Mahatma, fiz o que devia ser feito....depois dei uma choradinha básica, mas tudo bem.
Acho que voltamos pra casa hoje! Vamos ver!
Namastê!
Ludmila Rohr

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

VOCÊ NÃO É ESPECIAL!


Recebi por email essa oração de Tagore (no fim desse post). A pessoa que me enviou está passando por algo semelhante, o filho foi operado do coração, aqui em SP também. O interessante é que somos conhecidas, fomos colegas de uma Instituição de psicologia, mas não da mesma turma. Vivemos algumas histórias difíceis nesse grupo que nos aproximaram e depois nunca mais nos vimos. Ela leu meu blog, soube do meu marido, me contou do filho dela e nos identificamos nesse momento. Isso é incrível, né?
Isso tem acontecido muito. Recebo muitos emails, ou até alguns comentários no blog de pessoas que sabem o que estou passando, e sentem-se muito próximas de mim por conta disso. Acho essa dinâmica da vida fantástica. Eu me encontro com essas pessoas nesse momento pela dor, pela esperança, pela fé, pela experiência...e por mais que não venhamos a nos encontrar, nos sentimos muito próximas umas das outras.
Essa é uma rede de grande alcance, que só é possível acontecer quando há uma exposição. E quando isso acontece, imediatamente outras pessoas aparecem...outras que viveram , ou estão vivendo algo semelhante. Saimos da solidão e do isolamento instantaneamente, é fantástico!
Bom...ontem estava no avião lendo um livro do rabino Nilton Bonder, chama-se "Sagrado", o livro é muito bom...e posso dizer que ele traduz o meu pensamento. Fala do "Sagrado" e não do "segredo", fala da vida sagrada e de tudo que faz com que sejamos seres humanos normais diante de tudo que é sagrado. Em um capítulo que se chama "Você não é especial", ele além de incrível, consegue nos tirar um peso...o peso do ser especial...Não há nada de especial acontecendo comigo ou com meu marido, nada que já não tenha acontecido com milhões de pessoas que são iguais a mim. Não há nada de especial acontecendo com essa amiga e com o seu filho, milhares de mães já passaram por isso e continuarão a passar.
Não há nada de especial, por isso mesmo....não éxiste nenhum segredo....nada mágico. Devemos manter a nossa mente tranquila, o coração aberto, cuidar do corpo e orar, rezar, vibrar para acessarmos Deus em nós, mas...nada disso é único ou especial...Por isso mesmo não estamos sozinhos. Não precisamos ser "protegidos", precisamos ter coragem.
Abrir mão de ser especial em um momento como esse nos leva diretamente pra onde a oração de Tagore evoca; para um lugar de coragem e de realismo, de um contato profundo com a vida e com o Sagrado.

"Rezo, não para ser protegido do perigo,
mas, para não recear enfrentá-lo;
rezo, não para que minha dor se acalme,mas para que eu tenha coragem de vencê-la;
rezo, não para ter aliados nas batalhas da vida,mas sim força de travá-las;
não quero suplicar com ânsia apavorada para ser salvo,
mas espero ter paciência para conquistar minha liberdade;
Concedei-me a graça de não ser covarde,
sentindo a vossa misericórdia apenas ao ser bem sucedido;
Mas, apertai a minha mão quando eu fracassar."
- Rabindranath Tagore -

Bom...Judson está bem...voltamos pra casa no máximo quarta-feira. Obrigada Ana, espero que seu filho esteja bem, sei o quanto voce é corajosa, me identifico com isso.
Obrigada a todas as Anas e Ludmilas que estão por aí em algum lugar unindo-se a nós nesse campo de força para ajudar a recuperar nossos maridos, filhos, irmãos, pais, mães, amigos....

Namastê
Ludmila Rohr
P.S. Essa foto foi tirada em uma das vêzes que sobrevoei o Himalaya...essa experiência nos dá uma dimensão incrível da nossa insignificância e do Sagrado! Lá no fundo em forma de Pirâmide está o Everest!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Sobre Coragem


Já tive nesses 20 anos em que ensino yoga, muitos alunos, uma quantidade tão grande que nem posso imaginar. Algumas pessoas vem fazer yoga esperando uma mágica, que o yoga dê um jeito nelas e em suas vidas, como se fosse um remédio, essas podem até descobrir em algum momento da prática que não é bem assim e assumirem as suas responsabilidades no processo; outras buscam uma atividade física inteligente e até descobrem que o yoga é muito mais que isso; e outras veem buscando um caminho..se reconhecem como um ser integral e buscam no yoga algo que possa ajudá-las nesse caminhar em direção ao auto conhecimento.

