terça-feira, 31 de maio de 2011

SOU DOCE?

Antes da picada número 3 - SOU DOCE?
 Ontem fui picada por uma abelha.
Acho que elas me amam. Não é a primeira vez que passo por isso.
A primeira vez que isso aconteceu, descobri que sou alérgica a elas, fui inchando...meu corpo enlouqueceu com coceiras em questão de segundos...comecei a ter dificuldade de respirar e graças a um amigo que era estudante de medicina, não fiz um quadro mais grave.

Na segunda vez meu marido estava comigo, estávamos em Paria do Forte, lugar que mais amo estar na Bahia. Meu rosto começou a inchar, ele percebeu e fomos saindo rápido em busca de uma farmácia.
A picada número 3, foi a mais interessante de todas, eu estava na Índia, com meu marido e filhos, havíamos acordado cedo na cidade de Agra para ver o Taj Mahal ao amanhecer. Fui picada lá. Eu estava como responsável por um grupo. Fiquei tensa imaginando ter que ir para um hospital na Índia. Respirei tanto....nunca coloquei minha mente tão focada em um trabalho de cura...o braço foi inchando...fiz marcas ao redor da picada para visualizar a expansão da reação e mentalizava respirando...e comecei a caminhar saindo do Taj Mahal, voltando para o ônibus. A marca cresceu, cresceu...e parou...Relaxei e continuei na Taj como se nada houvesse acontecido!!! Poucas pessoas do grupo souberam.

A picada número 4 foi a mais dolorosa de todas. Estava na piscina da casa de amigos aqui no Texas. Muita gente conversando e rindo na piscina. Uma abelha e muita gente. Eu sou a escolhida mais uma vez. A picada doeu na hora, mas doeu infinitamente mais depois quando cheguei em casa. Fui parar numa emergência. Não aguentei a dor, e costumo dizer que não sou fresca em relação a dor. Pari meu dois filhos por via natural e sem anestesia, e achei tranquilo fazer isso, mas aquela picada doeu de verdade...e diferente do parto, que era um momento de felicidade, me perguntava qual a felicidade em ser picada por uma abelha mais uma vez? Nenhuma.

Em quatro dias embarco para o Brasil e tenho mil coisas pra fazer antes disso. Três capítulos de um livro novo sobre a última  palestra que dei em Salvador (As Três Certezas Libertadoras) para serem escritos, três vídeos para gravar para meu novo site sobre Sexualidade Feminina que será em Inglês. Além de todas as providências que temos que tomar antes de ir passar cinco semanas no Brasil.

Bom....um amigo lindo me disse que as Abelhas têm Bom Gosto. Tive que rir. Outras pessoas disseram que sou doce ou docinha, que é por isso que elas me escolhem. Também ri. Uma outra disse que as abelhas queriam um pouco do meu astral  "zen". Fofos. Amo meus amigos. O que seria de mim sem eles.

Ok...Sou doce (também) e estou indo em alguns dias mais uma vez para o Brasil...para a Bahia... Pode alguém querer algo mais doce que isso?

Estou feliz...e quero convidar a quem lá estiver para assistir minhas palestras. Darei 4 palestras no Espaço Mahatma Gandhi *, atenderei no consultório e farei alguns "Círculo das Deusas". Minha agenda já está com as secretárias, todos podem ter acesso. O Mahatma Gandhi lá em Salvador é o lugar mais doce que conheço, é o lugar mais doce para mim...Aprendi lá muitas coisas que me ajudam a viver bem e de forma amorosa e compassiva, tenho tentado passar isso adiante. 

A dor que senti com a picada da abelha perde toda a dimensão de sofrimento, por que ela é apenas dor. As "dores" não necessariamente significam sofrimentos, a maioria delas são simplesmente dores e ficam longe da minha alma. 

Vou acreditar nos meus amigos lindos...que me disseram que sou doce.
Sou doce como mel (também) ...e estou indo para Salvador ...
(mais um detalhe, toda minha família estará em Salvador. Inclusive Judson.)

Que mais posso esperar da vida?

Beijos...espero voces no Mahatma Gandhi.

Ludmila Rohr

* Espaço Mahatma Gandhi, Rua Rio de Janeiro, 694, Pituba, Salvador -BA, 41.830-400
(71) 3248-7533 www.mahatmagandhi.com.br 


quarta-feira, 25 de maio de 2011

ELA SE FOI......


