domingo, 25 de agosto de 2013

ÍNDIA- DIA 4 "ENCONTRO COM A MORTE"


Contarei sobre esse dia, do fim pro começo, pois o que aconteceu no início do passeio, valeu por todo o dia. 

Judson não teve trabalho, e saímos juntos pela primeira vez. Nosso motorista hoje, chama-se Ian Mandju Nah. Não sei como escreve, mas entendi assim. Ele é casado, tem um casal de filhos. Muito fofo, e como os outros, começa a conversar. Ele quer saber sobre o Brasil. Pergunta quais os países que ficam perto do Brasil. Nunca ouviu falar na Argentina. Ri. Pedimos que nos leve pra ver a cidade, o centro de Bangalore. Queremos fazer um Sightseing, ele topa. 

em meio a um egarrafamento

Nos deparamos de cara com o trânsito da Índia. Carros, caminhões, tuc-tucs, motos, junto com vacas e pessoas, em meio a um caos que piora com as buzinas que são constante. Parece que não existe regra. Salve-se quem puder. Só faço rir. 

O interessante é que não vemos brigas. Eles convivem com esse caos de forma pacífica. O motorista pergunta se teríamos coragem de dirigir na Índia. Mal sabe ele que no Brasil as coisas são terríveis também, e que ainda somos assaltados no engarrafamento. 

motorista do tuc-tuc


Aquilo que chamamos de Tuc-Tuc, na verdade são os Auto-Rickshaw. O Rickshaw original, é conduzido por um motorista que pedala e puxa algo onde duas pessoas cabem sentadas. Andei muito de Rickshaw em outras viagens, e em cidades menores. Não os vi aqui em Bangalore. Eles tem o auto-Rickshaw, que tem motor. e três rodas. Eles estão em toda parte. Você precisa negociar o preço antes de acertar o roteiro, eles não tem tabela de preço. É uma forma simples de ir pra qualquer lugar. 

floresta dentro do parque









Fomos a um Jardim. É um dos sinais que os britânicos colonizaram esse país por anos. Jardins enormes com diversos tipos de flores. Antes de deixarmos o carro, nosso motorista nos adverte para tomarmos cuidado com os nossos pertences e não aceitarmos ajuda de ninguém. Adverte que esse é um lugar perigoso. Pensei na hora na Bahia. Não teria coragem de passear nos Parques de Pituaçu ou no Parque da Cidade. Ficamos até com medo de sair do carro. Bom, andamos o parque quase todo. É lindo mesmo.




Muito verde, muitas flores, muitos casais de jovens indianos namorando. Muitas famílias com suas crianças ,brincando. Muitos velhos e jovens passeando na maior segurança e tranquilidade. Bom, acho que o motorista nem imagina o que é andar em um parque na minha cidade. Em momento nenhum sentimos algum tipo de ameaça. Esquecemos das advertências dele. Realizamos que nós, brasileiros, somos tarimbados em lugar perigoso. 



palácio de Marajá


Outro lugar que conhecemos nesse dia, foi o palácio do Maharaja. Eles ainda existem na Índia. Não mais como nos velhos tempos em que era quase divindades. O governo indiano não os ajuda mais. Os Marajás mais espertos, mantiveram suas fortunas, transformando seus palácios, ou parte deles, em museus, hotéis e lugares de visitação. Sabemos que os que não se modernizaram, e tentaram manter seus estilo opulento, faliram. 




em frente ao palácio


Já vi muitos palácios de Marajás nas minhas outras viagens, eles não me interessam muito. Mas, vamos lá. Serve para que vejamos como a Índia, pobre e miserável, conviveu a vida inteira com a riqueza desmedida, e ainda convive.

Aqui, eles tem uma classe média emergindo e crescendo, com jovens estudando e construíndo carreiras e famílias em moldes mais ocidentais. Entretanto, os extremamente ricos, em contraste com os extremamente miseráveis, continuam chocando os nossos olhos. É fácil ver mendigos pedintes em toda parte, ao lado de Malls que vendem marcas como LV, Prada, etc..

Kali

Tudo que fizemos nesse dia, não diz nada para minha alma. Mas, ao sairmos do hotel, o motorista nos perguntou se queríamos conhecer um templo a Deusa Kali, que ficava dentro de um cemitério. Aceito a sugestão imediatamente, é disso que gosto na Índia. 

