segunda-feira, 30 de agosto de 2010

SOBRE INVEJA

As pessoas costumam dizer que a inveja é um sentimento feio. Pra complicar ainda mais, ainda dizem que é feio sentir inveja.

Bom...a inveja é um sentimento como outro qualquer, e por isso mesmo, humano. Não existe inveja em outros reinos, que não o humano. 

Funciona dizer para alguém algo tipo, não ame essa pessoa, ou, não sinta raiva quando lhe fizerem isso; ou pra que ficar triste com aquilo? Os sentimentos surgem na nossa alma, e eles por si só não se constituem um problema. O problema dos sentimentos, não é o sentimento em sim, e sim o que fazemos com ele, ou pior ainda, quando não temos consciência dele, porque eles começam a nos levar a fazer coisas que nem percebemos.

A inveja é o sentimento mais negado de todos. É mais fácil assumir ódio, do que inveja. Assumir inveja é como assumir que não é boa o bastante, ou que existe alguém com algo que não tenho, ou que queria ter. É difícil porque é como assumir a falta. O invejoso é um faltante que não suporta saber disso. Tão narcísico que não suporta não ser pleno.

É bom deixar claro que todos nós somos faltantes, as coisas não são perfeitas e quase nunca temos tudo que queremos e quando queremos, mas isso não significa que todos nós sentiremos inveja de quem as tem, quando nós não a temos. 

Bom...pense, que vc quer muito algo e luta por aquilo, e aparece alguém na sua frente, que conseguiu aquilo que vc tanto quer. O que voce sente?

Algumas reações são muito comuns: Ficar feliz porque o outro conseguiu. Ficar triste porque voce não conseguiu. Ficar com raiva porque esse alguém conseguiu. Desmerecer o que o outro conseguiu, o que é o mesmo que criticar a forma como ele conseguiu, ou desqualificar o objeto de desejo...ele já não é tão bonito ou bom assim, ou pior ainda, dizer que a outra pessoa nem ficou bem com aquilo, ou que ela nem merece. No fundo, no fundo, exceto as duas primeiras reações..as outras são inveja pura.

O invejoso precisa desqualificar, destruir o objeto de desejo que o outro conseguiu e ele não. Por que não suporta reconhecer o valor do outro, pois pra ele isso, levaria imediatamente a se dar conta da sua falta. O invejoso fica preso nessa armadilha do próprio ego. Por desqualificar o outro, ele não pode assumir que também desejava aquilo e não fica livre para buscar o que deseja....ou melhor dizendo: Não fica livre para DESEJAR! Não é livre para dizer: Que bom que voce conseguiu, isso mostra que eu também posso!

Nesses anos de consultório tenho me dado conta de que o momento de se confrontar com a inveja, é algo que parece um 'Turn Point" na terapia. A pessoa sofre e resiste muito para admitir, mas quando consegue, dá uma virada incrível. Quando consegue admitir a inveja, se sente livre para desejar..e percebe que a inveja na maioria das vezes é um desejo negado. É uma falta que não pode ser espelhada pelo outro. Muitos abandonam a terapia antes disso, e dizem que o terapeuta não era muito bom.

Nem me lembro a última vez que senti inveja (ou pelo menos uma importante)...não que não as tenha, mas tenho tentado estar tão consciente dos meus desejos e me permitindo-os que acho que não existe muito espaço para elas. Nesse momento morro de inveja de quem perde peso facilmente, ou de quem faz uma viagem muito legal...ou (esse que é o mais difícil de confessar para o mundo) de quem não tem celulite.

As pessoas as vezes me advertem dizendo que eu me exponho demais, que eu falo sobre meu marido e filhos demais, que eu falo muito sobre as coisas boas que acontecem comigo. Dizem que eu posso atrair inveja. 

Bom....minha teoria é de que inveja faz muito mal pra quem a sente (minhas amigas que não tem celulite podem ficar tranqüilas, minha inveja não as fará aparecerem de repente nas suas pernas e bundas). Brincadeiras a parte...realmente não perco nenhum minuto da minha vida, nem gasto um segundo sequer me preocupando se alguém sente inveja de algo que tenho ou que eu seja. Quem me conhece, sabe bem disso. Sempre acho que isso nunca me atingirá de fato, a não ser que eu entre na mesma vibração, e daí, isso já seria minha responsabilidade.

