Eu estava com 16 anos quando a conheci. Já se passaram 32 anos desde então. Buscava algo que fizesse sentido na minha vida. Eu era uma adolescente velha. Não tinha interesse algum em nada que as pessoas da minha idade tinham. A sensação era de ser uma E.T. Nada me atraía. Apesar de ser baiana, odiava carnaval e não era de festas, nem de multidão. Não suportava conversas que julgasse bobas e poucas coisas no meu mundo naquela época pareciam interessantes ou que valessem a pena para mim.
Havia lido algo sobre yoga e sobre a Índia. Entendi que queria muito conhecer aquilo. Queria para mim o mundo da meditação e do Yoga. Foi assim que a conheci. Ela era uma professora de yoga. Eu a amei desde o primeiro dia que a vi. Sua voz e sua energia me levaram a sentir algo que eu nunca havia sentido antes. Ela trouxe significado para minha vida e me levou a sentir que as coisas tinham um porquê. Eu senti que havia me reencontrado. Que eu havia encontrado minha alma e um caminho para minha espiritualidade se expressar.
Swami Shurimahananda não era uma pessoa comum. Ela era absurdamente forte e impactante. Tinha uma energia impressionante. Era impossível que ela passasse despercebida em qualquer lugar. As pessoas a amavam ou detestavam. Eu amei. Por muito tempo ela foi o meu mestre. Entendi que ela tinha muito a me ensinar e abri meu coração para aprender. Ela falava de Jesus apaixonadamente. Aprendi sobre Buda, Krishna, Babaji, Mahatma Gandhi, sobre os Mestres Yogues, sobre Kabala, Numerologia, Cristais, sobre os Chakras, percebo que aprendi tantas coisas que pude depois desenvolver e aplicar na minha vida que nem conseguiria listar. Entretanto consigo destacar que dentre tudo que vivenciei, o que aprendi de mais importante foi sem dúvida alguma sobre Karma Yoga, sobre o servir ao próximo, sobre voluntariado. Aprendi a amar o SERVIR.
Por muitos anos fui voluntária no Plantão da Fraternidade, serviço fundado por ela. Atendíamos por telefone, 24 h por dia pessoas que buscavam carinho, conselhos e até mesmo aquelas que buscavam apenas serem ouvidas e sair da solidão. Amava isso. Amava ser plantonista. Amei muito. Servi e Amei muito. Como não ser grata a essa pessoa que me favoreceu isso? O Yoga e o Plantão da Fraternidade continuaram na minha vida até hoje, me tornei uma Professora de Yoga e uma Psicóloga.
Ela tinha lindos e penetrantes olhos azuis que me acolheram tanto e por tantos anos. Ela celebrou meu casamento, viu meus filhos nascerem, foi testemunha da minha transformação de uma adolescente insatisfeita em uma adulta buscadora.
Shurimaha não era uma pessoa fácil. Poderia fazer uma lista enorme de coisas que não gostava nela, mas não faria isso. Sou tão grata por tanto que recebi. Ela se foi desse mundo. Hoje só quero agradecer publicamente por tudo que ela me deu, e não foi pouco. Um mestre é aquele que ensina algo, e ela me ensinou. Tenho um histórico pessoal muito positivo e inesquecível com ela.
Um dia ela me deu um nome espiritual, me chamou Halina. As pessoas que me conhecem dessa época lembram disso. Amei esse nome. Ela me disse que Halina significava: "Aquela que dá sabor". Amei. Adorava ser Ludmila, que meu pai me deu ao nascer, que significa "Amada pelo Povo" e amei ser chamada espiritualmente de Halina. Triste pensar que os dois se foram desse mundo quase que na mesma época.
Ao saber do seu desencarne senti uma gratidão enorme no meu coração. Sou grata à vida por ter te encontrado e ter tido uma adolescência tão atípica que me fez a pessoa que sou hoje. Sou grata por ter vivido experiências tão fortes ao seu lado. Sou grata por por tantas coisas... que só posso dizer:
Muito Obrigada Swami Shurimahananda por ter me entendido, respeitado e me amado até no momento que não consegui mais estar ao seu lado e te deixei.
Shanti....!
Halina