Entramos de carro no cemitério. Nunca havia visto um cemitério na Índia. Estive em vários crematórios, que são normalmente na margem de um rio. Vi inúmeras cerimônias de cremação, mas nunca soube que hinduístas enterravam seus mortos. Pergunto se o cemitério não seria de cristãos ou muçulmanos, ele diz que não, que era hinduísta mesmo. Confirmo isso ao chegar no pequeno templo, que não é frequentado por turistas, só alguns indianos estão lá. 


Kali

Imagens da Deusa Kali , Deusa da morte e da transformação, estão em todo lugar. Gosto muito dessa Deusa. Sempre tive atração por Deusas que lembram a morte. Gosto demais de Perséfone, dos gregos. Ela me conduz a um lugar muito íntimo da minha alma, que acesso com a morte, desapego e com a desilusão. Gosto muito desse mergulho na caverna que existe dentro de mim. A Deusa Kali me conecta com essa experiência.

Esse é um templo bem pequeno, precisamos tirar os sapatos e andar descalços por um lugar que não vê limpeza há anos. Não consigo imaginar os engenheiros, colegas do meu marido, fazendo isso. Ele vai comigo. Não sei se ele iria se eu ali não estivesse, sei que essa é a minha praia, mas ele me acompanha de forma respeitosa. Amo isso nele. 

Na fila pra receber a "limpeza"



Entramos em um lugar bem pequeno que cabem no máximo umas 10 pessoas, ali está uma mulher, fazendo algo que me lembra os banhos de folha do candomblé. Uns 4 indianos estão na fila para receber a benção, inclusive nosso motorista. É claro que eu entro na fila. Chegando minha vez, a mulher me olha nos olhos, recebo um olhar amoroso que toca o meu coração. Ela com um leve sorriso nos lábios, pega um maço de folhas, toca a figura de Kali que ali está, e em seguida passa por todo meu corpo, como numa limpeza. Depois ela pega um pó vermelho e toca minha testa, e coloca duas pequenas flores nas minhas mãos. Tudo isso durou no máximo 1 minuto, mas acreditem em mim, foi a experiência mais marcante do dia, e certamente entrará na minha lista de momentos inesquecíveis. 



Pergunto para o motorista se ele sempre leva as pessoas ali, porque imagino que esse lugar não seria bem visto pela maioria das pessoas. Ele responde que não. Ele nos trouxe, mas não faz isso com outras pessoas. Ele diz que achava que eu ia gostar. Ele acertou. Eu amei. Começamos o nosso dia assim, lembrando que morreremos, lembrando que precisamos morrer todo dia, se queremos uma vida que vale a pena ser vivida.

3 comentários:

  1. Para nós ocidentais pensar na morte é traumático, queremos esquecer que ela virá inexoravelmente, o oriental convive melhor com esta realidade.
    Teve notícia da minha fruta? sabe o nome? ainda estou no aguardo. Bj.

    ResponderExcluir
  2. Prezada Ludmila.
    Procurando informações sobre a Índia encontrei o seu blog. Sou um viajante experiente e estou pensando em ir à Índia no ano que vem (apenas na parte do triângulo dourado). Sempre viajo por minha própria conta, mas para a Índia penso que não conseguiria ir sem um pacote fechado por agência de turismo. Confesso que estou com um misto de vontade de ir e medo de ir. Fala-se tanto na sujeira, nas doenças que vêm junto com a comida e água. Na TV só vemos isso. Idiotamente me pergunto se tem supermercado na Índia para comprar um biscoito, um litro de leite, ou uma garrafa de água! A gente só vê na TV a parte da miséria. Karaka, tô em dúvida entre ir ou não, até porque devo ir sozinho. Vou continuar acompanhando seu blog para ver se ganho coragem! Abraços. Jorge Andrade, Rio de Janeiro (viajor@yahoo.com.br)
    Fotos de viagem em >> http://www.flickr.com/people/viajor/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Jorge, essa é minha quarta vez aqui na Índia.
      Vou escrever pra vc por email!
      Posso te dar dicas, desfazer alguns mitos, e indicar pessoas que organizam viagens a Índia, sem necessariamente ser em grupos de excursão.
      Suas preocupações procedem em parte.

      Excluir

Sempre leio todos os comentários e gosto muito de recebê-los!