Tenho mantido uma regularidade de postagens no meu blog. Não que eu me sinta com essa obrigação, afinal tudo isso começou como um grande diário em que eu desabafava as dores de viver a descoberta da metástase de fígado de Judson. Estávamos em São Paulo para encarar uma cirurgia delicada quando descobri que podia ter esse instrumento tão comum na minha pré-adolescência, um diário!
Naquela época, janeiro de 2009, escrevia quase todos os dias...sentia que estava compartilhando minha dor com muitos amigos...refletia sobre a vida. sobre a morte..sobre ser ou não realista, pessimista, otimista...refletia sobre a função da fé e sobre o que a fé significava para mim.
Sempre que releio esse período do meu blog, fico encantada com o poder do tempo!
Nos últimos mêses tenho escrito quase sempre nas segundas-feiras...sinto vontade...sinto saudade de conversar com os amigos...Esse blog tem sido uma delícia na minha vida...gosto de conversar e escrevo como se conversasse com amigos.
Essa segunda não foi possível escrever, meus pais estão aqui nos visitando e estávamos chegando de uma viagem a New Orleans..
Não sei ao certo se foi a falta de tempo que me afastou do blog...começo a desconfiar que a presença dos meus pais aqui esta me mobilizando muito e não tenho tido tempo para refletir sobre isso...
Não tenho grandes apegos em relação a eles. Minha criação me conduziu para um lugar de muita independência. Certo ou errado, construí a minha própria família, e é ela que é minha referência.
Meus pais são presenças fortes de muitas coisas que gosto e de que não gosto, que quero e que não quero pra mim....tenho amor e gratidão, mas sei que minhas pernas, minha coragem e determinação pessoal me sustentam há muito tempo...e que minha vida sempre foi uma tentativa de estar cada vez mais no presente e não no passado.
Muitos anos de terapia também me ajudaram a me reconhecer como individuo e não como filha deles. Sem negar o passado, mas sem dívidas com ele, posso viver nesse momento como uma pessoa adulta e independente, que precisa de amigos, mas do que de pais..e que fica feliz em vê-los em alguns momentos como amigos.
Meus filhos começam a passar por essa transformação também...precisam cada vez menos de mim da forma antiga...é assim mesmo. Tem que ser assim, e precisamos estar atentos para essas mudanças.
Bom...meus pais estão pela primeira vez na vida na "minha" casa, pois é a primeira vez que os recebo...sempre moramos na mesma cidade. Gosto de saber que aqui é minha casa e que eles estão na minha casa...ainda não sei explicar bem isso, mas passa perto de uma sensação de que posso continuar aqui sem "ser filha" deles....aqui é minha casa..é o meu ritmo. É a minha vida que os recebe...isso é bom...não sei ainda porque, mas é bom, continuo sendo Eu e não a filha deles.
Isso é bastante complexo...levarei algum tempo para fechar essa gestalt em mim, mas sei que é algo bom. É como uma confirmação de todo o caminho que trilhei no sentido da minha individuação. Gosto disso. Me reconheço...essa sou eu.
Ludmila Rohr
Como é bom ler seu Blog. Somos mesmo parecidas em mtas coisas e ver que não "estou sozinha" nos processos da vida, que é assim mesmo, me dá uma certa "segurança".
ResponderExcluirObrigada Lu.
bjks !
Que maravilha de texto, muito corajoso, e desmistificador, obrigada por elucidar estes sentimentos tão complexos e dificeis de encarar que é ser adulto completo, sem faltar com o amor e respeito aos nossos pais, muito saudável. Ontem nos reunimos eu e a Jane em casa de Cirila, conversamos muito sobre as nossas vidas desde a última vez que nos vimos, foi muito legal, estavamos felizes em lhe encontrar agora em abril, agora só em maio, vamos aguardar mais um pouco, no final Cirila nos ofereceu um maravilhoso lanche, acho que estamos construindo uma boa amizade.
ResponderExcluirDesejo sucesso nos resultados da revisão do Jadson e que chegue aqui bem feliz. Bss.Nubs
oi Ludmilaaaaaaaaaaaa tava com saudade de ler seu blog. Estou viajando e evitei usar o computador. Mas esse me tocou pelo fato de ter tb meus pais fora de onde moro e agora fiquei 15 dias aqui na casa deles . Confesso que foi bom mas meu lugar e perto de meu marido e minhas filhas, a familia que construi. Sinto que incomodo a eles porque, querendo ajudar, reclamo de algumas coisas que eles fazem e eu, pensando ser a dona do mundo, quero mostrar a eles um pouco de minha experiência. Mas esta sendo dificil e sei que o melhor e eu estar longe e ajudando quando posso, com conversas pelo telefone. Vou sentir saudades quando for mas tb tenho minha casa e e la que tenho que voltar.
ResponderExcluirbeijos amiga. Bom ler coisas que parecem conosco.
Ana Aguiar
Muito generosa essa partilha tão sincera dos seus sentimentos. Abraço carinhoso.
ResponderExcluirAna Liése.
Oi Querida!
ResponderExcluirÉ mesmo, generosa e corajosa, concordo. Fechar isso é um looongo processo. Obrigada por compartilhar.
Beijo
Nilza
Achei interessante seu ponto de vista de individuação em relação a seus pais. Sempre vi o individuo uma mistura de presente e passado. Não tem como separar o ser de hoje sem o de ontem. Vejo os pais como seres sábios e experientes. Eu paro o mundo para ter a honra e privilégio de recebê-los em minha casa e me esforço ao máximo para que eles se sintam em suas casa. Não existe amigo que substitua os pais. Eles sao únicos, incomparaveis. Também sou mãe e vejo que a independência e relacionamento proximo são coisas divergentes. Este é apenas um ponto de vista e não uma verdade.
ResponderExcluirGosto de sua maneira aberta e verdadeira de escrever. Parabens pelo blog!
A idéia dos pais como pessoas sábias e experientes é uma interessantes, mas nem sempre verdadeira.
ResponderExcluirQuando ouço alguém dizer: sou igual aos meus pais, ou, quero ser, fico preocupada. Penso que a única obrigação que temos na vida é de sermos melhores que eles. Temos que superá-los. Temos que ir a um patamar maior...bom, pelo menos é isso que espero dos meus filhos.