quarta-feira, 15 de abril de 2009

Aquilo que se foi...aquilo que ficou...


Estou me dando conta de uma coleção de perdas repetitivas na minha vida. Não sei como elas me afetam diretamente, mas sei que são importantes.


Quando eu era uma criança, um carro de meu pai, pegou fogo, nele estavam álbuns de fotos de todos os filhos, muitas foram queimadas, algumas poucas foram reaproveitadas. Não sei o que os álbuns estavam fazendo lá, mas isso aconteceu.


Quando Salvador viveu a pior chuva da sua história, o rio que passa perto da minha casa transbordou, a enchente inundou muitas casas, inclusive a minha, perdemos muitas coisas, que foram repostas com o tempo, mas perdemos fotos, fotos do meu casamento, fotos das crianças ainda bebês...muitas fotos simplesmente desapareceram...nem sei o que perdi de fato.


Agora meu notebook deu um xilique...algo aconteceu com ele...e eu tive que gastar dinheiro para tê-lo de volta. Ele voltou, mas sem as fotos que eu armazenava lá. Inclusive todas as fotos da nossa viagem a Europa no ano passado. Algumas estão no orkut, mas perdi muitas fotos e assim como na inundação, nem sei de fato o que perdi.


Quando lembro do meu casamento fico triste em não ter fotos, eu casei em 1985, tinha 21 anos e casei numa cerimonia diferente. Eu estava vestida de Sari (traje típico das mulheres na Índia), descalça....acho que eu estava linda...., mas de fato essa fotos não me fazem falta, lembro de cada instante daquele dia.


As fotos dos meus filhos pequenos que foram perdidas doem, mas eu vivi tanto cada momento deles, vi cada dentinho nascer, vivi cada passo que foi dado e poderia contar em detalhes, poderia escrever um livro sobre isso...


A viagem para a Europa em 2008! Uau! Não existe nem ao menos um segundo dessa viagem que eu tenha esquecido...posso relembrar de tudo. Estávamos celebrando a vitória com o 1º câncer de Judson. Nos divertimos, nos amamos, choramos, brindamos, brigamos, fizemos as pazes...tudo está registrado no meu corpo e alma.


Quando era adolescente li um livro autobiográfio de Neruda "Cofesso que vivi". Confesso que não lembro de nada mais que li nesse livro, mas não consigo esquecer o título. Confesso que vivi.


Hoje, nesse exato instante meu marido está com drogas sendo injetadas no seu corpo pra tentar aniquilar célular cancerosas que ainda podem estar lá. Não tenho fotos de tudo que estamos passando desde abril do ano passado por causa desse câncer, mas não existe nada mais nítido na minha mente que isso.


Confesso que casei vestida como uma indiana.

Confesso que meus filhos fizeram muitas coisas lindas nas suas infancias.

Confesso que experiementei prazeres inesquecíveis na Europa em 2008.

Confesso que tenho vivido minha vida com muita intensidade que nenhum fogo ou água, ou problemas tecnológicos podem apagar.

Confesso que vivi, e viverei muitas experiencias intensas nessa vida e as contarei, contarei muitas vezes...contarei aos meus amigos, a quem quiser ouvir ou ler.

Confesso que muitas coisa se foram e eu tive que apreder a aceitar isso..., mas não há nada que realmente eu tenha, que algo ou alguém possa tirar de mim, pois elas me compõem, elas estão presentes na pessoa que sou, elas me construiram...


Confesso que vivi e viverei muito mais ainda...


Namastê


Ludmila Rohr
P.S. foto sobrevivente do meu casamento

13 comentários:

  1. Lud

    Engraçado esse post seu.
    Acabei de postar no meu blog algo que diz um pouco do momento que estou vivendo... um pouco de crise de idade eu acho. E apesar de não ter perdido fotos em incêndios ou enchentes, eu ando me dando conta de coisas que eu perdi. Oportunidades, amores e até tempo... por vezes minha persistencia advinda do meu asc capricornio vira um pouco de teimosia e medo do novo... hj me dou conta da perda de tempo e lamento tê-lo perdido. Estou diferente do que sempre fui. Não da pra dizer que é definitivo, porque nada na vida é. Mas pude perceber a mudança através das fotos... sempre amei tirar fotos. Muitas. E desde o ano passado quase não tenho tirado.
    E ai, li esse seu post. Por mais que os motivos seja diferentes - sem julgar maiores ou menores - senti que não estou sozinha, desconectada. Me senti fazendo parte de algo maior, uma mudança maior que a minha vida cotidiana.
    Bem é isso.
    Muitas bençãos pra vc e Judson.
    Beijos

