segunda-feira, 19 de julho de 2010

Homofobia NÃO!

 Li esses dias uma matéria do jornalista Jefferson Lessa sobre o "Bullying Homofóbico" que ele vem sofrendo. Ler esse relato doloroso de humilhação e sofrimento me deixou louca. Sinto muita raiva nessas situações. A humilhação das minorias, ou das diferenças me deixa com vergonha de pertencer a nossa espécie. Nesses momentos tenho muita vontade de ter "voz" e gritar muito até que todos possam ouvir o quão absurdo é isso.

Bullying é o nome que se dá a processos de humilhação personalizada...normalmente ligado a escolas e à adolescência, em que os "fortes" espezinham os "fracos". 

Quem nunca presenciou ou sofreu nas escolas algum tipo de pirraça? ou apelidos que não suportávamos? As meninas lindas que podiam tudo e os rapazes espertos que se davam bem e sacaneavam aqueles que não se davam?...entretanto nesses tempos, o bullying tem se expandido e se aprimorado. Deixaram de ser brincadeiras com toques de perversão para serem problemas sociais que revelam o caráter perverso da nossa sociedade. Saíram dos muros das escolas e foram para as ruas...para as comunidades..para a vida.

Esse jornalista expõe com muita delicadeza o seu sofrimento. Impossível não ser solidário a ele. Bom...talvez não seja impossível, sei lá.

Tenho refletido muito sobre bullying e tenho procurado ler alguma coisa, já que sou psicóloga. 
Pensavam os estudiosos, a princípio, que se a vítima do Bullying ficasse quieta, não "se importasse" com a humilhação, isso seria passageiro. Diziam que o que alimentava o comportamento dos agressores, era a reação das vítimas. Era (ainda é) comum a orientação de que a vítima devia "deixar prá lá", e tudo passaria com o tempo..os agressores a esqueceriam. Ou seja, toda a responsabilidade sobre a continuidade ou não dos ataque era da vítima. A psicologia do "Deixa pra lá" não deu certo. Nunca deu certo...acho que os agressores podiam até parar, porque teriam perdido a graça de espezinhar aquela pessoa, mas achariam uma próxima vítima.

Depois surgiu a idéia de que as vítimas tinham que se preparar para enfrentar os agressores. Eles precisavam mudar, ser mais agressivos, aprender a lutar a se defender...etc...Mais uma vez, uma teoria que colocava na vítima a responsabilidade de acabar com as agressões sofridas, mais um erros. Os agressores sentindo-se afrontados, ficaram mais agressivos ainda. Massacraram suas vítimas, que solitárias, sucumbiram.

Por fim, os psicólogos e sociólogos começaram a pensar que esse não podiam ser um fenômeno produzido por esse binômio (vítima-agressor)...tinha mais gente nessa história: e começaram a lançar um olhar sobre os "espectadores silenciosos", ou seja: a maioria de nós. Se houvesse alguma possibilidade de alguma mudança acontecer em um quadro de bullying, só poderia partir da imensa maioria que apenas assiste a isso.

Em uma escola, os que assistem, são a maioria. Numa comunidade qualquer, vítimas de bullying e seus agressores são minoria, o resto apenas assiste calado...com medo de ser visto, acuados...amedrontados..e (deviam) também, envergonhados.

Como pode, moradores de uma rua inteira, ao ver o jornalista (que motivou esse post) ser humilhado por filhinhos-de-papais e se calarem? Como é possível? Será que nós que assistimos pensamos que estamos a salvo? Que nunca chegará a nossa vez de estar no lugar da vítima? Como podem alunos de uma escola inteira, silenciarem diante de abuso de seus colegas por outros? Como podemos ficar quietos, calados e coniventes com tudo isso?? Vergonha...muita vergonha deveríamos sentir. 

Entretanto sentir vergonha não nos leva a ação. Precisamos entender que o poder de mudar isso, está na mão dos que calam. Precisamos falar...precisamos parar os agressores, precisamos dizer que não queremos isso nas nossas escolas, nas nossas ruas, na nossa vizinhança...é preciso dizer NÃO.

