quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Happy Thanksgiving, e o Rio?

 Hoje é feriado aqui nos EUA. É o Thanksgiving Day. Dia de agradecer. Acordei disposta a entrar no clima desse feriado norte-americano. Dei uma lida na história desse dia e de como ele foi se tornando um feriado importante para os estadosunidenses.

Gosto de vibrar gratidão, então pensei que seria muito fácil entrar nesse clima. A gratidão é um sentimento tão forte em mim que pensei que seria muito fácil permanecer com ele o dia inteiro.

Costumo dizer que Gratidão é o sentimento mais prazerosos para o corpo, ele é confortável. Toda vez que vibramos na sintonia da gratidão, nosso corpo relaxa e produz uma sensação confortável de prazer. Nada que pareça com a sensação corporal de um orgasmo, ou da paixão...ou mesmo até da alegria. A gratidão é confortável como um cobertor quentinho em dia de frio, ou um banho refrescante em dias de calor. As pessoas felizes, são necessariamente pessoas gratas, e as infelizes, com certeza são aquelas que não conseguem ser.

Pois é..acordei assim...tocada e conectada com essa vibração, e resolvi escrever sobre isso, até que liguei o computador e me deparei com a situação no Rio de Janeiro. Cenas chocantes, polícia, traficantes, uma verdadeira guerra ao vivo..sendo transmitida para a mundo. 

Na mesma hora, meu corpo ficou tenso..meu coração apertou...minha respiração deu uma travada..a desconfortavel sensação do medo e indignação me tomou. Indignação e apreensão..sentimentos que me trouxeram de volta pra o mundo real e duro que o Brasil vive agora.

Estou aqui tentando agradecer pela vida e pensando naquelas pessoas com seus filhos e seus velhos que moram nessas favelas agora.

Estou aqui tentando agradecer por minha mente lúcida que pode distinguir o bem e o mal, e pensando nas pessoas que estão em pânico no Rio nesse momento.

Estou aqui tentando agradecer pelos meus filhos lindos e saudáveis, e penso nas mães desses traficantes que não tiveram nenhuma chance de educá-los. Sem querer associar pobreza a marginalidade, pois marginal rico é o que não falta, assim como pessoas do bem que cresceram na maior absoluta pobreza. Entretanto, mãe é mãe. Penso nas mães dos policiais que sabem ter seus filhos em uma verdadeira guerra.

Estou aqui no meu conforto pensando em agradecer por isso e pensando nos moradores trabalhadores e do bem, que vivem nas favelas que estão sendo ocupadas pelos traficantes e pelos policiais e que são reféns dessa situação caótica.

Queria tanto hoje só agradecer...queria tanto hoje só falar de coisas lindas...do Amor, da Vida...essas coisas...mas só consigo pensar que a vida é muito dura nesse momento para as pessoas que vivem nas favelas do Rio e que torço muito para que os danos sejam os menores possíveis, e que as autoridades possam perceber que a Impunidade é o grande mal do nosso país,...com nossos políticos corruptos, com nossa sociedade rica que mantém o tráfico vivo, com a justiça lenta  que permite que criminosos estejam nas ruas... Sociedade sem educação e onde a impunidade é comum, não vai pra lugar algum!

Happy Thanksgiving!

Ludmila Rohr

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Nó sem Fim - minha nova Tatuagem!

Essa é minha nova tatuagem: O Nó sem Fim!

Minhas tatuagens tem história, elas tem um motivo e um significado.
Essa é inspirada em um dos 8 Símbolos Auspiciosos do Budismo Tibetano, O Nó da Eternidade, ou o Nó sem Fim como prefiro chamá-lo.
Esse desenho indica a sabedoria e a compaixão ilimitadas.
Indica a continuidade da Vida.
Ele não tem começo, nem fim.
Essa é a minha linda tatuagem, pela qual estou apaixonada agora!

