Recebi alguns emails de pessoas reclamando da minha demora em postar algo novo, ou mesmo preocupados se algo havia acontecido....achei isso incrível. Nada de errado aconteceu meus queridos....e de fato voces teem razão...tem tempo que não escrevo, mas tenho meditado muito...
Essa semana refleti muito sobre Contentamento, que os yogues chamam de Santosha. Esse estado da alma que não queixa, que não lamenta, que não reclama, o estado de alma das pessoas que podem estar simplesmente, contentes, independente de quaisquer condição. Esse é conceito difícil de ser compreendido por nós ocidentais.
Bom...fui criada para não me "contentar" com menos do que fosse o meu desejo, pra não me contentar com pouco, a não ser se meu esforço e dedicação tivesse sido pouco também. Fui educada para achar que quem se "contenta" aceita qualquer coisa, e pode até ficar sem nada. Fui educada a ser competitiva, a lutar por minhas ambições e desejos. Aprendi muito bem isso. Realizei isso na maioria das vezes. Simplesmente não me contentava e, buscava... brigava....batalhava por aquilo que eu queria. Achava isso lindo em mim! Me julgava corajosa e tinha orgulho dessas características minhas.
Tenho mudado de uns anos pra cá. Tenho me percebido com menos ambições. Tenho me sentido Contente com menos coisas, e sem tanto esforço. Tenho sentido muito prazer com coisas simples. Tenho ficado contente apenas na contemplação. A meditação na vida me deixa contente. A contemplação na respiração me deixa contente. Tenho conseguido depois de muitos anos estudando yoga, começar a entender o Santosha.
Santosha é a simplificação da vida. É o contentamento não por ter alcançado tudo que queria, mas sim, por descobrir que se quer muito menos do que imaginava. Santosha é o contentamento por descobrir que nenhum esforço nos tira daquilo que é maior que nós mesmos, que é o Dharma (aquilo que deve ser feito; a Lei)...o contentamento é possível onde há confiança, e onde não há medo. Santosha é sinônimo de felicidade e não está relacionado ou condicionado a nada, apenas a uma entrega àquilo que as pessoas chamam de Deus, e que eu chamo de vida.
A vida tem sabedoria. A vida tem um fluxo próprio de energia...e por maior que seja o nosso "livre arbítrio", tem algo maior que nem entendemos, mas ao qual precisamos nos entregar.
Quando eu era pequena comecei a ter um sonho recorrente que se repetiu até a idade adulta. Era o mesmo sonho por muitos anos, se repetindo...repetindo...Era assim: No sonho eu sempre era uma criança de mais ou menos 3 - 4 anos, sentada na balaustrada da praia do Farol da Barra (aqui em Salvador). Eu olhava o mar, que de repente começava a se retrair até que desaparecia totalmente. De repente todo o mar que havia se retraido, voltava como uma imensa onda que de tão grande, escurecia o sol. A onda começava a cair sobre mim...arrastava tudo... eu me agarrava nas colunas onde estava sentada...acordava desesperada.
Sonhei incontáveis vezes e por muitos anos esse sonho. Fiz inúmeras análises dele, segundo várias abordagens da psicologia. Deixei de sonhá-lo, mas nunca o esqueci, nem da sua sensação. Não esqueço do espanto de ver o mar desaparecendo, do pânico de ver a onda imensa e do desespero de tentar me agarrar pra me salvar.
Qual a relação desse sonho com Santosha? Bom...sei hoje, sinto no meu corpo e na minha alma, que não quero me agarrar a nada pra me "salvar". Não quero me agarrar nem a idéia de Deus! embora ela me dê muita paz...mas não quero me segurar desesperadamente a nada, pelo simples motivo que não há nada a ser salvo.
Santosha vem da entrega e do desapego. Santosha nasce na nossa alma no momento que começamos a nos entregar e relaxamos, saimos da luta e do esforço, e é complicado falar sobre isso já que aparentemente estamos "lutando" contra um câncer, pois poderia levar a interpretações errôneas de que quero "entregar os pontos". Nada disso. Quero fazer tudo que precisa ser feito. Quero valorizar a vida sagrada que temos. Mas não quero desespero na minha vida, nem na minha morte. Quero Santosha!
Experimentei Santosha 15 anos atrás, quando (no sonho) larguei as colunas nas quais tentava agarrar e me deixei levar deliciosamente pelas águas poderosas daquela onda que passou a vida me chamando e, a partir daquele dia, nunca mais o sonhei. Não tinha nenhum medo da onda, da força das águas...e por isso, não precisava mais sonhá-lo.
Santosha é entender que não estamos lutando contra um câncer e sim nos entregando à vida.
Não preciso ter medo das ondas da vida, elas estão dentro de mim também. Não preciso ter medo de nada que está dentro de mim. Não preciso ter medo de mim, e por isso posso estar contente. Essa onda é Deus, essa onda é a vida, essa onda sou eu repleta de contentamento e poder.
Namastê
Ludmila Rohr
Ludmila, conheci seu Blog hoje. Fiquei um bom tempo pensado no que iria comentar. Na verdade, não vou comentar sua postagem, apenas senti a necessidade de te dizer que conhecer vc, ser sua paciente e sua aluna de Yoga, fez uma grande diferença na minha vida. Você é uma pessoa iluminada gostaria de dar um grande abraço agora (que só aprendi ai, na nossa terapia em grupo.
ResponderExcluirMuita Paz!!
Cida
Cida!
ResponderExcluirQue bom receber notícias suas!
Que bom que vc está aqui....
te acompanho pelo orkut, vc e Taci.
Que bom que aquele nosso trabalho deixou marcas, né?
bjos