Tento gravar o nome de todos os alunos, as vêzes não consigo, mas me esforço muito pra isso, quero ver cada um como uma pessoa diferente, com seus corpos que revelam suas histórias, suas emoções....quero ver cada um individualmente. Infelizmente nem sempre consigo.

Preciso dizer que sinto um carinho muito grande por todos eles, pois eles me fazem uma pessoa muito melhor. Não suporto o lugar de "Mestre" e sempre dou um jeito de escapulir dessas projeções. Aprendo tanto em cada aula que dou, aprendo tanto com cada aluno que vem conversar comigo, como posso ser um mestre? Nesse lugar (de mestre) me sentiria uma charlatã, gosto do meu lugar de alguém que ensina yoga, mas que reconhece que sabe muito pouco ainda.

Alguns alunos chegam mais junto, se fazem presentes, participam da atividades extra-aula, opinam, fazem perguntas, se mostram, se implicam no caminho e uma forma mais explícita, não que os mais calados e silenciosos não estejam implicados também, mas é mais fácil pra mim reconhecer aqueles que se mostram mais, que buscam uma relação mais íntima, que se tornam amigos. esses ultrapassam a fronteira professor/aluno e se tornam pessoas tão queridas, tão amigas. Compartilham suas vidas, suas dúvidas...eles trocam de forma mais clara, dão e querem receber.

Rita é uma antiga e querida aluna de yoga e me mandou por email essa frase de Guimarães Rosa: "O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem." Adorei!

Falei outro dia sobre coragem. Me sinto uma pessoa muito corajosa, não me lembro de situações em que eu tenha ficado paralisada por causa do medo. Sinto medo é claro, mas a minha coragem é sempre maior que os meus medos. Em vários momentos da vida senti muito medo, mas a minha coragem estava lá ao meu lado, me conduzindo, movendo as minhas pernas, me dizendo que eu precisava fazer algo, ou que seria mais corajoso não fazer nada. De fato sou uma pessoa corajosa e não tenho nenhum problema em falar isso. Acho que todos que me conhecem diriam o mesmo de mim.

As vêzes sou até contra-fóbica, ou seja, uma situação de medo, eu me meto logo, faço o que tem que ser feito, pra nem dar tempo de deixar o medo crescer e tomar conta de mim. Já cuidei disso em terapia. às vêzes o medo me faz ter comportamentos meio insanos, como nos assaltos que sofri e que enfrentei os ladrões, como se eles não pudessem fazer nada comigo. Bom...devo dizer que a cada episódio desses eu passei depois algum tempo chorando na terapia, ou com amigos....

Tenho medo de altura, e só pude reconhecer isso há poucos anos atrás...eu sofria horrores, mas não sabia que tinha medo, um dia eu estava no alto de um trapézio de um circo, quando me dei conta de que tinha medo de altura e que não precisava me expor a esse medo se não quisesse. Afinal de contas eu não sou trapezista!!!Voces não podem imaginar o quanto isso foi transformador na minha vida. Desse dia em diante pude tranquilamente recusar todos os convites pra descer montanhas amarradas numa corda e coisas semelhantes..ufa....

Mas quero voltar à frase de Guimarães Rosa que Rita me mandou...ele fala sobre a vida, o vai e vem da vida, os altos e baixos, as mudanças de estação que a vida tem.....pra isso sou muito corajosa, sinto medo em alguns momentos, mas posso me considerar uma pessoa corajosa diante da vida. Acho que já andei bastante e vivi muitas coisas, e quero viver muitas ainda. Nunca achei que a vida devesse ser mansa, a vida é o que deve ser, e preciso ser corajosa pra não paralisar nos momentos que preciso me mover, mas preciso ser corajosa pra não deixar meu ego e vaidade se apossarem de mim naqueles momentos em que tudo sossega, pois nesses momentos temos muito o que fazer, mesmo que seja contemplar!

Obrigada meus alunos queridos, por achar que posso ensinar algo a voces e sem saber estão me ensinando tanto...Obrigada Rita, por Guimarães Rosa.

Om...Shanti....

Ludmila Rohr
P.S. Essa foto foi tirada em Delhi (Índia) no maior templo muçulmano de New Delhi. É lindo...voltaremos lá em 2010. Preparem -se!!!!