sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ÍNDIA, UM CASO DE AMOR, OU NÃO!

vestida como uma indiana

A Índia tem algumas coisas que nos intrigam, uma delas é o balançar da cabeça que o indiano faz quando vai nos responder alguma coisa. Eles não balançam como nós, pra frente quando pretendemos dizer sim, e para os lados quando a resposta é não. Eles fazem diferente. Não sei como contar, e não tenho foto pra mostrar, na verdade teria que ser um filme. Mas é impossível não notar isso, quando aqui chegamos. Eles balançam do mesmo jeito sendo a resposta afirmativa ou negativa. É fofo e ao mesmo tempo, confuso. Adoro essa fala do corpo. É possível ver isso nos filmes, novelas e video-clips de músicas. Esse balançar típico de cabeças que ele tem, é difícil para gente. Tento fazer diante do espelho, tentando imita-los, e não consigo.

os olhos...





Outra coisa absolutamente incrível é o olhar deles. Eles falam com os olhos, e eles nos olham nos olhos. É difícil não capitular diante do olhar dos indianos. Sempre orientei as pessoas que vieram pra Índia comigo, a não olharem nos olhos dos vendedores se você não quiser comprar, porque se você olhar, você comprará. Eles conseguem isso. Dizia a mesma coisa sobre os mendigos. Se você não vai dar esmolas, não olhe nos olhos deles, porque você vai ficar com o olhar dentro da sua alma, e vai doer.  Não sei explicar melhor, mas eles tem a alma no olhar. A expressão que diz que "Os olhos são as janela da alma", cabe perfeitamente nos indianos.


a pobreza


Não tenho ilusões em relação a Índia, não penso que eles são especiais por conta da sua longa história ligada a religiosidade e por ser a casa de muitos mestres, gurus e iluminados, inclusive Buda. Penso que a Índia é um país que corre atrás de dinheiro como outro qualquer. Penso que a vida para os pobres e desvalidos é absolutamente dura aqui, e que a vida das mulheres, principalmente as pobres, não é fácil também. É possível ver como eles tratam mal o meio ambiente e como as ruas são cheias de sujeira. Sabemos também como a política indiana é recheada de casos de corrupção,a e propinas rolam em qualquer nível. Mas o fato é, apesar de tudo, eu gosto muito de estar aqui. 






a riqueza
Eu não sei o que vai acontecer com a Índia, a medida que eles abrem as portas para o ocidente. É possível ver Shopping Centers luxuosos em toda parte. É possível achar KFC, Pizza Hut, Mc Donalds, Chilli's, Burger King e similares, em qualquer parte. A imensa população da Índia tem produzido cada vez mais ricos, e esses ricos querem o que existe nos países ricos, e eles me parecem cada vez mais distantes do "indiano" que faz parte do imaginário coletivo e do meu, obviamente. O "indiano" que é humilde, religiosos, devoto, desapegado dos bens materiais, e com uma forte busca espiritual, não está em toda parte de Bangalore. Talvez "esse" indiano seja possível encontrar nas cidades pequenas, ou entre os pobres das cidades grandes. Aqui em Bangalore, principalmente nessa região de Whitefield, podemos ver muitos jovens adultos com seus crachás presos em sua roupas ocidentais, indo e vindo de seus empregos em empresas internacionais de tecnologia e comunicação.


deus dinheiro

Deusa Kali

























Independente de qualquer avanço ocidental nas terras de Sai Baba, Amma, Krishna ou Buda, esse é um país diferente e encantador para mim, mas sei que ele causa aversão a muitas pessoas que aqui estiveram. 


A Índia é um caso de amor ou de horror, sempre nos contrastes.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Dia 5 - O CHOQUE DOS CONTRASTES



hotel
Bangalore é uma cidade imensa, é a maior cidade do estado de Karnataka no sul do país. Tem uma população de quase 8,500 milhões de pessoas, sendo a terceira cidade mais populosa do país. É considerada um centro de alta-tecnologia e telecomunicações do planeta, está entre as 10 cidades mais empreendedoras do mundo. 

Estou, como já havia dito antes, "pegando carona" em uma viagem do marido, que veio a trabalho. O hotel que a companhia o colocou fica em Whitefield, região onde a maioria das empresas de tecnologia estão localizadas. Estamos em um  hotel excelente, com requintes e atendimentos de alto nível. 

