segunda-feira, 25 de abril de 2011

A PALAVRA MÁGICA

 Tenho um problema com rótulos.

Percebo o quanto as pessoas adoram um diagnóstico, um parecer, uma definição. Querem uma palavra que diga tudo. Querem um adjetivo que sintetize. Buscam o tempo todo, conscientemente ou incosncientemente, uma definição que esclareça, que as ajude a compreender as pessoas, as situações e as coisas, mesmo que para isso, tenham que limitar suas percepções.

Talvez isso se deva ao medo da complexidade. Talvez.

Nessa tentativa de evitar a complexidade das pessoas e das situações, que possuem infinitas nuances, acabam por criar avaliações muito simplistas. Avaliações maniqueístas e infantis, e acreditam nelas.

No mundo infantil aprendemos a categorizar as coisas entre bem e mal, feio e bonito, bom e ruim. Simples assim. A criança tem esse pensamento linear e simplista. Entretanto continuar na vida adulta a ver a vida desse jeito me parece algo alienante. As coisas não são duais, as coisas e pessoas, são multifacetadas...elas possuem tantas nuances e tantas características que somos obrigados a desenvolver um raciocínio mais complexo.

O fato é: SOMOS PLURAIS, não caberíamos em rótulos. Somos COMPLEXOS, uma palavra não seria suficiente definir alguém.

O interessante é que os rótulos mais aprisionantes são os bonitinhos. Quando alguém te faz um elogio, te diz algo que alimenta o seu ego e vaidade, na mesma hora voce pode se deparar com a armadilha que caiu. Está presa, por que é difícil escapar de um rótulo que mexe com sua vaidade.

Percebia que toda vez que alguém me elogiava ou falava algo ao agradável a meu respeito, como uma definição do que eu era, me sentia aprisionada em um rótulo. Sentia que havia entrado e uma prisão. Dali pra frente teria que ser uma pessoa "sempre calma" diante daquelas pessoas que me definiram como alguém "tão calma". Teria que ser vegetariana, budista, cristã, ateísta, esquerdista, alegre, profunda, paciente...ou "whatever"...

Meu nome "Ludmila" significa "amada pelo povo", isso por si só, é um rótulo terrível. Adoro meu nome, mas quando procurei os nomes dos meus filhos, queria algo simples e que tivesse uma sonoridade gostosa, que não trouxesse em si um significado que já definisse as pessoas que eles seriam. Queria que eles pudessem se construir com mais liberdade.

Passei alguns anos da minha adolescência brigando com o significado do meu nome. Nem tentava ser simpática, quanto mais ser amada. Engraçado lembrar disso.

Brigar contra uma definição ou abraça-la dá no mesmo. Aceitar uma definição é me reconhecer nela. Não aceitá-la é buscar o seu oposto, não é mesmo? Resultado: Prisão do mesmo jeito.

Um dia, aprendi uma palavra que me libertou dessa briga que eu nem conseguia definir bem. Ainda bem que a aprendi cedo. Talvez até mesmo por causa de uma visão anárquica e tântrica diante da vida, que me ensinou a abrir, expandir e aceitar, mais do que fechar, concluir e rejeitar. Algo mais ou menos como "Caetanear" (expressão criada para definir a indefinível Caetano Veloso, cantor baiano)

Ensino essa palavra a todas as pessoas que conheço e aos meus clientes. A palavra que liberta e abre possibilidades para que voce seja quem voce quiser ser, sem se sentir preso a nada  é: TAMBÉM.

Quando alguém me diz: "Voce é calma", respondo: "Também". "Voce é tão profunda", também sou. Voce é budista? a resposta é : Também. Vocé é psicóloga? Além de outras coisas, também sou.

O TAMBÉM me libertou para ser TUDO, ou NADA, ou QUALQUER coisa.

Dentro de uma paleta infinita de nuances de cores, minha alma pode também ser rosa e verde ao mesmo tempo. Posso ser clássica e casual. Posso ser leve e profunda. Posso ser rasa e intensa. Posso ser branca ou preta, posso ser alegre ou triste. Posso ser devassa e pura; boba e esperta...braba e mansa....luz e sombra. Sou plural...sou complexa....cabe em mim muito mais que eu mesma conheço. Cabe em mim muito mais que qualquer um possa imaginar...

