quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

COMIDA: UMA AVENTURA NA KOREA

Comida preparada da mesa.
 Adoro comer.
Passei dois anos nos EUA fotografando e falando sobre tudo que eu comia, cada restaurante, cada coisa nova, cada fruta regional, cada sanduíche... enfim, adoro comer e acho que essa é uma boa forma de conhecer a cultura de um país que visito. Sempre sou muito curiosa em relação a comidas que não conheço, acho fascinante pensar na história da comida, como aquele povo desenvolveu determinados hábitos alimentares e paladares. Penso também se existe humanos comendo aquilo e tem a mesma fisiologia que eu, posso comer também. Tudo é uma questão de hábito. É claro que posso até comer apenas uma vez, ou posso rejeitar pelo cheiro, mas mesmo assim acho fascinante conhecer. Sou baiana e a minha comida  favorita é  "caruru". Não posso julgar quem se recuse a come-lo por sua aparência. Caruru é feio e delicioso. Parto do principio que se adoro caruru e tem baianos que gostam de sarapatel (feito com tripa de porco), quem sou eu pra julgar cultura dos outros. 

Comida saudável


Passarei um tempo aqui em Seul, capital da Coréia do Sul, e terei um universo imenso e desconhecido de pratos e comidas pra desbravar e compartilhar com vocês.

O curioso em Seoul é perceber que as pessoas são magras na sua imensa maioria. Muito difícil encontrar um Coreano acima do peso. Eles são esbeltos, esguios, muito elegantes mesmo (falarei sobre a questão estética em outro post). Isso é um bom sinal. Podemos supor que eles tem uma alimentação saudável. Eles comem muitos legumes, cogumelos de várias espécies e frutos do mar em abundância.
Coisas estranhas




Essas coisas estranhas sendo vendidas na rua me chocaram um pouco. Demorei alguns instantes para me dar conta de que eram frutos do mar seco. Polvo, lulas, algas, peixes..etc...tudo desidratado. Parece muito popular. Nos remete ao nosso camarão seco.

comida de rua




Existem uma infinidade de pequenos restaurantes nessa área que moro e muitos ambulantes que vendem comidas  em suas barraquinhas que são muito frequentadas apesar do frio. Passo olhando cada uma delas e fotografando, tentando imaginar o que é aquilo que está sendo vendido, uma coisa é certa, tem pimenta. O Coreano ama pimenta. Assim como na Índia que tive que me acostumar com a pimenta, aqui acho que vai ser a mesma coisa. 
O que será meu Deus?

SOJU
Eles bebem SOJU. É a "cachaça" deles. É mais fraca que a nossa cachaça, muito mais fraca que Tequila ou Vodka, ou mesmo que o Sakê. É fraquinha...ou pelo menos parece ser...eles costumam colocar um shot de Soju em um copo de cerveja. Mistura que me pareceu deliciosa e que, só depois entendi, disfarça o Soju, quando percebi já não tinha volta. Fiquei de pilequinho.
O povo adora, mas o que será?











Minha gente...isso é cheiroso!!!
Depois descobri que é lula frita!
Parece que fica crocante e sequinho.
Esse é certo que vou comer.





Duas dificuldades a serem dribladas:

Cardápio com Fotos
 1- Os cardápios são na sua imensa maioria em Coreano e graças a Nossa Senhora Protetora dos famintos, eles tem fotografias, na maioria das vezes escolhemos nossos pratos por elas e contamos com a sorte.



2- Não existem talheres ocidentais nos restaurantes. Eles comem com a maior desenvoltura usando seus chopsticks de metal e nós ficamos no esforço. Nunca tive dificuldade para comer de "pauzinhos" nos restaurantes japoneses que frequentava no Brasil, mas esqueçam, lá a gente usa pauzinhos de madeira, a comida não escorrega, tem atrito. Aqui os "pauzinhos"são de metal como os nossos talheres. A comida escorrega ... damos um show a parte para eles que não entendem a nossa falta de habilidade. Estamos superando. 


Pegando habilidade


Bom....o capítulo "Compra no Supermercado" será provavelmente o seguinte. Não percam. Supermercado é como a Disney. Mil coisinhas para nos divertirmos. Mil letrinhas que parecem desenhos e com instruções de preparo em Coreano também. Uma coisa fofa e divertida.

