terça-feira, 11 de outubro de 2011

PARA ONDE O AMOR ME LEVAR...

 Desde que me mudei para os EUA, tenho meditado muito. A meditação já era uma prática comum e regular na minha vida desde os meus 16 anos quando encontrei o yoga. Mas nesses últimos dois anos tenho meditado muito mais do que sempre fiz. Sair do meu país e deixar para trás uma carreira de psicóloga clínica com clientes que lotavam meu consultório, não foi fácil. Deixei no Brasil um filho também. Meus pais, minha irmãs, meus amigos, uma cidade que faz parte da minha história e onde eu me reconheço em cada esquina. Gostava muito da minha vida lá. Nenhuma reclamação, além das que todo brasileiro tem. Realmente amava minha casa e minha rotina. 

As pessoas me perguntam porque eu vim para os EUA? Posso responder de várias formas. Posso dizer que penso que essa é uma experiência incrível, que eu queria poder morar em outros lugares, conhecer nova cultura e idioma, posso dizer que seria bom para meu filho caçula estudar em uma universidade americana..., mas nada disso é verdade. A verdade tem a ver com a certeza que tenho que a vida é fugaz, tudo se perde de repente, nada é permanente... o tempo passa muito rapidamente e a única coisa que levarei dessa vida é o amor que amei. Não sei quando vou morrer, ninguém sabe, mas sei que quero viver até o fim ao lado do meu amor. Então a resposta mais sincera é: Porque eu quero viver ao lado do meu amor todos os dias possíveis da minha vida.

Já tentamos viver longe um do outro, mas não conseguimos. Claro que não "morremos" nessas "separações" eventuais, mas a vida fica tão sem graça. Ele poderia ter desistido desse trabalho se eu não quisesse vir, e tenho certeza de que ele faria pelo mesmo motivo, porque me ama. Ele já fez isso em outros momentos, mas essa foi a minha vez. 

Não tenho apego a coisas. Não me sinto obrigada a ser fiel a nada. Posso mudar de opinião e direção. Nunca tive sonho de viver nos EUA , nem acho que isso aqui é uma grande coisa, acho que é um lugar como outro qualquer, cheio de defeitos e qualidades. Nunca acreditei, nem busquei um Xangrilá. Sempre soube, por conta de tantos anos de meditação, que esse paraíso estava dentro de mim e me acompanharia aonde eu fosse. Nunca localizei em coisas ou em lugares o meu bem estar. Por isso, posso perder sem me desesperar e posso ganhar sem me envaidecer. Sinto uma liberdade enorme nisso. Nenhum lugar é o "inferno", muito menos o "céu", mas me dou conta de que só não posso ficar  muito tempo longe do meu amor. Esse é o meu limite. A vida é tão curta, quero viver a minha vida ao lado dele o máximo possível.

Sinto saudades dos meus filhos. O amor que tenho por eles é maior que o mundo, mas posso ficar longe deles. Não os criei para viverem comigo. Eles terão suas vidas e terão suas famílias. Acho lindo pensar que eles podem viver bem sem mim e eu posso viver bem sem eles por perto. Tenho por eles um amor desapegado...que oferece liberdade....é verdade que as vezes a saudade aperta, mas não acho que existe algo de errado em estamos distantes fisicamente. Não pensei em uma vida com meus filhos ao meu lado para sempre..., mas confesso que sonhei e sonho com uma vida com meu amor ao meu lado para sempre...

O mais legal é pensar que mesmo amando-o tanto e de dois anos para cá, seguindo-o por aí, nunca precisei abrir mão de nada da minha vida. Fiz algumas adaptações, é verdade. Mudei a "forma" do meu trabalho. Não tenho mais consultório na forma de uma sala, tenho o skype. Não tenho mais uma sala de aulas com alunos regulares, tenho o twitter e esse blog, e por incrível que pareça nunca me senti tão criativa e produtiva. Acabei de lançar um livro e outro está a caminho! Percebi que minha energia de trabalho pode continuar viva apenas mudando a forma de se expressar. É bem verdade que desses dois anos que moro aqui, fui ao Brasil 6 vezes a trabalho. 

Em breve estaremos mudando para a Coréia, passaremos algo em torno de dois anos lá. Mais um país a desbravar, culturas e idiomas diferentes. Estou muito excitada com essa perspectiva. Penso que viverei entre Salvador onde estão mãe, irmãs, um filho e trabalho, Houston onde ficará outro filho e Seul onde estará meu amor. Se me perguntarem onde é minha casa, responderei: Onde estiver meu coração!  Acho que minha casa só tem crescido nesses anos...que bom, né? 

Que bom meditar e perceber que o amor que sinto faz meu mundo se expandir.

Ludmila Rohr