Acreditem... "TAMBÉM" é uma palavra mágica...

Ludmila Rohr

P.S. Leiam ao post "Por trás de mim" nesse blog.
http://mulheremcrescimento.blogspot.com/2009/05/por-tras-de-mim.html

21 comentários:

  1. Lana Rohr Cardoso Philippson25 de abril de 2011 às 17:29

    Maravilhoso!

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  2. É, ao ouvir esse sotaque manso ao telefone e as palavras de cariho comigo, Lud era pra mim a mulher mais mansa do mundo!!! Mas ou "lê-la" soltando um DIFUDÊ (hahah), senti que ela é muito mais que a "mansidão baiana"...ela é uma MUSA, e isso não é um rótulo, rsrsr é a mais pura verdade!! Ser humano "espetaculosa" com defeitos e qualidades ímpares e que, por meios dos seus defeitos/qualidades, nos faz enxergar o que e quem somos de verdade!! Nos enxergamos através de seus "rótulos"!!! Lud é MUSA TAMBÉM!!!!! bjssssss

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  3. Legal! Eu e Pati minha filha, filosofamos muito depois da Palestra do Espaço Mahatma Gandhi, ela gostou muito do TAMBEM!!!
    " De perto ninguem é Normal " Tambem!
    Beijo

    Rita Portela

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  4. Gostei! É uma boa palavra!
    Senti na pele essa coisa de rótulo. Prá minha família, pelo fato de eu não ser tão extrovertida quanto a minha irmã, eu era calma, quieta, lerda, sonsa...
    Até que um dia, já adulta, com um problema de enxaqueca, o médico me disse que eu era nervosa. Um nervosismo introspectivo. Fui prá casa pensando nisso e no outro dia acordei com "síndrome de pânico". Eu estava aprendendo a dirigir. Como iria encarar a trânsito?
    Resultado: 10 anos de terapia e até hoje não dirijo. Sempre tenho uma desculpa. Prefiro andar de bicicleta, mas numa cidade como Salvador, é bem difícil!
    Beijo,

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  5. TAMBEM! É tão bom ser plural, né? Ser mansa e brava. Forte e delicada... tudo na sua hora. Gosto disso. Adorei! Me identifiquei. Beijos

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  6. Definições são limites que impomos aos outros e a nós mesmos... Viva a inclusão do "também"...

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  7. De todos os que eu li este é perfeito.
    Me serve mais do outros.
    E me dá uma ferramenta nova.
    Quero ter o "também" para o dia de hoje, em que estou pra baixo, porque amanhã estarei pra cima, porque sou pra baixo, e também pra cima. E como diz Caetano, ou não!
    *** Neste texto, especialmente, você está mais livre do que nunca na escrita!

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  8. Lindo, e útil, exercício de desapego ao ego. É mesmo um desafio lidar com os rótulos que nos são colocados. Texto profundo, na verdade. Também.
    Beijos, Lud.
    ANA LIÉSE.

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  9. Texto perfeito para definir pessoais plurais e que não se identificariam apenas com uma só palvra. Adorei TAMBÉM! rs Parabéns pela lucidez! Bjs.Adriana Garboggini

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  10. Melhor definição impossível para pessoas que não se contentam com rótulos simplistas.Ser plural, é ser múltiplo de sentimentos e papéis na vida. Adorei TAMBÉM. Parabéns pela lucidez.Bjs.Adriana Garboggini

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  11. Muito bom, muito interessante, muito real, TAMBÉM adorei :-)

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  12. Ludmila,
    muito bacana. Adotarei daqui por diante! Sempre senti a multiplicidade como uma possibilidade não esquizofrênica e o mal-estar que isso causava em algumas pessoas me causava um certo mal-estar. A multiplicidade nada tem com a falta de "autenticidade" whatever it means, tampouco com falsidade, mas - agora localizo no léxico através de seu texto - com o também.
    Obrigada por compartilhar. Beijos,
    Irena

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  13. Você é retada também.Beijos da sua cliente a quem vc ajudou a se ajudar.Também é a palavra sem dúvida que nos liberta das idéias e dos rótulos aos quais tento fugir desde sempre.Um beijo querida

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  14. Sou fa de uma mulher que fala aberto, transparente, fala com os olhos, com as maos, com o pulmao, com o coracao...
    Sou fa de uma mulher que fala com o sorriso, com as lagrimas, distante ou proxima, visivel ou abstrata...
    Sou sua fa... TAMBEM!!!

