Hoje foi um dia longo..... consulta com médicos para determinar como será a quimioterapia. No outro câncer, tudo foi feito em SP, radio, quimio...consultas, dessa vêz tudo mudou; cirurgia em SP e quimio aqui em Salvador. Gostei da médica que o acompanhará aqui, apesar de estar acostumada com os de SP, acho que ela foi ressonante com o nosso sofrimento. Tenho a tendência a pensar que é coisa de baiano, embora ao escrever isso, me sinta injusta com a forma maravilhosa que fomos tratados em SP, mas aqui, eu estou em casa, acho que isso faz diferença.
Enquanto aguardava na sala de espera, olhava as pessoas; fazia isso no ano passado em SP também. Nas salas de espera de quimio e radio vi minhas fantasias a respeito de pacientes oncológicos serem reafirmadas e completamente transformadas também. Conheci em SP , durante o tratamento do primeiro câncer, o paciente oncológico das minhas piores fantasias e das melhores também. Vi pessoas com raiva, com medo, sentindo-se sozinhas...vi velhos, adolescentes.... e vi pessoas guerreiras, esperançosas e corajosas.
Essa experiencia de ser acompanhante de paciente de câncer é muito forte. Eu estou lá com o meu marido, e as vêzes penso que não pertenço àquele lugar... ainda acho que ele é diferente, que a doença dele é diferente, que com a gente a história é diferente. Bobagem....ali, somos iguais....todos estão ou enfrentando uma doença que ninguém gostaria de enfrentar na vida, ou estamos sofrendo porque alguém querido nosso está fazendo isso. Nossos medos são os mesmos. Temos medo do sofrimento e da morte. Eu tenho.
Olho as pessoas e vejo que algumas mulheres usam perucas, outras usam chapéus e ainda há aquelas que exibem naturalmente a cabeça careca. Elas têm todas as idades, são mães, avós e filhas, são amigas de alguém. Os homens mostram a careca. Tudo bem, eles podem fazer isso sem chamar atenção.
Meu marido iniciará um tratamento de seis mêses de quimio. Nesse momento, as estatíticas são favoraveis a ele. A médica olha pra mim e diz solidária: Muitas mudanças, né? e eu choro....eu simplesmente choro, porque de fato são muitas mudanças, são mudanças incomensuráveis, são mudanças que ainda nem me dei conta....tudo mudou, nada está do mesmo jeito. Minha percepção das coisas mudou, as prioridades mudaram, a noção de tempo mudou, a relação com a comida, com o ar que respiro, com minhas crenças e até com a minha prática espiritual...tudo mudou....é como se de repente o chão debaixo dos meus pés ficasse o tempo inteiro em movimento. Acho que em algum momento poderei me acostumar a isso, mas por enquanto.... sinto medo.
O mais incrível é se deparar com a ilusão de que pensávamos, antes da doença, que tínhamos algum controle sobre alguma coisa. De fato, nunca tivemos controle sobre nada, a única coisa que podemos exercitar algum controle, é sobre a nossa mente, e isso muda tudo. Se controlo os meus pensamentos, posso manter a noção de realidade.
No caminho do yoga, nos ensinamentos Vedantas e no Budismo, aprendemos a não nos identificarmos com os fenômenos e, isso é libertador, pois se não me identifico com o câncer, apesar de não negá-lo (muito pelo contrário), olho pro meu marido e vejo nele, o mesmo homem de sempre, o homem que é justo, batalhador, pais dos meus filhos, lindo e que me ama muito....isso não mudou...isso é o que ele é. O que muda, é que esse homem, agora tem diante dele uma batalha pela vida, e terá que enfrentá-la com as mesmas virtudes que viveu até agora e outras tantas que ele terá que descobrir que já existiam dentro dele e que agora precisam ser reveladas.
Sinceramente acredito que temos em nós tudo aquilo que precisamos pra enfrentar nossos desafios. Se em algum momento não sentimos assim é porque nos afastamos daquilo que realmente somos. E nós...além de sermos abençoados com o melhor tratamento possível, temos ainda uma família linda e amigos, muitos amigos que rezam, oram e vibram por nós!
Namastê!
Ludmila Rohr
P.S. obrigada a todas as pessoas que me mandam emails. e vibram por nós...vcs não têm idéias de como isso nos alimenta.