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  2. Pata,

    Que legal vc aparecer aqui outra vez! Senti sua falta!
    Sou capricorniana..somos o "senhor do tempo", o tempo sempre vai estar ao nosso lado! meu asc é áries...me ajuda com as mudanças...e principalmente a ter aquilo que busquei a vida toda, a capacidade de me render, de me entregar...de aceitar que não sabemos de nada...não lamente nada, apenas se entregue a vc mesma! Se entregue aos seus desejos...ao seu corpo...a sua vida!

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  3. Lu na minha vida tbém tive muitas perdas, mas procuro não ficar envolta dos mesmos problemas, hitórias, traumas, mágoas...pois esses pensamentos me tomam o tempo presente e não me deixa aproveitar o momento.
    bjbjbj

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  4. Regininha,

    Precisamos aprender o desapego das perdas. À vezes as pessoas se agarram mais as histórias sofridas, do que as partes boas....desapego, aprender algo e desapegar...dar um significado àquilo naquele momento e desapegar...O cuidado apenas é de não colocar as coisas pra baixo do tapete! mas, virar a página e viver o presente é ótimo!

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  5. desprender do material... taí, foto é uma coisa que nao consigo me desprender...rsrsrsr

    porque materializam momentos e para bons momentos sou consumista!ssrsr...

    outras fotos ... outros bons momentos virão!

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  6. Sabe que cada vez que nos mudamos (meu marido é militar) eu carrego os negativos de fotos antigas e os dvds das atuais comigo???? Não deixo na mudança e morro de medo de perder. Sei que é apego, mas não considero material, afinal são nossos momentos que estão ali, e relembrar coisas boas é tão fantástico!!!

    Dificilmente alguém fotografa hospital, cirurgia, etc. Fotografamos a nossa felicidade, não é mesmo???

    Claro que ela está dentro da gente, lembramos de cada momento, como você disse, mas... Mas conforme o comentário acima, outros momentos mega felizes virão, e você os fotografará e daqui há muitos anos olharão felizes da vida, com nostalgia saudável.

    Li os posts que você me falou sobre o ateísmo do seu filho, muito providenciais para mim!! Obrigada.

    Beijinhos e bom finde para vocês, espero que seu marido passe ótimamente bem!

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  7. Ludmila, vc é uma pessoa iluminada! Não tem uma única vez que eu não me emocione lendo o que vc escreve ou ouvindo vc... Espero a sua vida tenha tanta beleza quanto o que você nos proporciona... Tenho fé que tudo vai dar certo!

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  8. Vanessa!
    Vc por aqui?
    Minha linda...que bom que vc gosta...adoro ser gostada! rsrsrsrrss

    bjos

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  9. Ludmila,
    Seu post encheu meus olhos de lágrimas.
    Um dia conversando com uma pessoa sobre apego, ela me disse: "-Como não ter apego se passamos 9 meses grudada a nossa mãe através de um cordão?"
    Se libertar desse estigma para alguns demora uma vida, de tão forte que é. Talvez por conta disso muitos se apegue e pouco se viva.
    Mas já escreveu alguém: "O essencial é invisível aos olhos"...
    Beijo grande,
    Namastê.
    Daiana

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  10. Daiana,
    vc é a Daiana aluna de yoga atual Pilates?
    Bom...a vida nos ensina (ou pelo menos tenta)o desapego o tempo todo...pq é ele que nos leva a tanto sofrimento....desapegar não significa ser indiferente...somos afetados e sentimos tudo que nos acontece, mas precisamos nos desapegar para inclusive poder interferir de forma correta...poder desenvolver uma visão correta e não egocentrica...
    Namastê

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  11. Sim! Sou eu!
    Ontem fui no site do Mahatma pra pegar o tel de lá e vi o link pro seu blog.
    Comecei a ler, ler, ler e nao parei mais!
    Gostei muito da sua escrita simples e verdadeira.
    Um beijo grande,

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  12. Já tinha descoberto...pois vc me add no orkut e vi sua foto!

    bjos

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  13. Nossa! como não havia lido isso antes?!... É lindo, comovente, intenso! Verdadeiro em cada linha.
    Lembro como você estava linda em seu casamento!...
    Beijos!
    Ana Liése.

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Sempre leio todos os comentários e gosto muito de recebê-los!