Dois dias atrás, tivemos aqui no hotel, um desfile de modelos. Fiquei sabendo que era uma eliminatória de um programa de caça-modelos, tipo "Top Model", mas que chama-se Mega Model Hunt, e é muito famoso aqui na Índia. Ficamos e conseguimos assistir até a apresentação dos concorrentes. Moças e rapazes que querem ser modelos ou atores de Bollywood. A quase maioria deles, tinha curso superior, alguns engenheiros, dentistas, analistas de sistema, contadores, etc. 


Ver aqueles "modelos" desfilando com vestidos curtíssmos, saltos altissímos, pareceu para mim, uma busca desesperada pelo padrão estético ocidental. Embora ache as indianas que aparecem na TV e nos filmes, lindíssimas, aquele desfile parecia uma show de horrores. Como se algo estivesse completamente fora do lugar. As moças buscando um andar de modelo, mas eram um desastre. Elas eram feias, e eles pareciam atores de cinema de quinta categoria. Nem sei por que fiquei tão chocada com aquilo, por que acho as indianas tão lindas em seus saris e brilhos. Nesse desfile, elas pareciam que fingiam não serem indianas. Pois é, o sari confere um toque de nobreza mesmo as mulheres pobres que pedem esmolas nas ruas. 

Uma amiga do facebook questinou o meu comentário, achando que minha crítica era por conta dos pneus e gordurinhas que elas exibiam. Tudo bem, se elas querem ser como as modelos magérrimas que desfilam moda, não deviam mostrar pneus e celulites. Mas, esse não era o motivo maior do meu choque. Aquilo foi um show de horrores, por que na minha avaliação elas estavam fingindo algo que não são. Os modelos estavam abrindo mão daquilo que eles tem de mais bonito para parecerem conosco. Acho que meu choque, foi resultado de uma desilusão. Nada ali, lembrava a Índia que encontrei nas minhas outras 3 viagens. 


Viajar pela Índia é se deparar com os imensos contrastes desse país. Contrastes que chocam e machucam. A miséria está presente em todo lugar, é possível ver pessoas mendigando em qualquer parte da cidade. É possível ver  algo que se compara as nossas favelas ao lado de prédios altos.  É possível ver pedintes, na calçadas dos Shopping Centers que vendem marcas internacionais caras. Assim como é possível ver pequenos templos hinduístas em meio a tudo isso. 

O jornal de hoje traz uma matéria de capa sobre a fome que atinge crianças de Bangalore, em meio a muitas notícias de negócios e política. Não sei se existe aqui, algo que se compare ao SUS do Brasil, não sei se eles tem algum tipo de previdência social, ou algo que seja voltado ao cuidado com essas pessoas que vivem em estado de miséria.

Além da contradição entre a miséria e a riqueza, outra coisa tem me chamado atenção: Os esquemas de segurança do hotel que estou hospedada, e de outros prédios. Pra entrar no meu hotel, vc tem que passar por detectores de metal, seus pertences passam pelo Raio X, o carro é vistoriado por funcionários e por um cachorro que o fareja. Se saiu para dar uma volta, quando volto passo por todo esse esquema de segurança, que não nos deixa esquecer que os atentados terroristas acontecem aqui também. Isso não faz parte da Índia do nosso imaginário, mas é verdade.


Esse país que teve o Mahatma Gandhi como líder, que tem uma história milenar, país onde nasceu Buda, Krishna, Sai Baba, Amma e tantos mestres que o ocidente conhece, País que é o berço do Yoga, é um país que busca a modernização, e isso é caro para a cultura. O mundo globalizado esmaga tudo aquilo que não é pasteurizado e homogeneizado.

A Índia é um dos grandes países que  emergem no cenário econômico mundial, assim como a China e o Brasil. É um país de contrastes, com uma população gigantesca que vive na linha abaixo da pobreza, e que produz ricos a cada segundo. Torço para que a alma não se perca. 



domingo, 25 de agosto de 2013

ÍNDIA- DIA 4 "ENCONTRO COM A MORTE"


Contarei sobre esse dia, do fim pro começo, pois o que aconteceu no início do passeio, valeu por todo o dia. 

