segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

ALEGRIA, SEU NOME HOJE É CORAGEM!

Completei meu primeiro mês morando na Coréia e continuo muito apaixonada por esse país. 
Muitas coisas me encantam aqui, mas o imbatível e moderníssimo Sistema Público de Transporte que atende 100% da cidade com metrôs modernos, limpos e seguros continua me deixando morta de inveja. Consigo ir para todo lugar sozinha e até agora, não senti nenhuma necessidade de ter um carro. Desde os 18 anos tenho carro, é a primeira vez desde então que fico sem, e confesso que nenhuma falta tem me feito. 


Outra coisa que me deixa, como brasileira, me contorcendo de inveja é a imensa sensação de segurança que temos aqui. Podemos andar para qualquer lugar a qualquer hora sem nenhuma sensação de medo. Para onde vamos, vemos muita gente andando a pé nas ruas e também nos metrôs. Adolescentes e jovens estão em toda parte e andam em absoluta segurança. Crianças pegam metrôs sozinhas. Isso é perfeito, não? O mais interessante disso é que quase não vemos policiamento nas ruas, diferente dos EUA onde morava antes, em que me sentia muito segura porque em todo lugar via policiais (morria de inveja dos bem equipados policiais americanos), aqui nunca os vemos e mesmo assim a segurança é incrível. 

Adoro a beleza do encontro do Tradicional com o Moderno que vemos em Seul. Ao lado de uma linda Pagoda, pode estar um imenso e moderno arranha-céu. Adoro a elegância e beleza sofisticada dos coreanos. Homens e mulheres são estilosos e extremamente fashion, além de muito elegantes. Cabelos lindos e peles maravilhosas. Adoro a comida coreana, e adoro também andar por suas ruas parando pra tomar um café em uma das suas milhares de cafeterias. Adoro o estilo de vida de uma grande capital. 

Mas, como vocês já me conhecem, o que amo mesmo é conhecer pessoas. Adoro conhecer gente. Adoro observar pessoas. Adoro saber o que elas pensam e como se sentem. Simplesmente adoro. Por conta disso, assim que cheguei aqui me matriculei em uma Escola de Inglês em um grupo de conversação, onde todos os meus colegas são estudantes colegiais e universitários coreanos. Eles agora estão de férias e aproveitam o tempo para estudar (como no Brasil, não é?). Quando cheguei lá, todos pensaram que eu fosse uma professora, até hoje eles (os que não são meus colegas) pensam isso.

JOY (Alegria) 
Nesse curso conheci Joy Lee e quero apresentá-la a vocês. Ela tem 21 anos e estuda Turismo com Interpretação em Inglês. Ela é doce e alegre, e é claro que já a estou chamando de minha "filha coreana", ao que ela responde me chamando de "minha mãe brasileira". Aos meus olhos, ela parece ingênua e mais doce e atenciosa, comparada aos jovens da mesma idade no Brasil. Ela tem uma ternura fácil de reconhecer no tom da voz e na forma como segura na minha mão enquanto anda, mas tenho observado que eles são assim. 

Ela me contou que durante todo o seu segundo grau na escola, tinha aulas todos os dias, inclusive aos domingo, de 7:30 da manhã até a meia noite. Apenas aos sábados que as aulas eram de 10 da manhã às 10 da noite. Nunca tinham folgas. Estudar era a obrigação máxima. Eles realmente acreditam que os estudos são a única forma deles terem um bom futuro. Eles acreditam no esforço e na dedicação. Provavelmente seriam vistos como "os otários" no Brasil, país acostumado a acreditar na esperteza e na sorte, e a desmerecer e desqualificar os esforçados. Bom....eles estão no futuro, enquanto o Brasil continua sendo um país do futuro, podemos tirar nossas conclusões sobre quem acertou na forma de caminhar.