Não sou uma agressora, não me lembro de ter praticado bullying em tempo algum da minha vida. Tampouco sou uma vítima dessas agressões. Fora ter recebido alguns apelidos na infância por ser magra e alta, não lembro de ter sofrido bullying.

 Então, só me restaria assumir que tenho pertencido ao terceiro grupo, os que silenciaram. Mas não é verdade, pertenço com muito orgulho ao quarto grupo, dos que falam, dos que gritam, dos que se indignam, dos que defendem as minorias, dos que reconhecem agressores e não os suporta. Sempre disse NÃO, e continuarei dizendo NÃO. Não quero e não permitirei agressões perto de mim, e onde estiver ao meu alcance. Escrevei e me posicionarei ao lado daqueles que lutam contra qualquer tipo de discriminação.

Nesse momento minha bandeira é: NÃO A HOMOFOBIA!! Não aos agressores de Jefferson Lessa. Não aos homofóbicos que torturaram e mataram o garoto Alexandre, de 14 anos, no Rio e continuam caçando os homossexuais. Não quero vocês na minha cidade, na minha rua e em lugar nenhum.  Preconceito se combate com informação, pois é fruto da ignorância, mas discriminação e bullying se combate com Justiça e punição. Abaixo a IMPUNIDADE. Abaixo a HOMOFOBIA!

Ludmila Rohr

P.S. Segue o link da matéria do Jefferson Lessa pra quem ainda não leu!.


9 comentários:

  1. Como professora, sempre via dentro da Escola e dentro da sala de aula também. A maneira como eu lidava com isso, era conversar muito com meus alunos. Se todos fizessem sua parte, mas infelizmente não é assim.

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  2. É isso Lu, quem não sofre ou ataca, silencia... Eu sofri bullying com 15-16 anos. Não tinha apelidos, não era a maia gordinha, nem a mais alta, nem a mais baixa, nem a mais magrinha, nem a negra. Pasme, eu era a mais bonitinha das meninas... Minha mãe foi chamada no colégio porque eu eu um problema. O que eu vestia, o corte ou a cor do cabelo... Tudo era motivo pro falatório. E, dessa vez, passaram a a me odiar do dia para a noite, inventaram um disse-que-disse sem fim e convenceram os meninos com o que quiseram. Pra simplificar, repeti de ano, tive minha primeira crise de depressão e comecei a terapia que, graças a Deus, trago até hj. Foi muito dificil, mas me tornou muito melhor. Nunca fui de sacanear ninguem por caracteristica nenhuma, porque vai saber, como diz a sábia Lispector, o que sustenta nosso alicerce. Eu tb não quero assistir esse tipo de show de horror. Não quero compactuar com uam sociedade que ridiculariza o outro por ser como é. Eu tô com vc querida, e faço coro ao seu grito!

    Abaixo a IMPUNIDADE. Abaixo a HOMOFOBIA!

    Andrea Mentor

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  3. Acho que a nossa humanidade é muito egoísta. Não nos importamos com nada além de nós. Por isso está cada vez mais difícil de ver sorrisos espontâneos por aí, bom dia nos elevadores, a menos que exista um interesse. O que é diferente agride. Infelizmente, estamos deixando de amar uns aos outros, se é que fizemos isso alguma época. Uma pena!

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  4. Acho que é muito fácil falar de fora da situação. Sou mulher, negra, mãe solteira, estou acima do peso e pertenço à famosa "classe média". Agora imagine a quantidade de pequenos preconceitos que sofri por toda a minha vida? Na escola, quando eu era sempre a melhor amiga, mas nunca a desejada;no trabalho, quando tenho que fazer muito mais do que qualquer outra pessoa pra mostrar o meu valor;quando entro em qualquer loja mais cara um pouquinho, e não vem vendedora nenhuma me atender, ou quando vem, me pergunta primeiro se eu estou ciente dos preços... O preconceito é coisa que começa SEMPRE de dentro pra fora e sendo assim, é em casa que você deve podá-lo. Minha filha outro dia me perguntou se menina gosta sempre de menino.A resposta não é fácil, ainda mais pra uma criança de 8 anos..precisei pensar pra responder que nem sempre é assim. Seria mais fácil dizer: sim, sempre, claro! E ir criando mais uma pessoa insensível e homofóbica em cativeiro. Todos reclamam, acham um absurdo, ficam indignados, mas quando entra um negro no ônibus e esse se senta ao seu lado, dão um jeito de arrumar a bolsa; quando um menino, ainda criança, quer fazer balé e não futebol, o pai logo fica preocupado e tenta de todas as maneiras mudar a escolha da criança. O que eu acho mais engraçado dessa triste estória, é que o preconceito existe, mas ninguém é preconceituoso. Neste nosso mundo, a grama do vizinho é que é colorida, não a nossa...