Os invejosos por desqualificarem todos a sua volta, pensam que só eles estão andando e não percebem que na verdade, ele está ficando pra trás...os outros estão seguindo suas vidas..e eles ficando para trás..

Como acredito na perfeição da vida, como acredito em Karma e Dharma, acredito que só temos o que merecemos. Nunca me queixei da vida quando meu marido teve câncer. Nunca me queixei, nem achei injusto quando ele descobriu uma metástase, me aborrecia quando alguém dizia algo tipo: mas ele é tão legal...voces não merecem isso... Bom, merecemos sim, e merecemos tudo de bom que nos acontecem também! Tenho a crença tranqüila e firme na justiça perfeição da vida, mesmo que eu não entenda e nem consiga explicar, mas pra mim, é justo. Por isso, mesmo que detesto injustiças. Luto para que as verdades sempre venham à tona, e que seja sempre a última palavra.

Vocês podem estar se perguntando porque o tema do post de hoje é INVEJA. Nem sei responder pra vocês. Acho que as pessoas invejosas sofrem tanto...tenho pra mim, que a inveja é o pior sentimentos em termos de desconforto, ele causa um mal estar tão grande. Negá-la dá um trabalho tão imenso, é como fugir da própria sombra. Os invejosos sofrem muito. A partir do dia que um cliente conseguia falar sobre inveja, eu podia ver a transformação na sua vida...eles simplesmente ficavam mais felizes, podiam assumir os desejos sem culpa e podiam ficar felizes coma  felicidade do outro. A felicidade do outro não lhes pareciam mais um soco no estômago. Descobriam que era bom ver o ouro feliz, e que eles podiam ser também. Eles podiam rir de si mesmos também.

O invejoso por não assumir que sente inveja, atua com o sentimento. Isso sim é moralmente complicado. Sentir não é o problema, mas o que voce faz com o que sente, isso sim pode ser um problema. O invejoso, muitas vezes sabota e faz mal a alguém, e nem se dá conta de que está sendo movido pela inveja, já que nem pode reconhecer esse sentimento. Isso sim é muito complicado.

Bom...não moralizo nenhum sentimento. Não acho que um seja moralmente aceito e outro não. Somos humanos e na nossa alma cabem todas as vibrações. Não moralizar a inveja e apenas entendê-la como um sentimento que precisa ser conscientizado e trabalhado como outro qualquer, nos livraria de muito medo e dor... Não posso pensar em julgar alguém que assume a inveja, devo sim, parabenizá-la. Quem sabe esse é o "Turn Point" da sua vida???

Ludmila Rohr




domingo, 22 de agosto de 2010

O lugar perfeito!

Vim morar nos EUA porque meu marido está trabalhando aqui e porque achei que seria uma boa experiência passar um tempo fora. Após 8 mêses, passada a fase natural de encantamento, consigo ver defeitos..porque antes só via qualidades. 

Isso pra mim, não tem a menor importância, se um lugar tem defeitos...porque nunca tive alguma ilusão a respeito de pessoa alguma, quanto mais de lugares. Temos defeitos e qualidades, todos nós e todos os lugares, inclusive isso aqui.

Não suporto as construções todas serem de cor bege...todas as casas , todas as lojas são iguais e bege! Não suporto a mania que eles tem de colocar molho em tudo. A comida tem gosto dos molhos..detesto...Adoro o trânsito..a educação no trânsito é espetacular. Nada é mais lindo do que uma experiência no Stop Sign, as pessoas param em cruzamentos e saem uma de cada vez, por ordem de chegada. Lindo!

Poderia passar o dia fazendo listas do que gosto e do que não gosto daqui e muito mais ainda de Salvador, que é o lugar que eu conheço e que vivi minha vida toda! Mas essa não é a questão.

Adoro comprar tudo que compro aqui, roupas, botas, sapatos, maquiagem, cremes, perfumes..Adoro!...adoro minha geladeira americana enorme linda, adoro o fogão que é elétrico, enorme, maravilhoso...mas, sinceramente, NADA disso me faz feliz, nada disso faz ninguém feliz! 