Falarei aqui sobre o que ela significa para mim. Não darei aulas de budismo, porque nem poderia e provavelmente um budista estudioso se arrepiará com minhas meditações, mas elas são as minhas meditações sobre esse símbolo! São minhas e sobre esse momento. Não entendam e nem aceitem esse post, como um ensinamento, por favor!!!

Bom...vamos às minhas meditações...Gosto dessa idéia de que algo que não começa do Zero. Para mim nada começa do zero. O nada, nada pode gerar! Temos sempre uma bagagem atrás que nos alimenta de alguma forma. As lutas que vivemos hoje foram alimentadas, ou iniciadas por gerações antes da nossa. Ou algo que recebemos da vida hoje, foi plantado em algum momento atrás. Gosto de pensar nas muitas gerações de mulheres que vieram antes de mim e que conquistaram tantas coisas que hoje posso fazer, realizar...gosto de pensar nisso e de alimentar uma gratidão por todos que vieram antes de mim.

Gosto de pensar a Vida como uma seqüencia infinita de começos e recomeços. Quando penso assim, entendo que nada do que fazemos fica escondido em algum canto qualquer. Esse símbolo me leva a pensar que teremos que rever tudo em algum momento, ou que reencontraremos com tudo e com todos em algumas dessas curvas da vida. Não há como fugir das nossas pendências. Não existe a menor chance de colocarmos algo debaixo do tapete e fazermos de conta que ele não existe ou nunca existiu.

Esse símbolo me lembra de que não conseguirei fugir das minhas sombras, elas virão atrás de mim em algum momento, ou elas simplesmente aparecerão diante de mim em alguma curva que a vida me levar a fazer. Esse símbolo me alerta de como é mais fácil viver de forma honesta, direta, clara, sem subterfúgios, sem dissimulações, sem tentativas de mostrar aquilo que não sou, pois a vida se encarregará de revelar...

Se toda a VIDA está girando nesse nó sem fim, não há rotas de fuga! Não há como fugir das Verdades. Não há possibilidade de fugir de mim mesma, quanto mais daquilo que preciso aprender! Se eu tento...posso até adiar a experiência, mas não por todo tempo..ela virá, em algum momento a experiência necessária chegará, e me conduzirá ao aprendizado que preciso.

Tenho algum tipo de arbítrio (mínimo) sobre o tempo, mas mesmo assim, é um pequeno poder, não é tão grande quanto eu quero acreditar. Posso arbitrar adiar uma experiência, mas nunca posso arbitrar sobre não ter aquele aprendizado, e nem posso imaginar adiar por todo o tempo que eu quiser...os giros da vida vem e nos colocam de volta ao mesmo lugar. Diante da mesma história. Talvez os personagens tenham mudado, mas os conteúdos não.

Isso não é um castigo. Os Budistas entendem como compaixão, como a suprema misericórdia, pois é a chance de nos revermos, de limparmos o que sujamos, de atualizarmos nossas experiências..de pedirmos desculpas, de reeditar algumas histórias, de fazermos o que fizemos antes, só que agora de uma forma mais decente, mais honesta, mas verdadeira, mais honrada. Isso é compaixão....a chance interminável de nos reconstruirmos. Bom, né?

Nem sempre as pessoas gostam muito dessa idéia. Principalmente quando o aprendizado mobiliza com a vaidade, com a imagem, e por não gostarem gastam uma energia imensa tentando fugir dela...ou tentado convencer a si mesma e ao outro que não tem nada a ver com isso, que aquela experiência não é sua, que ela é uma vítima de outro alguém...perda de tempo. Tudo é justo..e tudo que está no âmbito do seu "Nó", é seu! Só voce poderá viver! O que está no meu "Nó" é meu e só eu poderei viver!!! Sem vítimas, sem algozes!

Esse "Nó" pode ser entendido , pelos inconscientes, como um verdadeiro inferno...pois não há saídas..mas não é ..é justo..é na medida exata..nem mais, nem menos. Mas é um verdadeiro céu, no momentos em que estamos colhendo as frutas de boas sementes...