Até a próxima!

Ludmila

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PRIMEIRA IMPRESSÃO DE SEUL

O Frio
Estou morando em Seul, (ou Seoul - se diz como Soul em Inglês), na Korea e, a partir de hoje começo a compartilhar as minhas impressões com voces.

Pra entender a importancia de Seoul não podemos esquecer que ela renasceu de um pós-guerra que a devastou quase completamente. O país depois de 1950 estava destruído e faminto, depois de anos e anos de guerras que acabaram por dividir o país em dois. Moro na Coréia do Sul, que foi apoiada pelos EUA após a Guerra Fria. Um país pequeno, localizado entre a imensa China e o poderoso Japão. Pra quem nasceu no Brasil ouvindo dizer que nós éramos o país do futuro, começo a me dar conta de que o futuro, de fato chegou para os Coreanos, pra nós acabou sendo um promessa jogada ao vento.

Chegamos em uma noite gelada de começo de inverno. Logo as descer no aeroporto me deparo com a beleza do mesmo...lindo.. imenso e extremamente bem sinalizado e eficiente. Sei por um cartaz luminoso que esse aeroporto foi escolhido como o melhor do mundo entre 1700 aeroportos selecionados. Acreditem, é de impressionar mesmo... mas, ele não dá medo... de tão bem planejado, me deixou segura e com a certeza de que eu estava entrando num mundo "que funciona", que não preciso contar com a sorte. Fiquei tranquila.

Fofinhos
Os meus primeiros dias tem sido de descoberta, muitas descobertas. Começo a reconhecer alguns sons que se repetem nesse idioma impossível. Começo a descobrir as saudações do dia-a-dia. Muito incrível isso. Descubro que não me sinto pressionada a nada aqui. Ninguém pode me cobrar nada, nem mesmo meu ego, porque minha ignorância aqui é um fato, e não um problema, e isso é libertador.

Como um bebê, começo a descobrir como me relacionar com as pessoas e com as coisas nesse país tão diferente.  É uma sensação prazerosa, que me alforria de qualquer cobrança. Muito bom! Sinto que estou liberada pra andar de boca aberta de espanto enquanto olho as coisas..., liberada pra rir de mim mesma quando faço uma "besteira" ... a ignorância total me coloca em um patamar protegido que só as crianças tem direito. Decido fazer um bom uso disso e aventurar... olhar pra tudo com toda curiosidade que tenho direito...e fazer exclamações de espanto sem contenções....e me liberar da vaidade egóica que me cobraria saber o que não sei. Me divirto assim. 

Amanhecer da janela do meu quarto

As primeiras impressões são incríveis. A cidade é enorme, cheia de gente e, o inverno é frio, muito frio. Nosso primeiro dia foi brindado com a primeira neve desse inverno. Em qualquer direção que olho, vejo pessoas andando para lá e para cá. Preciso explicar que a pertinência desse comentário reside no fato de que antes de vir pra cá, estava morando em Houston, cidade grande do Texas, onde é quase impossível ver pessoas andando nas ruas. Elas estão dentro de seus carros. Aqui elas estão em todo lugar, nos carros, em um trânsito pesado, nos trens do metrô, que cobrem 100% da cidade de Seoul, andando nas calçadas e ruas. Adoro isso!!! Adoro ver gente! Posso passar um dia inteiro sentada em algum lugar apenas olhando pessoas passarem..olhando seu andar, suas roupas, seu gestual, suas expressões...realmente adoro, e percebi logo que isso eu terei em abundância aqui. 

Resolvo que sairei a andar livremente pela cidade conhecendo cada cantinho...sem pressa...e com curiosidade infantil. Com a curiosidade daqueles que sabem ver o extraordinário no ordinário. Resolvo que tudo aqui será extraordinário e não é difícil fazer isso. Acho que fiz isso em cada país que visitei...fiz isso nos EUA...farei isso aqui. Está decidido.