Sou uma pessoa feliz porque me busco..e não quero me auto-enganar. Gosto de mim apesar dos meus defeitos...não quero deixar de vê-los! Assim como amo Salvador, apesar de todos os defeitos dela...amo e pronto!

Alguém não precisa ser perfeito pra que tenha o meu amor...um lugar também não precisa. O lugar bom, é aquele onde me realizo...onde me sinto útil, onde sinto que estou crescendo. Posso fazer isso em qualquer lugar ou não. Enquanto esse for um lugar que me propicie algum crescimento, aqui será um bom lugar. No dia que eu entender que nada aqui me faz crescer...que meu coração não está em paz...não há geladeira, perfumes e sapatos que me convença a ficar!

Hoje estou triste. Hoje sinto falta de tudo da minha vida que eu amo lá em Salvador. Sinto falta de ser útil e produtiva. Sinto falta de sair pra trabalhar e voltar cansada. Sinto falta dos dengos que Nil me fazia, sinto falta de ver o mar e as cores que lá existem e que aqui não. Se estou infeliz? Não, não estou. Hoje estou triste. Hoje estou em contato com a falta. Posso lidar com isso, sem achar que é infelicidade, da mesma forma que posso adorar passar um dia em um lindo Mall, e não confundir isso com felicidade.

A tristeza da falta não me deixa infeliz, assim como a opulência do consumo não me faz uma pessoa feliz.

Hoje...o que eu queria..ter acordado em Salvador, na minha casa que eu amo e que meus filhos foram criados...ficar lá sem fazer nada...sair pra dar uma volta de carro de tarde e ver o pôr-do-sol no lugar mais lindo que existe no mundo...o Farol da Barra...beber uma água de coco geladinha, passar no Rio Vermelho e comer a melhor Pizza que existe no mundo e voltar pra casa...

Simples e perfeito assim.

Ludmila 




terça-feira, 17 de agosto de 2010

Não tenho paciência para queixas...

Imagino que todos querem a felicidade. Certo.
Imagino que todos fariam qualquer coisa pela felicidade. Errado.

Sou psicóloga..tenho muitos anos de consultório. Nesses anos vi muitas pessoas crescerem, enfrentarem suas dificuldades, atravessarem seus medos, suas sombras, seus fantasmas, tudo porque desejavam , buscavam a felicidade.

Vi pessoas crescendo, por se superarem. Por conseguirem coisas que supunham não serem capazes. Essas pessoas conseguiam entender que o "inimigo" estava nelas mesmas...elas se enfrentavam...saiam da queixa, abandonavam o lugar de vítima e pagavam o preço que fosse para serem felizes. 

Algumas largavam empregos ruins, rompiam casamentos falidos, cortavam relações com pessoas destrutivas, diziam coisas duras, mas necessárias para filhos e amores, mudavam comportamentos negativos... Normalmente, eram altos os preços, mas elas pagavam...e conseguiam.

Nunca tive muita paciência com queixas. Uma coisa é o desabafo..outra é a queixa. O queixoso, se alimenta disso. Ele se alimenta da própria queixa. Ele se alimenta da atenção ou piedade que a queixa desperta no outro. Ele goza nesse lugar especial de vítima.

Nunca tive muita paciência com queixosos, nem ao menos sou boa em ouvi-los. Quando sinto que na verdade, eles não pretendem uma mudança, quando sinto que eles de fato não querem receber uma orientação e nem estão dispostos a ouvi-la, percebo que o que de fato eles querem é a piedade e a admiração da platéia enternecida com quanto eles sofrem. Nesse momento, eu saio da platéia. Não consigo alimentar esse comportamento, porque não suporto a inércia e principalmente, porque acho que pagaria qualquer coisa para ser feliz. Faria qualquer coisa pra não ser vítima, e nem suportaria o olhar de pena sobre mim.