Judson não teve trabalho, e saímos juntos pela primeira vez. Nosso motorista hoje, chama-se Ian Mandju Nah. Não sei como escreve, mas entendi assim. Ele é casado, tem um casal de filhos. Muito fofo, e como os outros, começa a conversar. Ele quer saber sobre o Brasil. Pergunta quais os países que ficam perto do Brasil. Nunca ouviu falar na Argentina. Ri. Pedimos que nos leve pra ver a cidade, o centro de Bangalore. Queremos fazer um Sightseing, ele topa. 

em meio a um egarrafamento

Nos deparamos de cara com o trânsito da Índia. Carros, caminhões, tuc-tucs, motos, junto com vacas e pessoas, em meio a um caos que piora com as buzinas que são constante. Parece que não existe regra. Salve-se quem puder. Só faço rir. 

O interessante é que não vemos brigas. Eles convivem com esse caos de forma pacífica. O motorista pergunta se teríamos coragem de dirigir na Índia. Mal sabe ele que no Brasil as coisas são terríveis também, e que ainda somos assaltados no engarrafamento. 

motorista do tuc-tuc


Aquilo que chamamos de Tuc-Tuc, na verdade são os Auto-Rickshaw. O Rickshaw original, é conduzido por um motorista que pedala e puxa algo onde duas pessoas cabem sentadas. Andei muito de Rickshaw em outras viagens, e em cidades menores. Não os vi aqui em Bangalore. Eles tem o auto-Rickshaw, que tem motor. e três rodas. Eles estão em toda parte. Você precisa negociar o preço antes de acertar o roteiro, eles não tem tabela de preço. É uma forma simples de ir pra qualquer lugar. 

floresta dentro do parque









Fomos a um Jardim. É um dos sinais que os britânicos colonizaram esse país por anos. Jardins enormes com diversos tipos de flores. Antes de deixarmos o carro, nosso motorista nos adverte para tomarmos cuidado com os nossos pertences e não aceitarmos ajuda de ninguém. Adverte que esse é um lugar perigoso. Pensei na hora na Bahia. Não teria coragem de passear nos Parques de Pituaçu ou no Parque da Cidade. Ficamos até com medo de sair do carro. Bom, andamos o parque quase todo. É lindo mesmo.




Muito verde, muitas flores, muitos casais de jovens indianos namorando. Muitas famílias com suas crianças ,brincando. Muitos velhos e jovens passeando na maior segurança e tranquilidade. Bom, acho que o motorista nem imagina o que é andar em um parque na minha cidade. Em momento nenhum sentimos algum tipo de ameaça. Esquecemos das advertências dele. Realizamos que nós, brasileiros, somos tarimbados em lugar perigoso. 



palácio de Marajá


Outro lugar que conhecemos nesse dia, foi o palácio do Maharaja. Eles ainda existem na Índia. Não mais como nos velhos tempos em que era quase divindades. O governo indiano não os ajuda mais. Os Marajás mais espertos, mantiveram suas fortunas, transformando seus palácios, ou parte deles, em museus, hotéis e lugares de visitação. Sabemos que os que não se modernizaram, e tentaram manter seus estilo opulento, faliram. 




em frente ao palácio


Já vi muitos palácios de Marajás nas minhas outras viagens, eles não me interessam muito. Mas, vamos lá. Serve para que vejamos como a Índia, pobre e miserável, conviveu a vida inteira com a riqueza desmedida, e ainda convive.

Aqui, eles tem uma classe média emergindo e crescendo, com jovens estudando e construíndo carreiras e famílias em moldes mais ocidentais. Entretanto, os extremamente ricos, em contraste com os extremamente miseráveis, continuam chocando os nossos olhos. É fácil ver mendigos pedintes em toda parte, ao lado de Malls que vendem marcas como LV, Prada, etc..

Kali

Tudo que fizemos nesse dia, não diz nada para minha alma. Mas, ao sairmos do hotel, o motorista nos perguntou se queríamos conhecer um templo a Deusa Kali, que ficava dentro de um cemitério. Aceito a sugestão imediatamente, é disso que gosto na Índia. 

Entramos de carro no cemitério. Nunca havia visto um cemitério na Índia. Estive em vários crematórios, que são normalmente na margem de um rio. Vi inúmeras cerimônias de cremação, mas nunca soube que hinduístas enterravam seus mortos. Pergunto se o cemitério não seria de cristãos ou muçulmanos, ele diz que não, que era hinduísta mesmo. Confirmo isso ao chegar no pequeno templo, que não é frequentado por turistas, só alguns indianos estão lá. 