Enquanto aguardava na sala de espera, olhava as pessoas; fazia isso no ano passado em SP também. Nas salas de espera de quimio e radio vi minhas fantasias a respeito de pacientes oncológicos serem reafirmadas e completamente transformadas também. Conheci em SP , durante o tratamento do primeiro câncer, o paciente oncológico das minhas piores fantasias e das melhores também. Vi pessoas com raiva, com medo, sentindo-se sozinhas...vi velhos, adolescentes.... e vi pessoas guerreiras, esperançosas e corajosas.
Essa experiencia de ser acompanhante de paciente de câncer é muito forte. Eu estou lá com o meu marido, e as vêzes penso que não pertenço àquele lugar... ainda acho que ele é diferente, que a doença dele é diferente, que com a gente a história é diferente. Bobagem....ali, somos iguais....todos estão ou enfrentando uma doença que ninguém gostaria de enfrentar na vida, ou estamos sofrendo porque alguém querido nosso está fazendo isso. Nossos medos são os mesmos. Temos medo do sofrimento e da morte. Eu tenho.
Olho as pessoas e vejo que algumas mulheres usam perucas, outras usam chapéus e ainda há aquelas que exibem naturalmente a cabeça careca. Elas têm todas as idades, são mães, avós e filhas, são amigas de alguém. Os homens mostram a careca. Tudo bem, eles podem fazer isso sem chamar atenção.
Meu marido iniciará um tratamento de seis mêses de quimio. Nesse momento, as estatíticas são favoraveis a ele. A médica olha pra mim e diz solidária: Muitas mudanças, né? e eu choro....eu simplesmente choro, porque de fato são muitas mudanças, são mudanças incomensuráveis, são mudanças que ainda nem me dei conta....tudo mudou, nada está do mesmo jeito. Minha percepção das coisas mudou, as prioridades mudaram, a noção de tempo mudou, a relação com a comida, com o ar que respiro, com minhas crenças e até com a minha prática espiritual...tudo mudou....é como se de repente o chão debaixo dos meus pés ficasse o tempo inteiro em movimento. Acho que em algum momento poderei me acostumar a isso, mas por enquanto.... sinto medo.
O mais incrível é se deparar com a ilusão de que pensávamos, antes da doença, que tínhamos algum controle sobre alguma coisa. De fato, nunca tivemos controle sobre nada, a única coisa que podemos exercitar algum controle, é sobre a nossa mente, e isso muda tudo. Se controlo os meus pensamentos, posso manter a noção de realidade.
No caminho do yoga, nos ensinamentos Vedantas e no Budismo, aprendemos a não nos identificarmos com os fenômenos e, isso é libertador, pois se não me identifico com o câncer, apesar de não negá-lo (muito pelo contrário), olho pro meu marido e vejo nele, o mesmo homem de sempre, o homem que é justo, batalhador, pais dos meus filhos, lindo e que me ama muito....isso não mudou...isso é o que ele é. O que muda, é que esse homem, agora tem diante dele uma batalha pela vida, e terá que enfrentá-la com as mesmas virtudes que viveu até agora e outras tantas que ele terá que descobrir que já existiam dentro dele e que agora precisam ser reveladas.
Sinceramente acredito que temos em nós tudo aquilo que precisamos pra enfrentar nossos desafios. Se em algum momento não sentimos assim é porque nos afastamos daquilo que realmente somos. E nós...além de sermos abençoados com o melhor tratamento possível, temos ainda uma família linda e amigos, muitos amigos que rezam, oram e vibram por nós!
Namastê!
Ludmila Rohr
P.S. obrigada a todas as pessoas que me mandam emails. e vibram por nós...vcs não têm idéias de como isso nos alimenta.
Ludmila,
ResponderExcluirHá 8 anos atrás conheci o Mahatma,a Yoga e principalmente voce que é muito especial para mim(não sei se voce imagina o quanto).
Fico feliz com seu retorno e com o sucesso da cirurgia do seu marido.Sei o quanto é difícil este momento nas nossas vidas(acho que voce sabe que já passei com meu pai-2vezes e até hoje é uma expectativa;e com a minha cunhada.
São muitas as batalhas mas também nos enriquecemos muito vendo como somos todos iguais neste momento tão doloroso e como sofremos para conseguir a vitória de cada etapa.
Acredito que a coragem e a fé vencem tudo.Voces estão nas minhas orações diárias.
Beijinho carinhoso
Cris Kelsch