Minha amiga era sábia. Se chamava Soufia...não era por acaso esse nome.
De fato ela era uma deusa... alguém que emanava uma energia muito especial.
Ela sabia brincar na dor.
Ela sabia amar com simplicidade.
Ela sorria com delicadeza. Sua voz era doce e querida.
Minha amiga foi muito amada e amou muito.
Teve três filhos lindos..e se dedicou à sua família.
Ele teve um só amor..e o amou muito por toda a vida.
Acho realmente que ela viveu pouco. Pessoas como ela deviam viver muito, muito mais.
O mundo perdeu Vera Soufia. O mundo nem sabia dela..., mas a perdeu.
Conheci essa amiga em momento de dor, mas rimos juntas...
Falávamos besteira e ríamos. Falávamos coisas sérias e chorávamos.
Minha amiga sabia que estava partindo...ela lutou bravamente contra o câncer por muitos anos...,
mas ela sabia que essa luta estava chegando ao fim e que ela ia descansar.
Na nossa última conversa falamos sobre a morte. Filosofamos.
Nunca tive muito medo de morrer...sempre tive medo de viver pouco ou de sofrer em vão.
Ela sentia que seu sofrimento estava acabando..e que já havia entendido o significado da sua vida.
Ela me disse que sua missão era ser esposa e mãe. Ela foi. Certamente muito especial.
Uma pessoa que cumpriu sua missão com beleza e com brilho.
Tenho certeza que Sagi, seu amor, e seus três filhos lindos, sentirão muito a falta dela.
...e essa falta não vai acabar...essa saudade não vai passar nunca..
Tenho certeza que seus pais não mereciam passar por isso pela segunda vez...perder a segunda filha para essa doença louca é impensável para qualquer ser humano.
Mas também tenho certeza de que minha amiga, onde estiver, está em paz.
Ela era sábia.
Ela já era luz.
Agora é pura luz e nos ilumina.
Obrigada Verinha por sua amizade....
chorando me despeço...mas não a esquecerei....

Ludmila Rohr

P.S. Desculpe Sagi, mas ela teve dois amores. Voce, claro, mas ela também amava Bono Vox do U2. Essa é pra voce amiga querida! 

segunda-feira, 16 de maio de 2011

"SER FELIZ É UMA RESPONSABILIDADE MUITO GRANDE..."

 Essa é uma frase da incrível Clarice Lispector. Na verdade ela ainda completa e diz que : "Poucos tem coragem". 

Concordo. Parece uma ironia, já que o que mais se fala, e se busca é a felicidade. As pessoas gastam dinheiro com livros e mais livros de auto-ajuda em busca da felicidade. Fazem cursos de meditação, fazem psicoterapia e muitas outras coisas, em busca da felicidade. 

Cientistas pesquisam os hormônios relacionados a felicidade. Tentam criar medicamentos que ofereçam algum prazer as pessoas. Palestrantes ganham dinheiro ensinando as fórmulas da tão sonhada felicidade. 

É comum a associação de felicidade com beleza, riqueza, saúde, magreza, sucesso, casamento, filhos...etc.. Mas existem pessoas ricas e bem sucedidas, lindas, magras, saudáveis, casadas, com filhos e ainda assim, infelizes. Elas nos ajudam a desconstruir  essa crença.

As pessoas costumam reagir com estranhamento diante da notícia de que um famoso, ou um lindo que comete o suicídio, ou está deprimido, ou com Síndrome do pânico. Dizem: mas como pode? ele é tão lindo! ou , como pode uma pessoa rica e linda ser infeliz

Por outro lado também é comum nas falas prontas que afirmam que felicidade é incondicional. Que ser feliz é uma condição interna. Que as pessoas felizes são as desapegadas, ou as que não guardam mágoas, ou aquelas que tem uma capacidade de se renovar, a famosa resiliência. Que pra ser feliz nada é preciso, basta amar. 

Bom...acho que tudo isso deve ser verdade. Acho também que é muito complicado falar sobre Felicidade devido a simplicidade que isso exige.

Invariavelmente, no consultório, as pessoas me procuravam por que não estavam felizes. Reclamavam dos casamentos, dos empregos, das profissões, do país, da condição financeira...e por aí vai. Queixas de infelicidade justificada de várias formas. Percebia também que as pessoas que mais rapidamente começavam a fazer contato com a tal felicidade, eram aquelas que mais coragem e disposição tinham para mudar.