Kali

Imagens da Deusa Kali , Deusa da morte e da transformação, estão em todo lugar. Gosto muito dessa Deusa. Sempre tive atração por Deusas que lembram a morte. Gosto demais de Perséfone, dos gregos. Ela me conduz a um lugar muito íntimo da minha alma, que acesso com a morte, desapego e com a desilusão. Gosto muito desse mergulho na caverna que existe dentro de mim. A Deusa Kali me conecta com essa experiência.

Esse é um templo bem pequeno, precisamos tirar os sapatos e andar descalços por um lugar que não vê limpeza há anos. Não consigo imaginar os engenheiros, colegas do meu marido, fazendo isso. Ele vai comigo. Não sei se ele iria se eu ali não estivesse, sei que essa é a minha praia, mas ele me acompanha de forma respeitosa. Amo isso nele. 

Na fila pra receber a "limpeza"



Entramos em um lugar bem pequeno que cabem no máximo umas 10 pessoas, ali está uma mulher, fazendo algo que me lembra os banhos de folha do candomblé. Uns 4 indianos estão na fila para receber a benção, inclusive nosso motorista. É claro que eu entro na fila. Chegando minha vez, a mulher me olha nos olhos, recebo um olhar amoroso que toca o meu coração. Ela com um leve sorriso nos lábios, pega um maço de folhas, toca a figura de Kali que ali está, e em seguida passa por todo meu corpo, como numa limpeza. Depois ela pega um pó vermelho e toca minha testa, e coloca duas pequenas flores nas minhas mãos. Tudo isso durou no máximo 1 minuto, mas acreditem em mim, foi a experiência mais marcante do dia, e certamente entrará na minha lista de momentos inesquecíveis. 



Pergunto para o motorista se ele sempre leva as pessoas ali, porque imagino que esse lugar não seria bem visto pela maioria das pessoas. Ele responde que não. Ele nos trouxe, mas não faz isso com outras pessoas. Ele diz que achava que eu ia gostar. Ele acertou. Eu amei. Começamos o nosso dia assim, lembrando que morreremos, lembrando que precisamos morrer todo dia, se queremos uma vida que vale a pena ser vivida.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ENCONTRANDO SAI BABA - DIA 3


Amanheci no meu terceiro dia na Índia e sabendo que iria visitar o Ashram de Sai Baba. 
Descubro que ele está bem pertinho do hotel que estou, apenas 6km. O meu motorista hoje chama-se Raveendra. Ele me leva até o Ashram, contando histórias.

Adoro o jeito dos indianos de contarem histórias e falar sobre sua família como se fôssemos íntimos. Parece coisa de baiano, me sinto em casa. Sei que ele, assim como Devi o motorista do primeiro dia, tem duas filhas, só que bem menores, a mais velha com 6 anos e um bebê de 18 meses. Conta que estudou, mas que é o único homem da família, tem 4 irmãs e os pais estão velhos. Vida dura. Sua esposa trabalha em casa, cuida das duas meninas e dos sogros que estão idosos, e por isso não pode ajudar com as despesas. 

Começo a perguntar sobre Sai Baba e sobre o que ele fez pelos pobres da cidade. Ele me fala que Sai Baba é um santo. Conta do hospital, e a maternidade que atendem de graça qualquer pessoa, me fala das escolas, inclusive universidade, que ele construiu, me fala sobre o quanto Sai Baba era santo e sobre o que ele fez pela Índia. Conto pra ele que muita gente no mundo todo ama Sai Baba. Ele sabe disso, ele via turistas do mundo todo virem a Bangalore vê-lo enquanto ele vivia. 

Chegamos no Ashram, ele diz que devo ligar pra ele quando quiser ir embora. Na entrada compro flores. Sigo a tradição. A senhora que vende os belíssimos colares de flores, me dá de presente um mini-bouquet, bem pequeno mesmo, comparado ao imenso que comprei. Entro no imenso salão em que os fiéis se aglomeravam para ver o mestre, e que agora está quase vazio. Um altar belíssimo na frente. Algumas poucas pessoas rezam. De vez em quando alguém entra. Tem uma movimentação sutil de pessoas. Entrego o imenso colar de flores para alguém que parecia ser o responsável, mantenho o bouquet comigo.