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  5. Lud,

    Acessei a matéria, não tinha lido antes.
    Assino em baixo.Excelente seu texto.

    Obrigada.

    Bjs.

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  6. Essas características são permanentes no âmbito de consolação daqueles que querem, mas não podem, demonstrar quem realmente são. Houve uma época em que falava-se de discriminação racial, porém, hoje, este tema mudou... Ouvimos muito falar em discriminação sexual (homossexualidade ou homossexualismo)... De que isto interessa? Vivemos numa sociedade (em geral) que venera nomenclaturas acreditando numa pseudocura de pensamentos arcaicos que se fincaram no passado e que são arrastados até os dias de hoje.

    Não adianta impor a utilização (ou a quebra) de nomes se não mudamos a nossa forma de pensar... Sejamos brancos, pretos, negros, alvos, gays, bichas, homossexuais, bissexuais... O importante é que, ao menos, SEJAMOS.

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  7. Adorei o comentário de Viviane.
    Lindo, verdadeiro e inspirador.
    Eu já sofri bullying... no começo da minha adolescencia, e por 2 meninas q se diziam minhas amigas, mas sempre q podíam não perdiam a chance de me ridicularizar na frente de todo mundo.
    Uma mais do q a outra. Cristiane e Tetê foram minhas algozes da adolescência. Engolia calada, ou melhor sorrindo para ser socialmente aceita.
    Minha vingança ? Nunca mias vi ou soube de tetê. E cristiane está velha,gorda,acabada horroroza e virou crente. Continua nadando no mar de ignorancia q começou cedo.
    Me perdoe usar desses adjetivos, q podem ferir aqueles q estão acima do peso,nem falo de beleza pq isso é relativo,a beleza está no olho de quem a vê... e eu nunca vi e ainda não vejo beleza nessa criatura q hoje vejo é motivo de pena.
    Pensando bem aqui, vou dedicar a elas alguns momentos de orações de perdão, pois se ainda me incomoda ainda estou aprisonada de alguma forma a esse sentimento. E quem perde sou eu.
    Digo não a qualquer forma de NÃO AMOR. Tudo que está dentro DO AMOR não machuca, não diferencia ou exclui. Só aceita e é.
    Bjs

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  8. Eu e minhas irmãs fomos muito torturadas por sermos sobrinhas da diretora do Colégio, era uma inveja misturada com raiva, pior é que eu não entendia isso, sofria e me recolhia. A gente sofria uma discriminação diferente, era como se fossemos previlegiadas por ser sobrinhas da Diretora, sobrinhas do Médico da cidade, a nossa familia se destacava e nós estudava-mos no unico colégio da cidade junto com meninos e meninas de todo o nivel de educação. Acho que foi isso que me fez ficar muito tímida!!!
    Semre leio o seu Blog.
    Beijo,

    Rita Portela

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  9. Tudo começa em casa. Hj em dia todos nós mães, pais, professores, mulheres, homens, amigos, etc temos que estar atentos. Minha filha desde muito pequena sempre escutou de mim que amor não escolhe o sexo. Hj ela é uma adolescente de 14 anos que fica indignada com a homofobia. Nós que ajudamos a construir os alicerces da vida do filho. Pais homofóbicos, quase certo filhos homofóbicos. A homofobia fere muito. E pior, os ferimentos geralmente são sentidos de forma silenciosa. Dor silenciosa doe mais.

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