Aquelas que se apegavam às queixas ou que culpavam o outro por sua infelicidade, eram as que mais dificuldade tinham. Parecia que tinham um "gozo" na queixa. Sempre que eu oferecia alguma alternativa por via de perguntas, que pudessem levá-las a algum lugar diferente, elas respondiam que já haviam tentado, ou que eu não havia compreendido a dimensão do problema delas, ou que aquilo não ia funcionar. Facilmente a culpa era minha, como terapeuta de não haver entendido bem a questão, e escorregavam da terapia.

As pessoas que encaravam algumas mudanças, errando ou/e acertando, relatavam que se sentiam melhor, que sentiam-se mais fortes, mais animadas, mais encorajadas. Elas, pelo simples fato de fazerem algum movimento em suas vidas, sentiam-se mais felizes. Parece que o ato de "tomar as rédeas" da própria vida e serem agentes transformadores, trazia essa sensação.

Por isso tenho que concordar com Clarice, quando ela diz que nem todos tem coragem, por que é realmente preciso de coragem para ser feliz. É preciso coragem para assumir a responsabilidade pelas mudanças necessárias. É preciso coragem para deixar as queixas de lado e fazer o que deve ser feito. É preciso coragem para abrir mão das fantasias de completude, e ser feliz com o que se é. Deixar o "leite derramado" pra trás e ser feliz apesar das faltas, apesar das dores.

Quando perguntado sobre o que era Felicidade, o Dalai Lama responde: "Que morram os avós, os pais e os filhos. Nessa ordem". Isso é felicidade, que a vida corra seu percurso natural. Simples assim.


Ludmila Rohr

segunda-feira, 9 de maio de 2011

OTIMISMO x PESSIMISMO

Infelizmente não sou otimista.
Definitivamente não sou. Até gostaria de ser, mas não consigo. Tenho uma tendência desde que lembro de mim, a ser realista demais, para suportar a parcialidade dos otimistas e dos pessimistas. 

Era uma velha quando criança. Lembro de mim, preocupada com as coisas que a maioria das crianças nem se importavam. Na adolescência idem, acho que até fui meio "dark", não conseguia ser uma adolescente típica, era "profunda" demais pra minha idade. 

Acho que a maturidade até que me fez mais leve, e um pouco mais otimista que fui a vida toda. Quando criança, lembro de ter lido um livro chamado "Polyanna" e ter odiado. Odiava a "brincadeira do contente" da personagem principal que eu qualificava de toda sorte de descrições indelicadas. Achava que era a própria imbecilidade lidar com a vida como Polyanna, que eu julgava ser uma pessoa sem força e sem coragem para ver a realidade.

Preciso esclarecer que estou escrevendo sobre isso, porque uma pessoa que me segue no twitter e que é sempre tão educada e delicada, me perguntou sobre o que eu faço quando estou tomada pelo pessimismo.  Estava esperando a inspiração chegar para escrever o post dessa semana, quando essa pergunta chegou. Decidi na mesma hora que esse seria o tema dessa semana. Minha resposta para ela foi que eu escreveria aqui, já que no twitter, o limite de 140 caracteres me impediria de falar como eu gostaria sobre esse tema.

Antes que os apressados me julguem pelo começo do post, quero deixar claro que também não sou uma pessoa pessimista. Não lembro de mim sendo pessimista em nada na minha vida. Achando que as coisas vão dar errado ou com algum sentimento de desistência ou derrotismo. Muito pelo contrário. Sou muito construtiva e pró-ativa, e acho que se depender de mim, posso qualquer coisa.

Sempre me recusei a ter uma visão parcial das coisas, embora tenha a convicção de que estou muito longe de uma visão plena que os Budhas alcançam (confesso que essa é a minha meta). Mas, tentei por toda minha vida ampliar o máximo que pude a minha perspectiva das coisas, tentando incluir as mais variadas possibilidades e nuances de cores possíveis acho que até mesmo para ter menos chance de ser surpreendida (coisas de capricorniano), talvez até como uma defesa. 

Percebi isso claramente quando estava grávida do meu primeiro filho e por não saber o sexo do bebê as pessoas me diziam no maior amor: "Tudo bem ser menino ou menina, contanto que venha com saúde!". Eu ouvi essa frase algumas vezes até estourar num não muito educado: "E se não vier com saúde, devo jogar fora?" Para mim, estar gerando um bebê incluía qualquer possibilidade, inclusive aquela que as pessoas não querem nem pensar, como se evitando pensar nela, as fosse proteger de algo.