Sento e fico ali, tentando observar minha mente e entender o que ali estou fazendo. Fico com os olhos abertos, bem quieta, mente serena, só observando as pessoas que se aproximam, reverenciam, tocam a imagem de Ganesh, se curvam diante da foto de Sai Baba, e saem. Minha sensação era de absoluta tranquilidade. Podia ficar ali por horas. Uma imensa foto de Sai Baba na minha frente. Resolvo perguntar pra ele, o que estou fazendo ali. Pergunto, e aguardo a resposta sem ansiedade. Já se passaram 1:30h, e eu estou ali, várias pessoas entraram, fizeram suas preces e reverências e saíram. Eu fico, não tenho nada a fazer, nenhuma ansiedade, nem pressa, apenas contemplação. 

Uma questão aparece na minha mente: O que preciso fazer? Como uma boa capricorniana, sou uma "fazedora", mas sinto que essa pergunta aparece nesse momento como uma resposta para minha atual pouca prática espiritual. Não foi minha mente concreta que elaborou essa pergunta. Com a mesma tranquilidade que estava, permaneci. 

Uma senhora vestindo seu tradicional sari, entra acompanhada de uma jovem de uns 20 anos. Deduzo que são mãe e filha. A mãe faz seus rituais de reverência enquanto que a filha acende incensos e coloca diante do Lord Ganesh. Elas conversam, chamam o senhor que entendi que trabalhava ali. Conversam. A jovem tem uma tijela nas mãos, discutem o que fazer com aquilo. Só observo. Ele se afasta e volta com umas folhas de jornal. Vejo que ela serve algo da tigela sobre pedaços do jornal, e serve para duas senhoras que estavam próximas a ela. Vejo que elas comem. A jovem vem na minha direção e me entrega uma porção de uma coisa da consistência de um purê mole, no jornal. Pergunto que era aquilo. Ela me diz que uma coisa que ela pediu muito pra Sai Baba, aconteceu, e que ela fez aquela comida para agradecer. Naquele instante tive um insight. 

Uma sensação muito boa tomou conta de mim. Meus olhos se encheram de lágrimas. Só quem já experimentou a sensação que um insight produz, saberá sobre do que estou falando. Por alguma conexão muito profunda e disparada por um gatilho que pode ser absolutamente simples, as coisas ganham um significado absurdo dentro da gente. Entendi várias coisas de repente. Comi aquela papa branca doce, servida num pedaço de jornal, com os olhos cheios de lágrimas e o coração extremamente grato.

Gratidão esse foi o ensinamento que Sai Baba me deu. A prática de agradecer, essa é a prática espiritual que busco.
Levantei, levei o pequeno bouquet de rosas até sua imagem, lá coloquei com toda energia amorosa que esse momento produziu. Curvei e reverenciei com a alma leve. Podia ir embora. Meu encontro com Sai Baba, aconteceu nesse um minuto, dessas 2:30 que lá fiquei. 

Jay Guru! Om Sai Ram! 

"Mãos que ajudam são mais sagradas que lábios que rezam"
Saty Sai - Hospital construído por Sai Baba.


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

VIAGEM A ÍNDIA - DIA 2


Tirei esses dois primeiros dias apenas para andar pela vizinhança do hotel e sentir o clima desse lugar. 
Adoro simplesmente contemplar as pessoas andando, suas roupas, seu jeito. Impossível não perceber que chamo atenção. As pessoas me olham de volta. Me acompanham com o olhar. Acho que tem encantamentos de ambas as partes. Sinto essa energia. É uma energia que alimenta e que nos toca diferente. Todas as vezes que estive aqui, senti que algo muito doce tocava minha alma. 



Dentre tantas coisas que me encantam na Índia, quero comentar sobre duas: as comida e as cores.

O indiano gosta de cores. Ele é tudo, menos básico. O pretinho básico não existe. O bege então, passa longe daqui. As mulheres usam cores, muitas cores, e uma mistura enorme delas. É possível ver saris e Punjabs (roupas tradicionais), com estampas, rosa, laranja, roxo e verde todas juntas; é impressionante como elas ficam lindas neles. Acho uma pena a ocidentalização da maneira de se vestir, principalmente nas mulheres. Elas perdem a graça vestidas com nossas calças jeans e camisetas. 