Transceder..precisaremos transcender! Essa é a forma de libertação...

Sobre isso, falei em um post antigo, motivado por uma outra tatuagem (essa aí) , vão lá ver!

Mas..por enquanto..tô aqui apaixonada pela minha nova tatuagem, e encantada com a vida.  encontrando as boas sementes (méritos) que plantei em algum lugar na minha vida e as sementes não tão boas assim..que também plantei! Tudo justo...tudo meu! Não há nada que colho, bom ou ruim que não tenha sido gerado por mim mesma em alguma curva desse NÓ!

Sem queixas vou colhendo meus frutos!

...e como me sinto feliz e em paz...devo ter plantado coisas boas por aí!

Namastê

Ludmila Rohr


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Minha alma está chegando....

  Estou de volta ao Texas após cinco semanas em Salvador. 
A demora em escrever um novo post, já que escrevo regularmente toda semana, é que minha alma estava a caminho...ela não chegou junto com o meu corpo. Como sempre escrevo com a alma, ficou impossível escrever enquanto ela não chegava...

Fico uns dias como se estivesse pela metade, incompleta, faltante, sem muita energia...É como se eu estive em um espaço paralelo, nem lá, nem cá. No limbo. Não tem desconforto, mas também não é confortável. Sensação sem nome, mas se tivesse uma cor, seria Bege. Não me reconheço quando estou assim, pois posso ser tudo, menos bege...entretanto, tenho meus dias bege...

Então, fico pacientemente esperando a alma chegar. Ela tem seu tempo...ela não vem de avião...ela vem com o vôo dos pássaros, ou vem montada num lindo cavalo, ela vem com os ventos...e vai chegando..Respeito esse tempo. Não me cobro muita coisa, pois fico lenta e mais contemplativa que normalmente já sou. Espero pacientemente pois adoro ver que o tempo tem vários giros ao mesmo tempo. É como se vários relógios em ritmos diferentes, girassem dentro de mim ao mesmo tempo...e, é assim mesmo.

Nos meus últimos dias em Salvador tive um encontro com o Lama Padma Samten, encontro inesperado, que mexeu bastante comigo, que resignificou essa minha estadia em Salvador. Entendi que eu estava ali, para ter esse encontro. Eu não tinha a menor idéia de que iria ver o Padma Samten até uma semana antes de voltar. A produção dele, ligou pedindo espaço no Salão do Mahatma Gandhi, para um palestra do Lama que estaria lançando um livro. O horário que eles precisavam, seria da minha última palestra em Salvador, da minha despedida. Não pensei um só instante..entendi que era o Lama que deveria estar lá. Sinto no meu coração que é sempre uma grande honra e mérito receber um Lama em minha casa, e ele veio.

O tema da Palestra e do seu novo livro é "A Roda da Vida". Esse é um tema do Budismo que me ensinou muito como  viver e aceitar os ritmos da vida. Aliás, o budismo é pra mim um manual simples e claro da psicologia do bem viver. Sem grandes surrealidades, o Budismo fala de coisas óbvias, e que de tão óbvias não costumamos enxergá-las. O Budismo fala da vida real, desse momento agora, e de como encontrar PAZ. O Budismo é um Manual de Encontro consigo mesmo e por consequência, com a Paz.

Ouvir o Lama mais uma vez foi um presente, creio que foi um mérito. Receber o olhar amoroso dele me alimentou. Receber alguns abraços carinhosos me tocaram na alma. Lembramos que ele esteve pela primeira vez no Espaço Mahatma Gandhi há 14 anos atrás!

Estou em Houston mais uma vez, é aqui que eu moro, é aqui que tenho que girar minha Roda da Vida agora, é aqui que tenho que exercitar o Amor e o Desapego. É aqui que tenho que ser feliz. Isso não me assusta, muito pelo contrário. Gosto de estar aqui e gosto das possibilidades que existem pra mim nessa terra. Gosto da minha casa, gosto do tempo que tenho para escrever, para trabalhar criando, imaginado...tendo idéias.. Realmente gosto de estar aqui. Quando chegar o dia de ir embora daqui, vou feliz também..vou ao encontro de novos amigos, novos aprendizados, novas experiências...