Quando meu marido teve câncer, a possibilidade da morte sempre existiu na minha mente. Por pior e mais sofrido que isso fosse, sabia que isso era uma possibilidade. Sempre dizia pra quem perguntasse por ele, que ele estava fazendo o melhor que podia, e era verdade, e que o resultado não nos pertencia. A nossa parte era fazer o melhor. E fizemos, porque em nenhum momento deixamos de pensar que a cura fosse uma possibilidade concreta também.

Ser OTIMISTA pra mim é aquele que só vê o lado bom das coisas, as boas possibilidades, sem pensar que aquilo que ele julga ser bom, de repente nem é bom de fato. A minha questão é: Como é possível ter certeza de que aquilo é realmente uma coisa boa? 

O inverso é verdadeiro também. Ser PESSIMISTA é pensar que só as coisas ruins podem acontecer. É sempre pensar no pior, ou que as coisas não darão certo. Assim como o otimista, o pessimista é tendencioso, vê apenas um lado. Julga as coisas pelas aparências ou pela sensação agradável ou desagradável que elas possuem. Um julgamento simplista. É agradável, então é bom; é desagradável, significa que é ruim. Sabemos que as coisas não são simples assim. Muitas coisas dolorosas e desagradáveis se revelam extremamente positivas e construtivas em nossas vidas, não é mesmo? Da mesma forma, muitas coisas deliciosas, se revelam entraves importantes no nosso crescimento.

Acho que as coisas são como são, e a grande diferença é o nosso olhar sobre elas. Normalmente não questiono as coisas, mas questiono a mim mesma. O que tenho feito com elas? Qual a minha parte nessa história? 

Mas....pensando bem....podemos fazer uma confusão entre PESSIMISMO e INTUIÇÃO. Todas as  vezes que me senti mal em relação a alguma coisa que estava prestes a fazer, ou mesmo algo que estava para acontecer, e me julguei sendo pessimista, depois descobri que havia tido uma intuição. Algo me avisando que não devia ir por aquele caminho. Algo dentro de mim sabia que aquilo não ia dar como eu desejava. Nem posso dizer que minha intuição me dizia que esse algo não ia dar certo, porque eu estaria me contradizendo. Acho que minha intuição apenas me dizia que eu estava a desejar algo que não aconteceria, ou que aquilo que não sairia como eu estava planejando. 

Acho que a nossa INTUIÇÃO é realmente nosso sexto sentido. Ela "vê", "sente" ou "prevê" aquilo que nossos olhos não querem ver, ou aquilo que nossos desejos impedem que nossa razão conclua. Toda vez que neguei minha intuição, percebi depois que errei. Devia ter dado atenção a ela. 

Sendo REALISTA, acho que para morrer basta estar vivo. Sendo realista, acho que existe chance de algo dar errado, isso pode acontecer. Sendo realista, não consigo deixar de pensar que tudo é possível. Inclusive aquilo que aparentemente é impossível. Sendo realista acho que as coisas mais improváveis são possíveis, e as mais deliciosas também. 

Sempre quis uma vida inteira e nada pela metade. Não posso querer ver uma parte das coisas. Não posso escolher apenas aquilo que satisfaz meu ego ou minha vaidade.

Sendo REALISTA acho que "NADA é impossível e TUDO é possível".
Gosto de viver assim.

Ludmila Rohr



segunda-feira, 2 de maio de 2011

SOMBRA PODEROSA

Broadway- NY


Esse último fim de semana, tive o imenso prazer de assistir pela segunda vez "O Fantasma da Ópera, na Broadway, em NY. Pensava que algo do encanto que tive na primeira vez que vi, pudesse se perder, mas tive uma agradável surpresa ao me dar conta de que estava completamente enganada.

A história contada nessa ópera é  uma história de amor. Uma história de rendição à sombra. Uma história de conexão com o poder que emerge a partir dessa rendição.

Quem nunca se sentiu atraído pelos aspectos sombrios da vida? Quem nunca se sentiu excitado por aquilo que é proibido ou que faz parte do lado sombrio da vida ou das pessoas? Triste daqueles que não mergulham em suas próprias sombras e se contentam apenas com o que o seu ego revela de si mesmo. Segundo Jung, pessoas assim,  abrem mão de conteúdos preciosos, segundo ele, "ouro puro".

 Penso que essas pessoas provavelmente tem vidas pobres e rasas. Penso que as pessoas que constroem uma parede rígida entre o bem e o mal, entre o frio e o quente, entre o negativo e o positivo, entre o que é de "Deus" e o que é do "Diabo", devem ter uma vida muito pobre e sem complexidades.