As comidas são um capítulo a parte. Adoro os cheiros, os temperos, as cores e os sabores das comidas indianas. Adoro tudo, como sem nem saber o que estou comendo. Aqui no hotel, cada comida tem seu nome em uma plaquinha, o que não me ajuda em nada, mas também não me impede de provar de tudo. Como com vontade. Eles tem uma culinária rica e deliciosa, e eu tenho uma imensa curiosidade em provar tudo. 










Hoje, depois de jantar no bufet do hotel, em que havia provado de tudo um pouquinho, estava pegando sobremesas usando esse mesmo critério, um pouco de tudo que for indiano, das comidas ocidentais e conhecidas, nada. Um dos cozinheiros notou que eu me servia assim das sobremesas, dispensando todas as tortas e docinhos conhecidos, e pegando só o que fosse indiano, foi na minha mesa levando um doce que não estava no bufet. Disse que era o seu favorito, era feito com cenoura e leite condensado. Já conhecia esse doce, não lembrava dele, mas é delicioso mesmo! Em dois dias de Índia, joguei fora duas semanas de dieta. Recuperei o que havia perdido com tanto esforço, em dois dias. 




A novidade do dia de hoje foi a minha tatuagem de henna. Linda demais. Elas se enfeitam, eu também entro na onda! 



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

DIÁRIO DE UMA VIAGEM A ÍNDIA

eu, "pongando" na viagem do marido
Quando eu era adolescente dizia que só iria a Índia depois dos 40 anos, pois imaginava que até lá teria criado os meus filhos, e se não quisesse voltar, poderia ficar tranquila. Fui a Índia pela primeira vez depois dos 40, e amei. Foi uma viagem cheia de excitação, muita expectativa e muita ansiedade. A viagem foi perfeita. Amei cada dia. Chorei de emoção várias vezes e resumi essa viagem como um reencontro com raízes espirituais profundas. Um ano depois dessa viagem, voltei trazendo um pequeno grupo, mas um grupo que tinha algo de muito especial, nele estavam meu marido e meu filhos. Agradeço à vida por cada segundo dessa experiência. Poder levar meus filhos a Índia é uma das coisas que mais me orgulho na vida. Minha terceira vez aconteceu no ano seguinte. Levei mais um grupo. Depois dessa, achei difícil voltar levando grupos. Muita preocupação. Lidar com expectativas dos outros é complicado. Pensava que voltaria a Índia, com pessoas amigas, com minha irmã, mas não a trabalho, só para vivenciar essa cultura sem pressão externa, mas nunca imaginei que um dia viria a Índia por conta do trabalho do meu marido.

Bom, aqui estou eu, na minha quarta viagem a Índia, literalmente "ponguei" na viagem do marido. Ele viria para uns testes em Bangalore, e resolvi que não devia perder essa chance. Acertei. Vim sem expectativa. Vim para estar na Índia. 

Resolvi que esse post vai ser escrito a cada dia, como um diário. 
Você poderá acompanhar algumas reflexões e experiências diariamente dessa minha viagem.

DIA 1 

Nossa viagem foi ótima. Bem diferente de vir do Brasil que é quase que atravessar o planeta e chegar aos farrapos de cansaço e ainda ter que lidar com a diferença de fuso horário. Vir da Korea (onde moro) é fácil, além de perto. Voamos até Singapore, e depois até Bangalore. 8 horas de viagem ao todo. Tranquilo, e o fuso é apenas 3:30h de diferente, não chega a causar estragos.
aeroporto de Singapore

Chegar na Índia é sempre lindo. Ao sair do aeroporto você se deparará com uma imensidão de pessoas. A maioria está com plaquinhas com nomes das pessoas que vieram buscar, a outra parte está ali apenas para ver os turistas chegarem. Muito legal. 

