quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Mais uma vez agradecendo ao Universo feminino !

Nunca tomei conta diretamente de uma casa. Sempre fui uma administradora da minha casa, mas diretamente nunca fazia nada. Nunca cozinhei..nunca havia limpado, arrumado uma cozinha..uma geladeira...e por mais que pareça estranho pra muitas mulheres, nunca havia feito um arroz, um feijão na vida! 

Talvez vocês pensem que nasci rica...muito pelo contrário. Nasci em uma família simples. Minha mãe era professora e trabalhava em 3 empregos, os três turnos! Quase nunca estava em casa. Lembro dela chegando e saindo. Meu pai trabalhou a vida toda no Polo Petroquímico e era sindicalista, vivia em greves, movimentos sindicais...passava muito tempo fora de casa. 

Na minha casa tínhamos Candinha. Acho que nesses dois anos de blog não falei dela. Candinha era a mãe preta. Quando eu nasci, ela já estava lá. Quando eu casei....ela ainda estava lá. Ela era a sósia da minha mãe..só que preta. Ela criou a gente. Ela brigava com a gente...colocava todo mundo pra fora da cozinha o tempo todo. Minha irmã que vem depois de mim, a chamava de mãe, "mãe preta". Quando ela chamava "mãe" e nossa mãe respondia, ela dizia, "Não é voce não, é minha mãe preta!".

A "Mãe Preta" era um  personagem comum nas famílias nordestinas e nas regiões que tinham um passado em que a prática da escravidão havia sido forte. As "Mães Pretas" criavam, amamentavam, davam carinho aos filhos das brancas...e muitas vezes nem podia criar os seus próprios filhos.

Não quero aqui fazer uma crítica social, muito menos cultural...longe disso. Quero apenas render uma homenagem a Candinha. Ela foi e ainda é, muito importante para a minha família. Hoje com o olhar da Sociologia e da Psicologia Social, posso entender o que Candinha representava. Ela era pobre, preta e empregada. Morou com a gente a vida inteira. Candinha não nos deixava entrar na cozinha. Ela dizia: "Vá estudar, se voce estudar, voce paga alguém pra cozinhar pra voce!". Não era minha mãe branca quem dizia isso, era a mãe preta. Acho inclusive que minha mãe branca, tinha uma vida mais dura, que a de Candinha. Vivia trabalhando, como professora...vida dura e pessimamente remunerada, a diferença era de "status", mas nenhuma na dureza do trabalho.

Na verdade...penso que esses foram os meus dois modelos femininos na infância. As duas trabalhando muito. Cresci assim. Achando que preciso trabalhar muito e o tempo inteiro. Fiz isso. Passei a infância e adolescência dos meus filhos trabalhando o dia todo e até tarde da noite. Assim como eu tive Candinha, meus filhos tiveram as minhas queridas Deda e depois Nil, por quem terei gratidão eterna e que moram no meu coração! 

Quando vim morar nos EUA, passei por uma mudança radical. Trabalho em casa, escrevo, organizo meu livro, planejo sites e estudo o tempo inteiro. Tenho alguns grupos de Mulheres e de Respiração (que amo!!) mas nada comparado ao volume de trabalho que tinha no Brasil com o consultório e com a clínica. Resultado..tenho descoberto um novo prazer: Cuidar da minha casa..cozinhar...arrumá-la....receber pessoas...fazer almoço pra Lucas, atender as necessidades da minha família nesse nível. Sinto muita falta de Caio não morar aqui nesse meu momento, queria poder fazer uns denguinhos pra ele também. 

Acho que integrei  uma nova face do feminino em mim. Sem esquecer do meu trabalho, da minha paixão pela psicologia e pelo Yoga, mas podemos dedicar mais tempo a minha casa e a minha família, como nunca havia feito antes. Estou gostando disso, embora tenha me deparado com minha imensa ignorância e despreparo. Não sabia fazer nada. Entenda "nada" no sentido literal. Nunca havia ligado uma máquina de lavar roupas, embora sempre tivesse em minha casa. Nunca havia colocado as mãos sobre um pedaço de frango ou peixe cru. Podem rir, mas é verdade. 