Penso que pessoas assim, são as que mais julgam o outro e também, são as que mais são duras e inflexíveis em seus julgamentos. Pessoas assim provavelmente tem problemas com o prazer e com o desejo. Pessoas assim, provavelmente estão distantes da compaixão e da bondade. Pessoas assim provavelmente jogariam pedras em Maria Madalena por amor a Maria. Pessoas assim, provavelmente acreditam em pecados.

A "sombra", sob o olhar da psicologia desenvolvida por Jung, é um aspecto do nosso inconsciente que guarda os conteúdos negados ou reprimidos. Conteúdos que nossa "persona" não consegue, por muitas razões, lidar conscientemente. Aquilo que a persona julga não sermos nós mesmos, é a nossa sombra. Seria algo como o "negativo" de nós mesmos, aquilo que é capturado pelo filtro do ego, da cultura e da educação e não podem vir a tona. 

Comumente vemos nossa "sombra" nos outros. É bem conveniente assim. Vemos, julgamos e acusamos as outras pessoas por revelarem aspectos da nossa sombra. Não queremos que ela seja revelada, por isso, qualquer pessoa que tenha comportamento ou características que negamos em nós mesmos, nos irrita profundamente, e quanto mais inconsciente formos da nossa "sombra" mais irritados e até mesmo irados, ficaremos. Muitas vezes buscamos ajuda na terapia para conhecer mais da nossa sombra. Um bom processo terapêutico nos ajuda a encontrar coragem e mergulhar na nossa alma e reconhecer em nós mesmos, e não nos outros, o que negamos e reprimimos.

A sombra deixa de ser sombra quando a conhecemos. Essas energias se transformam em poder. Quanto mais conscientes estivermos de nós mesmos, menos conteúdos teremos na sombra, mais expandida será a nossa consciência, mais inteiros estaremos. Quanto mais distantes nossa "persona" estiver do nosso "self", mais fracos e frágeis seremos. A força vem da nossa inteireza. A nossa força e nossa poder vem de nos aceitarmos e entendermos como um ser inteiro, com aspectos que gostamos e outros nem tanto. 

O "fantasma" da ópera é sedutor, apaixonado, intenso. Nenhuma pessoa consegue assistir a essa ópera sem se apaixonar por ele. Impossível não ficar excitado ao assistir Christine, como uma linda "Perséfone" ocidental, sendo levada aos porões nebulosos do inconsciente pelo fantasma apaixonado.

O mocinho da história, não tem a metade do charme e poder que o fantasma tem. Apesar de "Christine" escolher o mocinho, o seu poder vem da sombra. Quando ela se rende, se entrega ao poder que a sombra lhe oferece, ela se transforma na cantora que é, na mulher que é. Antes disso, ela é apenas uma figurante na vida. Assim como na mitologia grega, "Coré" se transforma na deusa "Perséfone" ao se render ao amor de "Hades", o Deus do mundo Avernal.

O fim da peça nos mostra que a sombra nunca morre. Não conseguiremos capturá-la. Não temos o poder de negá-la ou aprisioná-la. A única atitude funcional em relação a sombra, é abraçá-la. Quando "Christine" a abraça, quando a mocinha reconhece o poder da sombra, ela se desfaz. Ela não desaparece, ela simplesmente perde a forma e o poder sobre Christine e ela pode seguir o caminho que escolheu. 

Somos prisioneiros da sombra enquanto a negamos, somos prisioneiros do nosso inconsciente e dos conteúdos reprimidos, enquanto fugimos dele. No momento que nos dedicamos a olhar de forma amorosa para nossa "sombra" nos libertamos e assimilamos poder e energia que lá estava represada.

No fim da Ópera, vemos que é impossível capturar e submeter a "sombra". Não existe poder nenhum que consiga isso. A única coisa construtiva que podemos fazer com nossa sombra é lançar um olhar amoroso sobre ela e  transformar seu conteúdo inconsciente em consciente.

As perguntas que lanço são: Quais os conteúdos da sua sombra? Como ela se parece? Que partes suas estão encerradas em um porão escuro? Que partes negadas podem e devem ser abraçadas para que voce se sinta cada vez mais inteiro?

Bom...o mocinho é lindo, mas o Fantasma é quente. O mocinho é bom, mas o fantasma é intenso. Que tal unirmos esses aspectos em uma só pessoa?

e.....que tal se essa pessoa formos nós mesmos?

Ludmila Rohr