Minha amiga coreana me conta muitas coisas sobre seu povo e eu conto sobre o nosso. Ela se encanta com as fotos e filmes que mostro do Brasil e de Salvador. Ouvimos música brasileira juntas e ela me mostra os jovens cantores e artistas de cinema coreanos. Já ouvimos Carlinhos Brown, Gal Costa e Caetano, além claro de vermos juntas muitos vídeos de Ivete Sangalo. Mostrei cenas do carnaval na Bahia e das praias de Salvador. Ela acha tudo muito lindo...e posso entender...de longe e em fotos, somos beleza pura.



Combinamos de estudarmos após as aulas que acontecem pelas manhãs, mas sempre arranjo um jeitinho de apenas papearmos ou darmos uma volta pela cidade, no que ela consente e se diverte, mas ao se despedir de mim, sei que vai para a biblioteca estudar (todos os dias). Eles viveram muitos anos de guerras, invasões, fome e destruição; conseguiram em menos de 50 anos sair da miséria absoluta para a modernidade e excelência em educação, segurança e transporte público. Hoje eles tem empresas que estão no mundo todo, marcas como Hyundai, Kia, LG e Samsung são conhecidas em todo planeta, eles ganham concorrências internacionais e ficam cada vez mais ricos e prósperos. Eles não querem perder tempo, eles querem crescer mais ainda, por isso os jovens estudam muito. 

Hoje, minha amiga Joy teve uma experiência daquelas que nos marcam dolorosamente a fogo para o resto das nossas vidas e tenho certeza de que ela nunca mais na vida a esquecerá. Estávamos em espécie de Mall com várias lojinhas, eu, ela, uma amiga brasileira e mais outras duas meninas coreanas que são nossas colegas também. Éramos cinco mulheres juntas rindo e falando alto (cena fácil de imaginar em qualquer lugar do mundo), quando um homem de meia idade falou alguma coisa com minhas amigas (em coreano), que obviamente não pude entender, mas pude perceber pela mudança da energia delas, que ele as estava recriminando. Soube que ele havia sido rude, reclamando do nosso barulho e mandando-as sair dali. Como boa baiana ( e filha de Jair de Brito) disse pra elas que não iríamos sair, que não estávamos fazendo nada de errado e que tínhamos direito de estar ali. Só depois iria perceber que as tinha colocado em uma situação difícil e inusitada.

Minha amiga ouviu muitas coisas desse homem sem que eu entendesse nada e nem pudesse ajudá-la. Ela sem alterar a voz respondia as suas agressões, em seguida me pedia desculpa muito envergonhada como coreana, pelo ataque deste senhor. Até então eu estava levando a situação na "esculhambação" como é comum para nós brasileiros, mas em algum momento "caiu a ficha" de que a minha amiga estava pela primeira vez na vida enfrentando uma pessoa mais velha que ela. Comecei a entender que aquilo que para mim significava nada, para ela era uma quebra de paradigma. Pude vê-la "plantada"com pernas firmes, olhando nos olhos daquele senhor grosseiro e mal educado, e dizer firmemente que ele não tinha esse direito. Nunca saberei ao certo o que aconteceu entre eles dois, mas vi que minha amiga doce e alegre, de repente se transformou diante dos meus olhos em uma guerreira corajosa e forte.

É claro que minha amiga derramou lágrimas de indignação em seguida.
Me senti completamente solidária e com uma profunda conexão empática com ela, eu queria bater e xingar aquele homem que havia ofendido-a. Reforcei sua luta dando-lhe palavras de encorajamento e é claro, dando uma "descascada" no grosseirão (ensinei alguns palavrões em português também) mas daquele momento em diante, pude ver que JOY, cujo nome significa ALEGRIA (em inglês) e que tem carinha e voz de menina doce,  é na verdade uma linda, nobre e corajosa mulher.

Joy, minha filha coreana
Minha linda Alegria, hoje seu nome foi Coragem.

Obrigada por ter entrado na minha vida!
Você já mora no meu coração.