Casamento acontecendo em um shopping
O contato físico aqui não vem acompanhado de um "I'm sorry" como nos EUA. Cada pessoa que se esbarra sem querer com a gente não pede desculpa por isso. Percebi que esses dois anos que vivi no Texas já foram suficientes para incorporar esse comportamento, percebi que eu aqui me desculpava o tempo inteiro e que ninguém dava bola para minhas desculpas. Parei com isso. Relaxei. Que coisa boa. Os contatos físicos aqui são menos carregados de tensão. Começo a ver que os namorados se abraçam com carinho e trocam olhares apaixonados em todo lugar. O Coreano é um povo romântico!!! Que coisa linda de ver. Os rapazes carregam as bolsas das namoradas no metrô.

A estética coreana é um capítulo a parte. Cheguei cheia de idéias preconcebidas e de informações equivocadas que caíram por terra rapidinho. As mulheres são simplesmente lindas!! Elas são magras, esbeltas, elegantes e estão bem vestidas o tempo todo. Casacos lindos, botas lindas, cabelos e maquiagem bem feitas....elas são show. Muito difícil encontrar alguém com visual descuidado e relaxado. As pernas que são lindas, sempre estão expostas. Saias curtas o tempo todo. Os jeans e camiseta dos americanos dançaram aqui. Elas usam saias, vestidos com as pernas cobertas por meias pretas que valorizam ainda mais a beleza natural. Elas são realmente lindas e elegantes, e tenho a impressão que elas sabem que a estética oriental está na moda. Elas são sexualizadas e alegres, bem diferente das americana que oscilam entre os extremos da histeria e da assexualidade. Diferente também da erotização comum no Brasil, que beira a deselegância.

Esse país que ressurgiu das cinzas em um pouco mais que 50 anos, pobre e faminto, hoje tem o melhor e mais eficiente sistema de transporte público do mundo. Toda Seoul pode ser visitada de metrô. Eles são bem sinalizados, modernos, seguros e limpos. Andando neles (minha grande paixão no momento) vejo cenas fantásticas. Vejo que as pessoas entram, colocam seus pertences em uma prateleira que tem acima das cabeças e sentam. Passam o trajeto inteiro sem checar se a bolsa ainda está lá. Quando chegam ao destino, levantam, pegam seus pertences e saem. Eu, brasileira assustada, fico tensa, olhando, achando que alguém vai me roubar. Será que um dia me curo desse trauma?

Bonecas do artesanato coreano
 Em uma das minhas andadas fui parada por um grupo de estudantes coreanos para uma entrevista. Educadamente me pediram que perdesse um pouco do meu tempo com eles. Estudavam inglês e tinham como atividade de casa, entrevistar alguém em inglês. Expliquei que meu idioma era o português, mas eles me quiseram mesmo assim. Tive os 15 minutos de contato mais caloroso com estranhos desde que deixei de morar no Brasil. Eles eram doces e educados, perguntavam se eu conhecia alguma marca coreana. Ficaram encantados quando contei que meu último carro era coreano e que havia sido o melhor carro que já tive. Perguntaram se eu já havia andado de metrô e queriam saber como era o sistema de transporte do Brasil. Falamos sobre futebol, sobre a Copa do Mundo...eles só tinham 5 perguntas do homework pra fazer, mas ficamos papeando...e rindo.. eles riam muito de mim e eu deles. Achei isso tão próximo de nós brasileiros. Apaixonei. Despedimos com fotos, em que ficamos corporalmente coladinhos...pude sentir o calor do corpo de uma menina que estava pertinho de mim. Que saudade estava disso depois de dois anos morando nos EUA, onde o espaço físico do outro não deve ser invadido. Fiquei com saudade deles.
Meus entrevistadores

Gente... escrevendo agora, me dou conta que quando comecei esse blog estava percorrendo uma jornada dura, na luta contra o câncer do meu marido, esse blog nasceu como uma terapia para mim na época, todos os posts dessa época falam disso; em seguida a jornada morando nos EUA e tudo que aconteceu comigo lá..... e agora percebo que mais uma jornada começa aqui, em Seul na Coréia do Sul... Quero dizer que conto com a companhia de vocês e adoro quando vocês me escrevem e comentam o post. Ficarei contando e refletindo aqui nesse espaço sobre as minhas experiências nesse tempo meu que começa agora. No fim do ano estarei em Bali para o reveillon, e contarei pra vocês como é esse lugar mágico que jamais sonhei conhecer.... e já tenho outras viagens agendadas para logo mais aqui na Ásia.

Conto com a companhia fiel de voces.
Escrevam, comentem...me contem como estão sendo tocados pelo meu blog. Eu agradeço.

