quinta-feira, 20 de outubro de 2016

DESPEDINDO DA ARÁBIA SAUDITA


Chegou o dia de ir embora. Depois de 2,5 anos morando na Arábia Saudita, estou indo embora. O plano sempre foi esse, sabíamos que ficaríamos de 2 a 3 anos aqui. Essa é a etapa final de um projeto que meu marido trabalha e que nos fez mudar para Houston nos EUA, e para Seul na Coréia. Tudo como planejado. 

Levarei algum tempo para assimilar as experiências que vivi nesse país tão estranho e fechado. Cada vez que tento pensar no que levo de bom dessa experiência, penso nas incontáveis viagens que fiz nesse tempo. Penso na Rússia, na Hungria, Suíça, França, Espanha, Bélgica, República Tcheca, Itália, Alemanha, Áustria, Holanda, Turquia, Egito, Emirados .... morar na Arábia significou estar bem pertinho da Europa....viajar para passar um final de semana em Munich bebendo aquela cerveja maravilhosa... reconheço que o aeroporto foi um lugar de grandes alegrias... 

Outra experiência indescritível e que me proporcionou prazeres quase que orgásticos, foi atravessar a ponte que liga o Reino dos Sauditas, ao Reino do Bahrain. Aquela ponte me fazia um bem enorme.... no meio dela eu já suspirava e sentia uma alegria imensa inundar minha alma.... O Bahrain onde se vende a cerveja mais cara do mundo, foi um paraíso para mim. Tirar as roupas pretas, beber uma cerveja ou vinho, rir alto sem medo de ser presa...ai...vocês não podem imaginar o que isso significa...ninguém pode, a não ser quem viveu aqui.

Cada vez que tento pensar nas coisas boas que vivi aqui, lembro que nesse período, meu filho caçula se formou, me fazendo experimentar a maior felicidade do mundo, ver o último filho formado! Lembro dos inúmeros Círculo das Deusas que realizei aqui! Os Grupos de Bioenergética! Trabalhei aqui! Dei minha primeira aula em Inglês. Realização absurda! 

As pessoas me perguntam se sentirei saudade de algo. Não, não sentirei. Coisas? Não. Claro que sentirei saudade de muitas pessoas ... Algumas pessoas tocaram minha alma profundamente (de prazer e dolorosamente também). As levarei comigo nas lembranças, nas fotos, nas histórias e com certeza, eu sei que muitas delas, a vida vai proporcionar reencontros em que riremos muito do que vivemos aqui ... outras entretanto, sei que não encontrarei mais.... amigas indianas, holandesas, malásias, filipinas .... sei que apenas as verei virtualmente ...assim é a vida. Deixei pessoas queridas quando saí da Korea, sei como isso funciona. 

Pensar nos nossos motoristas indianos, pensar nos funcionários do compound que são nepaleses, pensar em Von e Ronny (filipinos que sempre tomaram conta de Menino quando viajávamos) ... faz meu coração apertar. 

Queridos, obrigada pela paciência que tiveram comigo, não esqueço nunca que entrei na menopausa aqui e passei meses sendo insuportável. Obrigada pelos sorrisos e pelas lágrimas que compartilhamos. Obrigada por terem aberto comigo o leque da alma humana, do que temos de pior até o que temos de melhor... O que levo daqui são as vibrações que tocaram minha alma ... essas entraram na minha pele, como tatuagem e ficarão comigo para sempre.

... e Menino... ah Menino! 
Meu presente precioso .... Tinha que vir pra cá pra conhecer meu bebê louro e gordo.... Não sei como agradecer ao Universo por nos oferecer tanto amor (algumas dentadas também). Meu gatão é o troféu mais precioso! Ganhei no primeiro dia que aqui cheguei e levo onde for. 




domingo, 2 de outubro de 2016

UMA BOA SENSAÇÃO DE MIM MESMA


Quando comecei a praticar yoga, aos 16 anos, descobri uma sensação de pertencimento ao Universo. Isso foi mágico! A busca era sentir ser pertencente ao todo. A meta era buscar a sensação de unidade e encontro com tudo e todos. Busquei meditando anos a fio... Meditava, praticava samiami, yoga, Backti, Karma-yoga, jnani-yoga...e tudo que pudesse me conectar ainda mais fortemente com essa sensação preenchedora....

Não sei se tive sucesso, não sei se me tornei mais empática, talvez tenha me tornado mais impaciente com o que julgo sem importância... sei lá... não sei o que teria me tornado sem esse caminho que trilhei..... 

Mas, nesse anos de prática,  desenvolvi algo muito legal que foi a idéia de coletividade, a consciência das causas coletivas....aprendi a tirar o foco dos meus problemas pessoais, e ver "o todo" como muito mais importante.... as causas coletivas, ao invés das individuais. Buscando um significado maior para a existência....resolver problemas básicos do dia-a-dia parecia não fazer muito sentido, ou melhor dizendo, buscava uma vida que valesse a pena e que tivesse sentido.

Acho realmente que as lutas contra o racismo, homofobia, machismo são minhas causas e meus problemas. Penso até que poderia ter uma vida menos complicada, se não fosse tão complexa, mas pode também ser também que eu esteja me enganando esse tempo todo e tenha sempre pensado egoísticamente na minha "sensação de si mesmo", e esse tenha realmente sido minha meta todos os esses anos ... pode ser.... o que seria um autocentramento. 

Com a prática do Yoga e anos e anos de terapia, e estudo....a pergunta que sempre me acompanha é: "qual a minha sensação de mim mesma nesse momento?". Perceber como me sinto em relação a alguém, ou alguma situação ou problema, tem sido meu leme, e é isso que dá direção ao meu barco.... Essa sensação tem norteado meus movimentos, minhas escolhas, minhas decisões, meus "sims" e "nãos". Nem sempre elas me levam a favor da maré, muitas vezes sinto que remo contra ... o que há de se fazer? Se tenho uma boa sensação de mim mesma apesar do esforço ( as vezes solidão), de remar contra a maré, seguirei mesmo assim. Sigo.

Já percebi claramente como me arrependo quando me traio.... meus instintos não costumam falhar...minha voz interna...minha sensação de mim mesma não costuma falhar....

Acho que todo mundo sabe um pouco sobre o que estou falando...., mas se você ainda não escutou essa voz; se você ainda não se conectou com essa sensação ... pare um pouco e se escute.... é hora de ouvir o que vem de dentro. É hora de não mais se trair.