domingo, 6 de setembro de 2009

Não gosto de praia...adoro o mar!


Nasci em Salvador...em frente a praia. Praia sempre foi o programa de todo mundo que nasce e cresce em Salvador. Demorei algum tempo pra descobrir que detesto praia. Detesto tudo que envolve esse ritual de ir à praia, biquine, protetor (antes era bronzeador), sacola, sombreiro, cerveja..carangueijo...acarajé...calor, areia....afe...simplesmente detesto...


Quando Caio e Lucas eram pequenos, eu os levava à praia..toda mãe faz isso. Eles brincavam de castelo de areia, nas ondinhas...tomavam picolé, queijo assado...se perdiam, se achavam...e cresceram...Hoje eles detestam praia. Os meus dois filhos, que cresceram indo a praias aos domingos, também detestam praia.


Quando eu descobri que não precisava ir a praia...que eu podia assumir a minha brancura...foi como uma alforria. Ainda tenho que lidar com os espantos das pessoas quando digo que detesto e que não vou a praia, mas tudo bem. Sou baiana de Salvador e detesto praia e carnaval, aviso logo! Vou a praia todos os anos no dia 1º de janeiro, é um ritual íntimo...e não vou mais nenhum dia durante o ano todo; e no carnaval não vou nunca, nem nunca levei meus filhos.


Bom..mas por que estou falando sobre isso?

Porque eu adoro o mar. Eu amo ver o mar...estar aqui em Lisboa...ver o mar, me deixou extremamaente emocionada. Gosto de tudo que vem do mar. As poesias e as canções. Gosto dos peixes, mariscos....adoro as comidas que produzimos do mar. Como moro em frente à praia...vejo o mar todos os dias....tenho uma certa reverencia pelo mar... respeito mesmo. Não acho que sou íntima e posso ir entrando...tenho uma espécie de adoração respeitosa...que contempla mas não se aproxima muito... quase uma reverência romântica...que endeusa...que glorifica...


Quando eu era pequena sonhava com o mar quase todas as noites. Ondas me pegavam...eu tentava resistir...depois me rendia...Sonhava com mergulhos intermináveis pelo oceano...eu podia respirar dentro d'água (nesses sonhos)...sonhava com algo que parecia morte por afogamento, mas não eram mortes..não havia desespero, nem eu me debatia...apenas mergulhava e me deixava levar....o mar me levava...e eu ía....


Hoje é meu último dia em Lisboa..estou voltando pra casa...penso que em outra vida, talvez tenha sido um navegador..alguém do mar..ou um pescador...quisera ter sido um poeta...que escrevesse sobre o mar...que usasse o mar como metáfora da própria alma, da própria vida...


Tenho marés...tenho ondas e calmarias...sou profunda e sou rasa....dou frutos...quando mais entro em mim, mais silencio encontro...do lado de fora...ruidos...coisas se mexem...mas dentro...só silencio...profundidade e quietude....


Namastê


Ludmila Rohr



2 comentários:

  1. Oi

    Passei prá lhe ver e me deparei com essa fala parecidíssima com a minha. Achei graça, pois tenho me deparado frequentemente com essa surpresa das pessoas diante do fato de eu não gostar de praia e carnaval. Os mineiros especialmente ficam pasmos, pois logo que sabem que moro em Salvador me apontam como privilegiada pelos seus atributos famosos.
    Mas concordo com você o mar é lindo e muito poderoso, tenho reverência por ele! E a nossa brancura é chic como dizem meus conterrâneos...

    Beijos
    Nilza

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  2. LUD, AMO FICAR OLHANDO O MAR, PODE PARECER LOUCURA, MAS FALO COM O MAR NO MEU MOMENTO DE SILÊNCIO COMO SE ESTIVESSE FALANDO COM DEUS, ENCONTRO DEUS NA NATUREZA, NAS FLORES, NA CRIANÇA QUE NASCE...
    LINDO SUA COMPARAÇÃO DA VIDA COM O MAR, ME ACHEI DENTRO DELE TBM, SOMOS UM VERDADEIRO MAR.
    OBRIGADA POR ESSA LEITURA MARAVILHOSA, ME FAZ MUITO BEM.
    MIL BEIJOS!!
    CRISTIANE

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Sempre leio todos os comentários e gosto muito de recebê-los!