Essa semana visitei aqui em Houston, uma unidade prisional feminina, que é intermediária entre a prisão e a liberdade. Mulheres e meninas estão ali. Fiquei chocada em ver garotas de 17 anos presas, com roupas de prisão, mas aqui é os EUA, e assim é a lei. Conheci um trabalho voluntário que ajuda essas pessoas a encontrarem nelas mesmas forças e recursos para voltar ao mundo aqui fora. Elas estavam aprendendo a respirar e a ficar dentro delas mesmas... No fundo, esse trabalho visa mostrar que elas tem um lugar dentro delas, que é um lugar de poder, um lugar de força, e que nesse lugar elas podem encontrar energia para enfrentar as dificuldades do mundo real.

Esse trabalho não as transformam em vítimas da sociedade, muito pelo contrário..me pareceu que não existe lugar pra queixas, e sim para a responsabilidade sobre si mesmas. Elas aprendem a não serem vítimas e serem agentes da própria mudanças. Provavelmente algumas conseguirão e outras não. É assim. Quem idealiza um trabalho desse sabe que o sucesso é sempre relativo e não absoluto. Aprende também a achar que nesse relatividade está o absoluto.

Não tenho paciência para queixas...tenho muita energia de acolhimento, mas muito pouca para receptáculo de lamentações. Não sei se isso é bom ou ruim, mas sou assim....e acho que se tiver que cortar uma parte de mim fora, pra ser feliz...eu faria. 

Torço muito por aquelas meninas que vi na prisão, especialmente por uma que usava trancinhas e que tinha  uma carinha que podia ser minha filha. Não aceitem o papel viciante e grudento de vítimas, sejamos todos agentes ativos da nossa própria vida e felicidade!

Ludmila Rohr

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Eu e eu mesma!

Gosto de ser quem eu sou...algo sempre inacabado...sempre em movimento... 
Gosto de ser mulher..e de pensar nos poderes que eu tenho. As vezes isso me parece algo meio narcísico, mas gosto de brincar com o meu narcisismo.
Gosto da permissão cultural que nós mulheres, temos de acessar nossos sentimentos. Não que os homens não possam fazer isso, mas a nós mulheres foi dada uma permissão cultural e social de fazer isso com mais liberdade.

Podemos falar de política, podemos ganhar dinheiro, trabalhar e produzir em qualquer área, mas podemos tranquilamente falar sobre sentimentos, podemos buscar subjetividade e significado nas coisas...em todas as coisas... e eu gosto muito de fazer isso.

Gosto de passar tempo com amigas subjetivando...falando sobre impressões, sobre percepções das coisas.. sobre como me sinto em relação a isso ou a aquilo...subjetivar é delicioso para mim...e acho isso tão feminino...Adoro as imensas nuances que existem na minha alma, uma mudança mínima em um tom, muda toda a composição....isso é tão feminino...Gosto de buscar significados, como se tudo tivesse um.

A psicologia Arquetípica me fascina, porque ela é cheia de símbolos e significados. Já falei sobre isso aqui algumas vezes. Muito tempo atrás, descobri  faces de seis Deusas gregas em mim. Adoro perceber dias em que estou mais Perséfone, dias que estou mais Afrodite, dias que estou mais Athena...assim como perfumes e roupas.. Gosto de perceber quando quero colocar um salto vermelho, e dias que quero colocar uma sandália rasteira, me permito isso...sei escutar essas diferenças na minha alma...assim como a escolha do perfume...adoro perfumes e tenho vários...e os escolho a partir da minha alma...sempre subjetivando...Sou assim. Isso é tão complexo..adoro essa complexidade. 

Descobri que tenho em mim a força e inteligência de Athena, que me instrumentaliza para as guerras diárias, que me coloca em contato com o mundo dos negócios, do trabalho, que me dá disciplina e me coloca fortalecida diante dos desafios do mundo masculino. Nasci uma Athena, nasci para estudar e trabalhar. Esse sempre foi o discurso dos meus pais:  "Estude muito, assim voce ganha o mundo".