Nosso hotel fica a 1h de Bangalore, numa região chamada Whitefield, onde estão localizadas grandes empresas de tecnologia, que proliferam na Índia. Isso é novo para mim. Sempre visitei cidades sagradas, agora estou conhecendo uma Índia jovem, que estudou e que trabalha com altíssima tecnologia e com gente do mundo inteiro. No caminho passamos por incontáveis condomínios de casas no estilo americano, e de edifícios altíssimos, condomínios de luxo que crescem para atender a uma população que migra por conta do trabalho. Uma Índia que cresce numa velocidade que dá inveja a nós, brasileiros.

nosso hotel

Funcionário do hotel














O nosso motorista era uma fofo, a metade do que ele falava, nós não entendíamos, é preciso alguns dias pra estar acostumado com o sotaque deles. Tivemos crises de riso, eu perguntava pra Judson se ele tinha entendido alguma coisa, ele dizia que não. Riamos. Eles adoram puxar papo, nisso, nós baianos nos sentimos em casa. Ele veio nos contando sobre sua família, tem duas filhas (12 e 16 anos), sabe que precisa trabalhar muito por que em dois anos ele terá que organizar o casamento da mais velha, e como pai da noiva, ele terá que pagar dote. Pergunto se ele já escolheu o noivo, ele diz que ainda não. Conta como algumas pessoas preferem abortar quando descobrem que o bebê será meninas, mas que ele sempre achou que o planejamento divino está a cima de todas as coisas. Pergunta nossa religião, ao saber que não temos, ele conta que é Hinduísta e que frequenta um templo com toda família. 

Decidi que esse primeiro dia seria de descanso, fui ao Spa do hotel. Vir a Índia e não fazer uma massagem, é uma bobeira. Eles são ótimos. Valem cada centavo de Rúpias. Acho que frequentarei o Spa do hotel mais do que imaginei. O hotel é um show de modernidade. Atendimento que não perde pra lugar nenhum na Europa ou EUA, que eu tenha ido. Funcionários super bem treinados, e com a simpatia que só um indiano (além dos baianos rsrs), tem. 
Frutas!!! Na Korea não temos muitas frutas!

Saímos para dar uma volta a pé. Hoje marido não trabalhou. A cidade é grande, empresas conhecidas de tecnologia e informática para todo lado. Reconhecemos funcionários com seus crachás nas ruas. Jovens indianos que são muito bons no que fazem, e por isso atraem cada vez mais empresas do mundo todo. Muitas mulheres vestidas no estilo ocidental, mas muitas mantém seus saris e punjabs típicos. Roupas coloridas que encantam. 



Ao lado do hotel um Mall com lojas que vão de marcas como Benetton, MAC, Clinique, Tommy Hilfiger, Ralph Lauren com seus produtos vendidos em todo mundo, a lojas que vendem saris e roupas indianas luxuosas. Essa Índia que conheço aqui, é um mix da modernidade com a tradição. 
roupas tradicionais
Os tradicionais tuc-tucs continuam nas ruas, mas ao lado de carros caros. 
Tuc-Tuc
Ao lado do nosso hotel, tem um hospital enorme. Soube que o atendimento é de graça para aqueles que não podem pagar. Fico encantada. 
Satya Sai Hospital


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

TÃO DIFERENTES, E TÃO IGUAIS!



Coleciono "faces".

Já compartilhei aqui, em outro post, a minha coleção de portas, agora quero compartilhar com vocês, algumas faces da minha coleção.






Adoro colecionar fotos de faces, anônimas na sua imensa maioria.

Elas me lembram de como somos iguais apesar de tão diferentes.
Elas me fazem refletir sobre o quanto que a busca por um padrão de beleza é extremamente inútil e ridícula.

Elas me ratificam a certeza de que a maioria dos preconceitos nascem da ignorância, da falta de respeito, e do reconhecimento das diferenças.


Somos belos, diversamente belos. Incrivelmente diversos. Buscar um padrão único de beleza, é o mesmo que reduzir a infinita variedade que somos, ao óbvio.
 

Quando viajei a Índia pela primeira vez, pessoas pediam pra tocar meu cabelo cacheado. Quando fui a China, pessoas pediam pra tirar foto comigo, me achavam diferente. Ando pelas ruas da Korea, onde moro, e sou "a diferente". Apesar de ser um tipo tão comum, sou diferente.












Seguem algumas amostras da minha coleção.

Rosto sedutor....


que expressam sabedoria doce..


aqueles que a vida endureceu...



que revelam vaidade...

 ternura...
 alegria...




Parece que saíram de um filme...


enfeitados...










 tipos e tipos...












 rosto inesquecível pelo que deu...


os que pedem com o olhar...


os que marcaram pela genialidade...



 os que chamam atenção...






 rostos que mostram como somos diferentes, e ao mesmo tempo tão iguais.