    Didja (capricorniana TAMBEM)

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  15. Incorporei logo o também na minha vida, ouvi sua palestra no Mahatma e já estou usando e como dá certo! as pessoas nos olham de um jeito...surprêsa da abrangência da resposta, em uma só palavra mágica "também".

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  16. Acabei de enviar meu comentario sem assinar, bjs Nubs

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  17. Rótulos... eis aí algo que realmente detesto!!!
    O pior de tudo, é que muitas vezes somos rotulados, e passamos a acreditar que tal "rótulo" seja verdade....
    Cresci com o "rótulo" de ser descoordenada.... e com a mão esquerda então.... uma tragédia grega!!!
    Ao me tornar mãe, com um bebê no colo ou simplesmente segurando minha mão (direita - claro!!!) aprendi que não era "descoordenada", nem tinha nenhum problema em meu braço esquerdo: era falta de treino mesmo!!!
    E de lá pra cá, vejo-me maravilhada ao executar tarefas simples com minha mão esquerda, de forma perfeita!!!!

    Sendo tímida ao extremo, sempre fui quieta e introspectiva: ganhei o rótulo de antipática e arrogante!!!!

    Assim, se há algo que realmente detesto, são rótulos.... que muitas vezes nos são dados por pessoas que não nos conhecem!!!

    Assim, o "também" é fundamental: sou tímida, também tagarela, também quieta, também extrovertida, também descoordenada, também precisa.....

    Há um texto sensacional de Lud que mostra nossos lados, sendo que eles são complementares, não excludentes!!!!

    Beijo minha querida!!!
    Brasileira.... e "também" americana - rsrsrsrssr

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  18. Tô no iPhone, meio difícil de comentar no blog... Outro dia estava comentando com Vlá sobre isso (o tema dessa semana). Eu muitas vezes acho que as pessoas não me reconhecem como eu-alguma coisa... Às vezes acho que me reconhecem mais como Vanessa esposa de Vlá, sabe? Eu tenho uma certa dificuldade de dizer minhas preferências, meu signo, minha filosofia religiosa, por não querer me limitar, mas acho q talvez o resultado esteja se transformando numa falta de identidade própria! Não acham que isso pode acontecer também?

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  19. adorei o seu texto rsrs, tem o site significadonome.com.br com significados de nomes, mtos nao se encontram la
    bjjj

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  20. Sem querer aprisionar o seu texto em palavras, nem muito menos defini-lo, até porque não poderia, achei absolutamente FANTÁSTICO, BELO, INSTIGANTE, DELICIOSO, TAMBÉM .......... EU AMEI.

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  21. Rótulos realmente aprisionam. Acontece comigo o tempo todo. É difícil escapar, quando você recebe a massagem. Quando agridem ou ferem, já te mobilizam muito e aprisionam do mesmo jeito. Será que aquilo que mexe com você, que mobiliza, pra o bem ou pro mal, é seu mesmo? Pode ser projeção do outro, mas a própria pessoa aceita se quiser. Aceita quem quer. Isso é bem verdade, pra mim. Vejo um problema muito maior, e mais complexo, quando é o domínio que tem um grupo, uma comunidade ou uma sociedade sobre os indivíduos. A psiquiatria faz isso, todo o tempo. As pessoas se auto-rotulam pra se satisfazer num nome, um termo, uma descrição. Se enjaular.
    Saudável é escapulir desses contornos, que amordaçam. Que nos limitam.
    Me fez bem ler isso. Volto cá outras vezes, quando sentir esse aprisionamento me rondar.
    Um cheiro Lud.

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