A minha vida foi me revelando poderes de outras Deusas em mim! Encontrei a minha porção Perséfone, mergulhando nas meditações, desenvolvendo minha intuição, me conectando com os saberes da minha alma. Essa Deusa me fez uma pessoa profunda, não consigo ser rasa em nada, e não tenho muita paciência com as pessoas rasas. Talvez por isso, tenha detestado ser adolescente. Gosto muito mais de mim adulta, do que quando era jovem. Sempre quero intimidade e profundidade nas minhas relações. Adoro também o silêncio... tenho épocas de silêncio, de recolhimento...as pessoas acham que estou triste, mas não estou...só estou mais pra dentro...

A outra Deusa que fui tornando cada vez mais consciente, foi Árthemis. Essa Deusa me coloca em contato com o meu corpo, com a força dele, com a natureza visceral do meu poder. Encontro força respirando, encontro poder no contato com minhas pernas e minha coluna. Encontro força no sol, na terra, nos alimentos. Reconheço essa Deusas quando caminho e sinto meus músculos, quando me alongo e sinto cada parte do meu corpo. Gosto da sensação do meu corpo..e da força dele...O Yoga me conecta profundamente com minha porção Perséfone e Árthemis.

Descobri Deméter com a maternidade, estar grávida, parir e amamentar me colocou em contato com algo extremamente poderoso. Nunca me senti tão bela e poderosa, como me senti nesses momentos. Um poder muito especial. Gostei muito disso. Gosto de saber que vivi essa experiência, mas entendo que Deméter  está de sobreaviso, a partir do momento que vi meus filhos crescerem...Ela naturalmente vai ganhando uma outra dimensão, fica em mim como memória, como recordação... não preciso tanto dela como antes...

Afrodite é a Deusa do Amor e da Beleza...Como adoro essa Deusa. Sedução, leveza, beleza... Minha Athena ainda briga com Afrodite, mas cada vez mais posso me apropriar das delicias da Afrodite que quer mesmo é ser amada e desejada. Minha Afrodite ainda se sente julgada pela Athena que sou, mas tenho dado espaço pra ela..e na maturidade, ela não me parece tão fútil, descubro que ela pode ser bela, sedutora e feliz..., mas com certeza essa não é a Deusa que tenho mais intimidade, tenho problemas em me entregar a ela. No fundo ainda a julgo pela futilidade.

Entretanto Hera, é a Deusa que ainda me intriga. Gosto do poder de Hera, mas reconheço que é a Deusa desse panteão, que eu menos gosto, que eu menos me identifico. Tenho problemas em ser reconhecida como a esposa de alguém, e esse é o orgulho de Hera. Tenho problemas em viver em função da carreira e do sucesso de um marido, e esse é a grande meta das Heras. Tenho alguns problemas com reuniões de esposas...Sempre acho que estou meio deslocada. Se me comparo com outras esposas, sempre acho que sou Athena demais.Talvez eu precise de mais algumas encarnações para me conectar com ela, mas acho que só o fato de ter vindo morar aqui nos EUA, por causa da carreira do meu marido, já foi uma grande concessão que fiz a ela. 

A energia dessas Deusas e o espaço que elas tomam na minha vida, faz uma composição única, cujo resultado sou eu. Completa e incompleta. Preenchida e faltante. Sempre estou buscando me conhecer, porque sempre estou pensando em como eu posso dar conta de mim mesma, pois a parte que é só minha, é muito maior que a parte que é de todos... como uma Perséfone, meu mundo interno é vasto...meus pensamentos e sentimentos são imensos e ocupam muito de mim...Na verdade, nunca tenho uma dimensão do quanto de mim, eu consigo trazer pra fora. Não sei do quanto de mim o outro consegue perceber.

Porque estou escrevendo sobre isso, eu ainda não sei..., mas acho que é uma tentativa de trazer um pouco pra fora, desse imenso mundo interno que as vezes me pego mergulhada. Me reconheço muito mais naquilo que só eu sinto e vejo de mim mesma, do que no que o outro percebe. O lugar dentro de mim, é sempre muito confortável e extremamente rico. Minhas referências mais confiáveis são internas. O grande exercício é trazer esse mundo para fora. Tenho sempre a sensação de que não sou eficiente nisso. Sem o meu trabalho, me sinto sem o meu melhor instrumento. Sem o meu trabalho, me sinto sem a melhor forma de falar sobre mim mesma. Por isso escrevo. Porque no fundo acho que sou como qualquer pessoa, preciso ser vista e entendida.