...mas por enquanto....só aguardo minha alma chegar...sinto que ela já está quase toda em mim...mas, paciência..ela vem com tempo e eu, apenas contemplo.

Namastê

Ludmila Rohr

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quem é o povo brasileiro?

 Essa semana foi diferente. As eleições aconteceram..eu não votei, já que transferi meu título para Houston..fiquei de camarote vendo as coisas acontecerem, e não gostei de muita coisa que vi. Isso não tem nada a ver com o resultado das eleições. Não acredito em políticos. Nem ao menos acredito no "poder" deles... Sempre acreditei no povo..nas pessoas... 

Não suporto política e nunca achei que mudança alguma em um país se desse por causa de um político ou outro, ou mesmo graças a um partido ou outro. Acho que as mudanças sempre acontecem a partir do povo, os políticos apenas as reconhecem. Daí a minha tristeza.

Dilma sendo eleita, ou se Serra tivesse sido, para mim, (acreditem) não fazia a menor diferença. Nunca me dei ao trabalho de analisar as propostas de  nenhum dos dois. Podem me chamar de alienada, mas é verdade.

Eu gosto de pessoas. Sempre olhei mais para as pessoas, do que para seus discursos. Sempre olhei e acreditei mais no que seus corpos falavam, do que nas suas falas. Sou psicóloga...e tenho o vício de tentar ver as pessoas através dos seus movimentos corporais...do tom da sua voz, do brilho dos seus olhos.. E na campanha, nos debates..nenhum dos dois se pareciam pessoas, eram personagens, eram algo estranho...menos pessoas..então, não votaria em nenhum dos dois.

Entretanto a campanha presidencial revelou um povo com um comportamento cruel, xenófobo, racista, maniqueísta, homofóbico, preconceituoso, esperto (no pior dos significados), um povo disposto a pisar no seu igual...triste...muito triste...

Lembrei daquele livro..O Senhor das Moscas, em que amigos se transformam em inimigos por causa da sua sobrevivência e perdem a humanidade, lembrei de guerras recentes no leste europeu em que pessoas que antes eram vizinhos amigáveis, viraram inimigos por causa de suas diferenças étnicas. Pensei em como podemos ser sombrios e cruéis quando nos sentimos ameaçados.

O mesmo pessoal que reclama de roubalheiras no governo, de corrupção e tudo mais..é o mesmo que queria matar nordestinos, que acusou Dilma de ser "lésbica" (como se isso fosse uma ofensa), que se comportou de forma religiosa-fanática,.....É o mesmo povo que fura filas no trânsito, que invade sinal vermelho, que não respeita a faixa de pedestre, que dirige após beber, que não se intimidaria em não pagar impostos corretamente, que não se intimidaria em se apropriar do que não é seu se pudesse, que descuida dos idosos, dos animais, da natureza...Esse povo que "ESPERA" que algum governante resolva seus problemas, de fato não se enxerga de forma adulta, não percebe sua participação pessoal no estado que o Brasil se encontra.

Por isso, meus queridos conterrâneos, pra mim não interessa quem irá governar...por que seus governados serão os mesmos..e assim que tiverem chances de "se dar bem" , o farão! 

Adoro ser brasileira, nasci e vivi aqui minha vida toda...mas tenho vergonha da "esperteza" que faz parte da nossa cultura. Se tem um ditado popular que ODEIO e que descreve tanto essa característica do brasileiro é:  "Farinha pouca, meu pirão primeiro."

Enquanto pensarmos assim, nunca teremos como mérito, um presidente como o Mahatma Gandhi. Teremos que nos contentar com o reflexo do que somos e temos sido, pois isso é o que os nossos governantes são!

Ludmila Rohr