sexta-feira, 3 de abril de 2009

Lili morreu...


Eu não a conhecia...nem a conhecerei mais. Ela morreu aos 36 anos. Acho que tinha dois filhos ainda pequenos. Não sei o que ela fazia. Só a vi em uma foto pequena em um tópico de uma comunidade do orkut. Esse tópico chama-se "Confesso...". Lá as pessoas que fazem quimioterapia e seu amigos ou parentes, fazem suas confissões. Já li todas, quando entrei na comunidade esse tópico já existia, por isso passei um dia inteiro lendo tudo que havia sido postado nele desde a sua criação.

Conheci muitas histórias...muitas pessoas incríveis. Vi essas mesmas pessoas em vários momentos distintos. Ora confessavam momentos de alegria e esperança, ora de raiva, tristeza e desânimo. Esse espaço me é muito útil., é um espaço de muito acolhimento. Lá também faço as minhas confissões. Na verdade são desabafos, catarses que escancaram a nossa alma e revelam sentimentos íntimos.

Não sei porque a foto de Lili me chamou atenção. Na foto que aparecia no site, ela lembrava alguém conhecido. Tinha um olhar conhecido. Um pouco melancólico...sei lá. Senti essa atração por ela, mas por outras pessoas também. Percebi que ela não postava há tempos. Pensava nela de vez em quando...

Hoje pensei nela. Fui lá no seu perfil e descobri que pessoas tristes escreviam mensagens desejando que ela descansasse em paz, que agora ela morava ao lado de Deus, que a luta havia terminado, que agora não haveria mais dor!! Essas mensagens começaram um dia atrás, pois dois dias atrás alguém escreveu dizendo que sentia saudade e que ía aparecer um dia desses!!

Lili morreu um dia atrás. Não sei quem ela era. Mas ela sou eu. Ela é cada uma das mulheres que conheço. Ela é uma mãe, uma filha, uma irmã, prima, uma amiga, uma vizinha, uma amante, namorada, esposa, uma colega de alguém...ela agora existe na memória dessas pessoas que a conheceram e também na minha que nunca a conheci, nem a conhecerei.

Tenho uma fala que muitos dos meus amigos já ouviram. Digo sempre que amo muito a vida e que quero viver muito, que tenho muitas coisas pra fazer. Digo que se eu morrer jovem que eles (os amigos) devem fazer vibrações, orar, rezar, acender incensos, velas, bater atabaques, mandar rezar missa...qualquer coisa...pois com certeza eu vou estar muito puta da vida (ou puta da morte) por ter morrido jovem. Sempre digo isso brincando, mas percebo que estou falando sério. Acho um grande desperdício morrer jovem. Quero morrer quando não estiver mais lúcida...muito velhinha...quando estiver cansada e achar que a morte e o que vier depois dela sejam um descanso, mas por enquanto meu descanso com certeza é uma boa cochilada, um mergulho no mar ou assistir a um por-do-sol no Farol da Barra.

Por isso choro por Lili, choro por mim...choro por seus pais, filhos e irmãos....

Namastê!

Ludmila Rohr




5 comentários:

  1. Ludmila lindo o que vc escreveu, conheci a Lili, era como da minha familia, e por mais que sabemos que ela descansou de todo sofrimento, o fato de ter vivido tão pouco e ter deixado um filho lindo pequeno e uma familia maravilhosa, acaba me deixando simplesmente inconformada...mas Deus sabe o que faz, com certeza ela esta olhando pra todos só que sem sofrimento...é o que me conforta.

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  2. Rosa,
    Qdo escrevi esse post não imaginava que alguém da família fosse acessá-lo.
    Sintam-se, vcs que a realmente a conheciam, respeitosamente abraçados nesse momento de dor.

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  3. Eu também fiquei muito triste, lutou muito... mas

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  4. Ludmila,
    Sinto a sua dor. Sinto muito pela Lili. Tenho tentado aceitar mais e entender o ciclo da vida e da morte. Ainda sou muito apegada. Sofro demais toda vez que sou confrontada com a minha própria mortalidade. Cada vez que perco alguém, próximo ou distante, perco um pouco de mim.
    Sei que preciso trabalhar isto, praticar o desapego e aprender que a passagem de alguém é um presente, pois é o início de um novo ciclo em um novo lugar. Ainda luto muito com este conceito, preciso entender melhor. Tenho certeza que a Lili está em paz e com Deus, mas mesmo sem conhecê-la sei que ela vai fazer muita falta por aqui.
    Bjs

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  5. Ela era isso tudo e muito mais, minha irmã estava ali sempre que a gente precisava. Era minha filha mais velha, agradeço muito o que escreveu e o carinho dedicado mesmo não a conhecendo, ela foi um exemplo, as vezes tinha uma recaída mas sempre acreditou que podia melhorar, segui todos os sofrimentos, melhoras ao lado dela.E acho que estará ao meu lado agora. Beijos

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