quarta-feira, 4 de novembro de 2015

ELE PODERIA SER MEU FILHO




meus filhos com adolescentes nepaleses, em uma praça em Kathmandu

Uma das coisas que mais amo é ouvir histórias, não é a toa que sou psicóloga. Amo realmente ouvir pessoas falarem de suas vidas, das suas dores e alegrias. 

Morar fora do Brasil, e em lugares tão diferentes do mundo, me colocou em contato com pessoas e histórias que jamais esquecerei, e por serem tão lindas, acho que merecem ficar registradas. Quem sabe alguém, em algum lugar, em algum tempo distante, possa lê-las e se emocionar assim como eu me emocionei.

Aqui na Arábia Saudita não podemos dirigir, então a compania que meu marido trabalha, coloca a disposição carros com motoristas para nos atender. Esses motoristas são na sua imensa maioria, indianos e uns poucos nepaleses. Nas poucas vezes que saio sozinha com eles, aproveito para ouvir suas histórias. Pergunto sobre suas famílias, pais e mães, esposas, filhos...como fazem pra mandar dinheiro para eles e como é difícil viver num país em que eles são absolutamente  invisíveis. Eles sofrem. Sofrem preconceito, saudade e solidão. Vida muito dura, por isso sempre damos boas gorjetas e sempre que posso, ofereço uma conversa que lhes mostrem o apreço e respeito que tenho por eles.

Hoje quero contar a história de Milan, um nepalês de 25 anos, hinduísta, educadíssimo e com toda aquela energia que o Nepal exala, e que me mata de saudade (claro que contei pra ele que existe uma cantora chamada Shakira, que é famosa do lado de lá do planeta e que tem um filho chamado Milan, ele não acreditou!). Ele na verdade nasceu na Índia em Darjeeling, em um campo militar. Ele tem duas nacionalidades. (claro que contei pra ele que Hollywood fez um filme lindo que se passa em Darjeeling e que tem esse nome!!! Ele não acreditou!!).

Ele é pai de um lindo menino de 5 mêses chamado Awee, e como todo pai orgulhoso, me mostrou várias fotos de um lindo bebzinho com aquelas bochechas rosadas e olhos puxados que nos encantam no Nepal. Sua esposa é linda também, e ele está há 3 meses longe deles e de coração partido. Não consigo imaginar a dor deles. Semana passada meu motorista era um indiano que acabara de ganhar trigêmeos, e estava contando os dias para voltar pra Índia em férias para conhecer os filhos.

Mostrei fotos da minha família de férias no Nepal, e lhe contei que meu filho caçula tem a mesma idade dele. Ele não acreditou que eu conhecia e amava o seu país, e que tinha muito orgulho de ter ido lá três vêzes, e que em uma delas eu havia levado os meus filhos, na época adolescentes. 

Levar meus filhos ao Nepal e a Índia, foi um dos maiores presentes que imaginei poder dar a eles em vida, e talvez realmente tenha sido o maior de todos. Torço muito que um dia eles percebam isso.

Antes de sair do carro, mostrei a minha tatuagem do Lord Ganesha. Ele exclamou: Ganesha! Lord Ganesha! 

Milan podia ser meu filho. Eu chorei, ele prendeu o choro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sempre leio todos os comentários e gosto muito de recebê-los!