...e aí que entra mais uma vez o meu sentimento de gratidão por todas as mulheres que apareceram na minha vida aqui nos EUA e que estão me ensinando sobre esse universo pra mim, desconhecido e assustador. Agradeço imensamente e principalmente a Fátima Pontes, Nanci Nascimento, Fátima Carvalho e Valéria Silveira. Mulheres poderosas que me ensinam sobre algo que parecia um terreno que jamais conseguiria atravessar.

Acho que no final de um ano posso dizer que sinto que fui aprovada nessa graduação.
Yes, I did it!!!

Meninas...quero dizer a voces: Muito Obrigado! Sou grata!
Sou grata a todas as mulheres que entram na minha vida e me ajudam a crescer!

Beijos

Ludmila Rohr

15 comentários:

  1. Ludmila,querida!
    É por essas e outras que te admiro +, a cada dia!
    Mesmo sem te conhecer, mesmo de muito longe...

    Diante deste post, não tenho + nenhuma dúvida:
    Podemos ser chiques e humildes ao mesmo tempo!

    Bjos, de sua amiga virtual.
    @Inacosta ♥

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  2. é isso aí Lu!! Eu estou no seu time...a diferença era que Igor cozinhava....eu ficava na assistência!!
    Parabéns!! Guerreira uma vez....guerreira sempre!!
    Rose

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  3. Comento muito pouco aqui, acho que por ser sua irmã, fico pensando que pode soar como nepotismo, bairrismo e aí não ser levada a sério, mas esse post falou muito sobre a realidade que vivi e vivo também. Então acho que o meu comentário vai ser gigante! Quando Candinha foi embora, tinha 13 anos, foi muito duro para mim. Vc já era casada e eu ainda era uma criança. Fiquei achando que ela não gostava mais de mim, como uma mãe preta pode querer ir embora, etc. Eu lembro que ela nunca deixava a gente fazer nada na cozinha e tudo o que eu tentava fazer estava errado ou derramava tudo, etc. Aí fui perdendo o interesse por coisas de casa. Quando namorava, sempre deixava bem claro que eu não sabia nem fritar um ovo e que não esperasse essas "Coisas" (eu usava um tom bem desqualificante) de mim, pois o que importava é que eu trabalhava em multinacional, morei fora e falava 3 línguas, etc. Na verdade eu tinha era um trauma de infância mesmo. Quando comecei a namorar Edu e viver uma vida mais "rural" fui entrando em contato com a minha essência feminina (do tipo homem trabalhando na roça e mulher na cozinha) e gostei. Nos fins de semana, quando Edu chegava de uma calvagada e perguntava se tinha bolo, se tinha pudim, etc. eu ficava tão feliz em ver ele adorando tudo o que eu fazia. Descobri um site: www.tudogostoso.com.br e comecei a ser auto-didata e cada fim de semana, pegava uma receita diferente. Fico imaginando a reação de nossa mãe ou Candinha vendo como cuido da minha casa, como vou ao supermercado, gerencio a faxineira, etc. Edu hoje brinca que ele "me adestrou" ou "que me colocou no eixo", etc. Isso me dá prazer, muito mesmo. E não abro mão do meu lado profissional e moderno, mas gosto de saber que agora tenho esses dois lados bem definidos. Beijos, Lali

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  4. Que bom que venceu seu "trauma" Lali.
    Esse jeito delas não me traumatizou..apenas foi uma referência forte..e é assim mesmo..A gente se desenvolveu em uma frente, depois em outra. Melhor assim né? Se vc fosse aprender 2 línguas agora velha, não ia dar certo! É melhor agora aprender a fazer bolo e pudim!
    Bjos

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  5. Lindinho esse post... quanto carinho!

    Saudades, minha linda mestra!

