quinta-feira, 16 de junho de 2011

DIVIDINDO TETO E CONSTRUINDO INTIMIDADE *


Acredito no casamento. Estou casada há 25 anos e não me arrependo um só dia disso. Nesse tempo construí uma relação que envolve amor, amizade, respeito a  individualidade do outro, sexo de qualidade e admiração. Entretanto como psicóloga tenho visto no consultório muita gente infeliz e culpando seus casamentos por isso. Homens e mulheres vivendo uma vida de infelicidade e traições aos próprios desejos e sentimentos por conta de casamentos falidos. Essas pessoas normalmente relatam um início de vida a dois, cheio de paixão, excitação e sonhos. A grande pergunta que elas se fazem é porque chegaram a esse ponto? O que aconteceu no meio do caminho?

Muitas revistas femininas e livros de auto-ajuda falam sobre como ter um casamento feliz e tentam nos ensinar um caminho seguro para que sejamos bem sucedidos nesse intento. Não tentarei isso aqui porque não acredito em fórmulas, muito menos em manual de instrução que orientem pessoas como serem felizes, também porque penso que o casamento é um terreno complexo demais para fórmulas simplistas. Por isso, resolvi refletir sobre alguns ingredientes que tenho encontrado e que são comuns a todos os casamentos bem-sucedidos e que talvez seja o grande (ou simples) segredo deles.

É frase comum dizer que precisamos cuidar do nosso amor ou que o amor é como uma flor delicada que precisa ser cuidada diariamente. Penso que o amor é um encontro de almas, diferente da paixão que vem de um encontro de corpos, de química e de excitação. Entretanto, tanto um quanto o outro, acontecem sem que pensemos neles. É natural, sem esforços. Somos tomados pela paixão sem que a razão esteja presente. Nos descobrimos amando da mesma forma, naturalmente. Podemos nos apaixonar e amar pessoas que nunca imaginamos ser possível, ou mesmo aquelas bem diferentes de nós. É assim. Simplesmente acontece para os que se disponibilizam e abrem o coração para essas energias e não as temem. Isso é suficiente para namorar e se envolver com alguém e viver momentos quentes, excitantes e felizes.

No entanto, quando falamos de casamento, penso que amar é pouco. Precisamos construir algo muito mais que patrimônio para que ele dê certo. Precisamos ter muito mais que filhos, para que tenhamos chances de sermos felizes. Precisaremos construir intimidade. A intimidade que pressupõe amizade e respeito. Intimidade que se alimenta de admiração e orgulho e que gera desejo e excitação. Intimidade que possibilita que um esteja diante do outro sem disfarces, sem máscaras e se respeitem. Intimidade que sustenta a relação apesar das diferenças e que sustenta a convivência apesar das descobertas das zonas de desencontro (que certamente surgirão).

Estar diante do outro com quem sou “íntima”, pressupõe a possibilidade de me desarmar, de me mostrar inteira e também poder ver o outro com suas fragilidades e “defeitos”. Desenvolver “intimidade” é poder lidar com o que descobriremos do outro quando a paixão serenar. A “intimidade” torna possível a expressão pura do desejo e a mostra simples dos sentimentos. Quando somos íntimos podemos mostrar nossa vulnerabilidade e confiar que ela não será usada contra nós. Podemos nos despir. Podemos expressar nossa excitação com a mesma liberdade que expressamos o medo, a raiva, a insatisfação e o amor. Podemos ser quem somos e respeitar o outro na sua verdade, e para isso, precisaremos nos conhecer e estar abertos para conhecer o outro que se revelará a cada dia.

Ludmila Rohr


* texto publicado pela Revista YACHT Noivas & Festas


7 comentários:

  1. Que lindo! É isso aí! Andréa

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  2. Lud, gostei tanto da sua sensibilidade nesse texto... Parabéns!!!

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  3. Adorei o texto!Não sou casada,mas espero viver isso um dia.Mesmo estando em uma relação a 2 anos não me desarmo totalmente.Ainda não chegou a hora.
    Beijos
    Ale_SRN

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  4. O * é muito chique!
    Acredito que só estamos verdadeiramente casados quando despimos as nossa almas e mesmo assim desejamos continuar juntos. Concordo com você. Respeito é fundamental.
    Amei o texto! Lindo!
    Ana Paula Kika

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  5. Olá Ludmilla,

    Diante de tanta leitura banal sobre casamento, me deparo com um texto simples, direto e assertivo que me tocou em muitos pontos.Ao lê-lo vieram duas palavras na minha cabeça cuidado (cuidar) e doação. Não a doação equivalente a submissão, mas a doação por estar inteira na relação (como você pontuou: sermos nós mesmos diante do outro, sem armaduras... Isso é muito dificil, mas possível.)
    Vou compartilhar no face. bj Julia Mignac

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  6. Lud,

    Texto perfeito, no momento exato...rsrs...acabo de completar dia 14/06, 22anos de casada...27 de namoro e é exatamente assim que me sinto, podendo ser eu mesma em toda plenitude, pacote completo...rsrs e isto não tem preço...rsrs.

    Parabéns pelo texto e pelo seu casamento.

    Bjs.

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  7. Casamento é uma arte e poucos conseguem exercê-la bem. Bjs e fik c Deus.

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