Beijos


Ludmila Rohr

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

CONFESSO QUE VIVI

Hoje foi meu último dia em Houston, estou mudando para Seul na Coréia.

Dois anos atrás eu chegava em Houston no Texas e me descobria apaixonada por aquela que seria minha casa por esse período. Houston é organizada, moderna, bela, limpa e fácil de se locomover. Adorei me perder e me achar nessa cidade imensa e cheia de viadutos e highways. É certo que nesses dois anos também fiz várias viagens ao Brasil, várias aqui dentro dos EUA e até a Europa. Foram 2 anos de muitas milhas de vôos, de descobertas de novos lugares, novas pessoas, novas paisagens e principalmente, foi um tempo de me descobrir capaz de viver em outras culturas e de sentir que posso estar e ser feliz independente do lugar.

Esse foi um tempo muito excitante para essa capricorniana que adorava uma rotina. Vivi na prática aquilo que sempre soube, que minha estabilidade, de verdade, é interna. Gostei imensamente disso. Me dou conta de uma sensação inebriante de liberdade no meu corpo e na minha alma quando penso nisso! Nunca me senti tão livre e tão expandida. A liberdade que vem do desapego e da meditação ( e como meditei nesses dois anos!!). A liberdade que nasce do aprendizado e da resignificação de muitas coisas. A liberdade que vem de uma nova ordem de prioridades e da certeza que tenho que não preciso manter na minha vida nada que me impeça de crescer e de ser feliz.

Meu trabalho que antes era focado no consultório, teve que ganhar asas, tive que ser criativa e inventar uma nova firma de trabalhar. Criei um site sobre Sexualidade Feminina e escrevi um livro, além dos grupos de Respiração e Círculo das Deusas que fiz aqui em Houston que me alimentaram profundamente. Descobri que a forma e o lugar é o que menos interessa, que independente de onde eu esteja sempre terei algo para dar e muito para receber. Estou em paz com isso. Posso trabalhar em qualquer lugar e tenho certeza de que posso criar novas formas de fazer isso.

Minha família sofreu muitas mudanças. Caio, meu filho mais velho, ficou no Brasil....isso é o motivo de muita saudade no meu coração, mas nunca achei que algo estivesse errado, ele está seguindo com a vida dele, e isso é perfeito. Tenho confiança absoluta na sua capacidade de encarar o mundo. Ele é lindo, maduro, emocionalmente estável e consistente. Lucas, meu caçula, que veio conosco, está tendo a chance de estudar em uma universidade americana, com nossa ida, vai ter a chance de morar só e de cuidar da vida dele. Isso não é incrível? Quem não gostaria de ter uma chance dessa? Eu gostaria. Apesar da saudade, fico feliz e em paz com esses arranjos que a vida fez. Meus filhos são pessoas muito interessantes e são pessoas melhores que eu. 

Quando sai do Brasil não só deixei minha cidade, minha família e meu trabalho, deixei também amigos queridos. Nunca achei que teria problemas em fazer amigos, principalmente porque sei que amizade consiste em troca, em dar e receber, e como sou disponível para dar e aberta para receber, sempre penso que farei amigos em qualquer lugar. Mas essa estadia em Houston me possibilitou não apenas fazer amigos, mas ter encontros de alma, conheci pessoas que entraram na minha alma e deixaram marcas profundas, daquelas que o tempo não apagará. Pessoas incríveis que só posso concluir que minha alma mereceu encontra-las. Falarei delas em outro post, mas tenho certeza de que elas sabem dessa conexão que me refiro. Obrigada amigas serei grata por toda a vida, e tenham certeza de que gratidão é um dos sentimentos que mais adoro sentir! 
O Mundo é o meu lugar

Não seria capaz em apenas um post de dizer tudo que vivi e aprendi sobre mim e sobre a vida nesses dois anos. Anos que foram intensos com seus ganhos e perdas, e como sempre desejei estar inteira nas minhas experiências, como sempre quis vivê-las com intensidade e nunca pela metade, posso desde já afirmar que meus desejos foram atendidos.

Plagiando Neruda posso dizer: Confesso que vivi.

...e que venha TUDO que a VIDA preparou pra mim!!!

Coréia estou chegando!!

Ludmila Rohr