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  6. Lembro bem quando aqui voce chegou e comentava que nao sabia fazer nada, que quase sempre quando comentavamos que fizemos alguma receita facil, voce dizia (e diz) , manda pra mim por e-mail,coisa assim. De vez em quando te dou algumas dicas, mas como estou mais longe dai,nao consigo mostrar mais meus dotesssssssss. Mas faco bolo e levo. Ahahahaha.

    beijos minha linda.Muito legal seu comentario.Anaguiar

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  7. Ana,

    Vc é uma linda! Vc mora no meu coração e tenho certeza absoluta que iria amar que vc morasse perto de mim!!!
    Acho que nos daríamos tão bem como vizinhas..e certamente ia aprender muito com vc!

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  8. Amiga, lendo esse texto voltei no tempo. Eu também vivi nesse mundo o qual não faziamos nada em casa para ajudar, porque não precisavamos. Quando eu casei, com 21 anos sai do Natal/RN e fui morar em Santa Maria/RS e também me deparei com uma nova realidade na minha vida a qual não conhecia. Amei! Aprendi fazendo porque lá onde eu estava todas a mulheres estavam no mesmo barco. Até hoje gosto do meu trabalho em casa. Não trabalho fora de casa, e sou feliz :)
    Aproveito esse momento para te agradecer também. Você já me ensinou muito em um ano, acredite. Muito obrigada por tudo também.
    Beijos

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  9. Adorei o post, lembranças do bolo de chocolate de Candinha aos sábados qdo.brincava com Lali, das aulas de pró Jacira e feliz pelo depoimento de Lali,entendo perfeitamente qdo diz "trauma de cozinha", passo por situação semelhante , e anotado o site p/ cozinhar. Beijos. Marcia Jansen

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  10. Querida Lud...
    Comentei ,mas acho que devido ao clic errado mandei via e-mail.
    hi! hi! hi! Resultado de poucas horas de sono... Essa festinhas de final de ano acabam com a gente ... hi! hi! hi!
    bjks

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  11. Lu,
    Lindo seu post!! Eu também tive uma candinha e só em lembrar dela me vem lágrimas aos olhos...
    Minha querida Helenita, não chamava de mãe ,mas ela é sinônimo para mim de carinho, respeito e elegância. Ela tinha uma grande elegância quando andava e quando fazia TUDO por mim e por minha irmã ;d
    Feliz em ler o seu post e lembrar de helenita
    Obrigada
    Beijos
    Líli

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  12. que gostoso ler...perceber que temos algo aqui e ali e acola semelhantes, diferentes, mas que nos fazem refletir, crescer... beijos com carinho a voce lu e outro bem grande com saudade a vc lali, que mora em meu coração. aproveito para desejar a todas voces muita SAUDE e MUITA LUZ DIVINA para 2011!!! que os sonhos se realizem abençoados pelo nosso criador que sabe o que é melhor para nós todos! mUITA LUZ!

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  13. Lud,

    Me identifiquei muito com o seu relato, assim como vc, fui criada estudando para ser profissional competente e passei a infância e adolescência dos meus filhos trabalhando o dia todo. Há uns dois anos o meu desejo por ficar em casa cuidando deles tem sido imensa.Tenho feito algumas coisas neste sentido, mas não tudo o que ainda desejo fazer.Enfim, nunca é tarde para viver nossos "outros pedaços", né? Espero poder integrar mais o feminino que vive dentro de mim.
    Minha gratidão tb pelas mulheres que me acalentaram e aos meus filhos.

    Dá um bjão em Fátima Carvalho, mãe de Diego, e em Valéria Silveira, mãe de Clara, diga que foi Inês,mãe de Felipe do Módulo.

    Bjs e que possamos manter a energia do renascimneto no nosso dia a dia, possibilitando nos reinventarmos sempre.

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  14. Agradecer ser empregada domestica, gostar dessa realidade e se sentir plena?
    Não me encaixo nesse perfil, por mais que eu tente. Sinto que não cheguei em lugar algum quando me vejo lavando um banheiro ou passando uma camisa.

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  15. O conceito de "empregada doméstica" é tão brasileiro...ou pior..é dos países pobres. Elas não existem em países ricos.

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Sempre leio todos os comentários e gosto muito de recebê-los!