Ludmila Rohr




segunda-feira, 2 de agosto de 2010

É da minha conta sim!

Fico bastante indignada com muitas coisas que acontecem e me sinto na obrigação de abrir a boca, de reclamar e de mostrar a minha indignação. Nunca acho que as coisas que acontecem não são da minha conta, sempre acho que se aconteceu pra que eu visse, ou pra que eu soubesse, é porque me diz respeito.

Gostaria, as vezes, de ficar na minha vida confortável, aqui nos EUA. Temos uma vida tranqüila e podermos viajar alguma vezes durante o ano..., moro em um lugar extremamente seguro. Nunca me senti ameaçada na minha segurança pessoal por nada. Poderia ir ao mercado e me diverti, ir as compras e de me divertir...poderia estar preocupada com novas receitas e com lançamentos da estação, mas essa não seria eu. Poderia estar estudando e escrevendo, psicologizando a vida...mas não consigo ser apenas uma psicóloga, tenho que ser uma ativista.

Não reclamo da vida que tenho, adoro..., mas sou filha de sindicalista, acho no fundo do meu coração que tudo que acontece de injusto, eu tenho que me meter, tudo que acontece que ameaça alguma minoria desprotegida, eu tenho obrigação de me envolver. Assim funciona a minha consciência.

Sou alta, branca, não sou gorda, sou hetero, sou casada, tenho boa condição financeira, tenho dois filhos, sempre fui extrovertida, não fujo a nenhum padrão de beleza, nunca tive problemas pra fazer amigos, ou seja...não pertenço a nenhuma categorias que são constantemente espezinhadas e humilhadas.

Vejo os movimentos homofóbicos e racistas e me sinto pessoalmente ofendida, dói em mim...e isso não deveria provocar nenhum espanto...afinal, são pessoas como eu que estão sendo vítimas. Se aceito que um ser humano como eu seja vítima de qualquer ação de discriminação, estou sendo conivente com ela. Não quero ser e nem serei. 

Essa semana me aborreci profundamente com agressões que o movimento HOMOFOBIA NÃO comumente  recebe via twitter, vinda de rapazes violentos que falam coisas agressivas..eles são homofóbicos, mas são misóginos também...eles devem esconder atrás de tanto ódio um desejo não revelado...Ninguém pode odiar tanto pessoas que nem conhece, simplesmente porque elas são homossexuais. Mas eles também desqualificam as mulheres são misóginos e altamente narcísicos.

Não consigo entender porque odiar tanto alguém só porque ela é negra..., ou porque tem uma religião diferente da sua, ou porque se veste de forma diferente da sua. O preconceito é fruto da ignorância e não pode ser proibido, não existe fórmula, nem lei que proíba o preconceito, mas podemos sim, proibir a discriminação e lutar por direitos, pela igualdade. Aí é que me sinto na obrigação de atuar.

É da minha conta sim quando alguém no mundo sofre...vítima de outro ser humano. São duas partes de mim que estão ali representadas. Se sou humana, em algum lado eu devo estar..não posso estar em lado algum, não posso me esconder na omissão, pois esse lado não existe, afinal, quem cala consente, não é?

Não posso consentir calada que muitas violências sejam cometidas. Tenho que no mínimo falar. Deixar claro o meu descontentamento e minha reprovação. Não quero de hipótese alguma pertencer ao grupo que cala, que diz amém a tudo, achando que estão protegidos. 

Tenho muito respeito à liberdade de todas as pessoas, porque prezo imensamente pela minha. Aceito as diferenças e não suporto ver ninguém sendo humilhado. Quero viver num mundo onde as pessoas possam se expressar e serem respeitadas... Quero viver num mundo em que as pessoas não precisem ser todas iguais para não serem vistas como uma ameaça a segurança do outro. Quero viver num mundo PLURAL e que possamos simplesmente ser o que somos! Com LIBERDADE e com RESPEITO ao próximo!


Ludmila Rohr

P.S. Na foto, entre pessoas tão diferentes e tão iguais.