Ludmila (sua mãe brasileira e orgulhosa)

9 comentários:

  1. coisa mais linda Lud, me emocionei,Assim como vc, também sou completamente apaixonada por pessoas! bjs Fau Bareto

    ResponderExcluir
  2. Lindo, Ludmila, e tomei a ousadia de colocar no meu face. Todo mundo merece ler

    ResponderExcluir
  3. Minha querida e amada brasilheirinha,
    Encantada com suas histórias e a diversidade de cultura que você tem experimentado é muito enriquecedor........com isso tenho bebido das suas experiências e me atualizado sem nem sequer ter saido do país.
    Continue postando as suas aventuras, pois meu cerebro agradece.
    Beijos carinhosos e saudosos.
    Gracinha.

    ResponderExcluir
  4. Lud, que texto lindo! Amei, principalmente quando vc diz: "de longe e em fotos, somos beleza pura." Bjs

    ResponderExcluir
  5. EMOCIONANTE..APESAR DE TERMOQ RESPEITAR AS DIFERENÇAS...NÃO SEI COMO ME COMPORTARIA NUMA SITUAÇÃO DESTA..ABRAÇOS....GOSTARIA DE UM EMAIL PARA CONTATO, SE VC PUDER ME AJUDAR..DESDE JÁ AGRADEÇO!
    adilanenakasone@hotmail.com

    ResponderExcluir
  6. Muito lindo tudo isso Ludmila, me apaixonei pelo seu blog e td q tem colocando nele, posso te dizer q estou aqui na Coreia alguns aninhos poucos aindas e sei muito bem oq eh tudo isso, no comeco era como vc apaixonada por esse Pais maravilhoso mais minha paixao foi menos de um ano pq praticamente fui forcada por algo do destino a cair na realidade e posso te dizer agora hj vivendo aqui algum tempinho q ainda amo esse Pais eh realmente maravilhoso td aqui sem contar na seguranca e na educacao, mais tem muitas pessoas como esse senhor q as vezes me faz cair na realidade. Aqui eh muito normal encontrar idosos assim!!!!

    ResponderExcluir
  7. Olá Ludmila meu nome é Laysla, eu realmente estou encantada com seu blog!!!Você coloca muito carinho em suas palavras e conseguiu matar um pouquinho da minha curiosidade sobre esse pais lindo...Eu tenho 17 anos e meu sonho realmente, e vou fazer de tudo para conquista-lo é morar na Coreia !!!
    Tem um coração muito grande é lindo continue sempre assim ;D
    Vou acabar o 3º ano e vou fazer faculdade de Turismo igual a Joy !! E tambem gostaria de manter contato contigo!!
    bjus e um abraço enorme ;D

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Laysla,

      Que bom que vc chegou aqui nesse blog!
      Prazer!
      Amo a Coréia, e se esse é seu sonho, vá atrás mesmo!
      Bjo

      Excluir
  8. Eu me encantei por esse Blog. Mas meu encanto maior foi por esta família. Minhas professoras Ludmila e Tati. Na verdade, encontrei esteio nesta família, quase uma miragem, numa sociedade em que cada um é por si mesmo. Encontrei também carinho, especialmente na segunda casa delas o "Espaço Mahatma Ghandi", minha casa de Yoga, de cura, de amor, de autoperfeição, de quietude, de longanimidade, de fraternidade (tantas coisas). Deus me conhece e cuida de mim e quando mais precisei de amizades verdadeiras, de uma atenção carinhosa, de "mães idealistas", mulheres de personalidade ele me levou até essa família. Aproveito cada momento, para sentir esse carinho que a Joy está experimentando. Essa família que alimenta tantas almas de amor e atenção. Um dia, meu pai, como bom evangélico, me disse (em dedicatória) "seja sal da terra e luz no mundo", um farol que brilha, e talvez não tenha bem entendido o que é de fato "fazer diferente". Mas tenho certeza que esse "Espaço", essa família, essas mulheres de fibra, como seres humanos diante de todas as mazelas próprias de nosso "ser" tem feito algo diferente e bonito. Algo que encanta de longe, mais de perto fascina ainda mais. Namastê Prof Lud.

    ResponderExcluir

Sempre leio todos os comentários e gosto muito de recebê-los!