Sempre pedi aos Deuses para ser uma pessoa forte. Sempre pedi aos Deuses para não ser uma pessoa bege. Chamo "pessoa bege", aquela que não deixa marcas, que não interfere, que se adequa a tudo. Queria ser alguém que interferisse, que fosse lembrada, que afetasse as pessoas e os ambientes por onde passasse. Queria ter a sensação de que gosto de mim mesma, aquela sensação que me garantiria a sensação de que eu não gostaria de ser outro alguém, mas que eu estou feliz com quem eu sou!
Nasci assim....meu pai me chamou de Ludmila, e dizia que esse nome significava "Amada por todos", nasci em meio ao golpe militar no Brasil e meu pai era um líder comunista, então já cresci meio "vermelha", bem longe do bege.
Nasci em Salvador-BA, mas filhas de uma amazonense com um paraense, que são primos. Bom me sentia diferente das minhas colegas de escola, mas adorava isso. As pessoas na época se chocavam quando sabiam que meus pais eram primos, e eu reforçava dizendo "são primos carnais!", como se chama primo de 1º grau aqui na Bahia. Eu gostava do impacto que isso causava, gostava de já ter nascido com uma história diferente.
Bom...meus pais eram pobres, não tinhamos nada sobrando, não tinhamos espaço sobrando, moravamos em um apartamento bem pequeno e que foi ficando menor a medida que a família se completou com 4 filhos. Minha mãe era uma professora e trabalhava em 3 empregos, e meu pai trabalhava no Pólo petroquímico, quase não os víamos, exceto nos fins de semana.
Voltarei sempre a fazer referências à minha infância e adolescência, mas quero falar dessa mulher que sou hoje, e das experiências que tenho vivido hoje aos 45 anos de idade.
Acabei de descobrir que meu marido está com uma metástase no fígado de um câncer que ele tratou no ano passado. Uma descoberta como essa mobiliza tudo que tenho em mim, tudo que vivi, as minhas crenças, os meus mêdos e a minha relação com a vida.
Quando descobrimos o primeiro câncer, sofri, tive mêdo, chorei muito, imaginei muitos quadros possíveis, mas no fundo, em um lugar muito profundo de mim mesma, encontrava um lago de águas serenas, um lugar que me dava muita paz e serenidade.
Nessas situações é comum vc ouvir muitas coisas das pessoas, e um dia eu ouvi: "A gente nunca está preparado pra isso, né?". Aquilo me afetou profundamente, porque se eu dissesse que não estava preparada, estaria jogando fora anos e anos de uma vida vivida com tanta intensidade e verdade. Lembrei que pratico meditação e yoga há 29 anos, lembrei de tantas coisas que acredito e que sempre me fizeram ser a pessoa forte que sou. Como agora poderia dizer que não estou preparada pra lidar com isso? O câncer nada mais é que estar diante da vida e morte, e não é assim que acredito que estamos diariamente?
Outra coisa que me causava muito desconforto eram as demonstrações de fé do tipo: "Tudo vai dar certo!", "Tenha fé que tudo dará certo!". Bom, eu pensava...por que é assim que acredito: Tudo sempre dá certo! mesmo que não aconteça como gostariamos, não significa que deu errado. O Dharma se faz, e o que tiver de ser, será! e o que acontecer, está certo!
Na época do 1º câncer o tratamento foi muito doloroso, pude experimentar o que é ver alguém sofrendo juntinho de mim, sem que eu pudesse fazer muita coisa....ele venceu...atravessou essa primeira etapa, foi dado como curado....brindamos, celebramos....viajamos pra Europa para comemorar...brindamos à vida em Veneza, em Paris....merecíamos.....e nos permitimos!
Mas agora, 3 mêses depois descobrimos que escondidinho no fígado, crescia uma célula desgarrada...e teremos que enfrentar esse desafio outra vez! e assim será! Trabalharei com minha fé, que é uma fé que me diz que tudo está certo, que devemos estar abertos ao todo, que ao desejarmos a vida, não podemos excluir a morte, que ao desejarmos o prazer, não conseguiremos excluir a dor.
Sempre pedi aos Deuses para ter uma vida inteira, que os meus véus da ignorância fossem tirados um a um; continuo querendo isso e continuo querendo aprender o máximo com todas as histórias da minha vida. Vamos ver o que essa agora, quer me ensinar!
Namastê
Ludmila Rohr
P.S. foto em Templo Budista no Nepa - Roda de Orações
Nasci assim....meu pai me chamou de Ludmila, e dizia que esse nome significava "Amada por todos", nasci em meio ao golpe militar no Brasil e meu pai era um líder comunista, então já cresci meio "vermelha", bem longe do bege.
Nasci em Salvador-BA, mas filhas de uma amazonense com um paraense, que são primos. Bom me sentia diferente das minhas colegas de escola, mas adorava isso. As pessoas na época se chocavam quando sabiam que meus pais eram primos, e eu reforçava dizendo "são primos carnais!", como se chama primo de 1º grau aqui na Bahia. Eu gostava do impacto que isso causava, gostava de já ter nascido com uma história diferente.
Bom...meus pais eram pobres, não tinhamos nada sobrando, não tinhamos espaço sobrando, moravamos em um apartamento bem pequeno e que foi ficando menor a medida que a família se completou com 4 filhos. Minha mãe era uma professora e trabalhava em 3 empregos, e meu pai trabalhava no Pólo petroquímico, quase não os víamos, exceto nos fins de semana.
Voltarei sempre a fazer referências à minha infância e adolescência, mas quero falar dessa mulher que sou hoje, e das experiências que tenho vivido hoje aos 45 anos de idade.
Acabei de descobrir que meu marido está com uma metástase no fígado de um câncer que ele tratou no ano passado. Uma descoberta como essa mobiliza tudo que tenho em mim, tudo que vivi, as minhas crenças, os meus mêdos e a minha relação com a vida.
Quando descobrimos o primeiro câncer, sofri, tive mêdo, chorei muito, imaginei muitos quadros possíveis, mas no fundo, em um lugar muito profundo de mim mesma, encontrava um lago de águas serenas, um lugar que me dava muita paz e serenidade.
Nessas situações é comum vc ouvir muitas coisas das pessoas, e um dia eu ouvi: "A gente nunca está preparado pra isso, né?". Aquilo me afetou profundamente, porque se eu dissesse que não estava preparada, estaria jogando fora anos e anos de uma vida vivida com tanta intensidade e verdade. Lembrei que pratico meditação e yoga há 29 anos, lembrei de tantas coisas que acredito e que sempre me fizeram ser a pessoa forte que sou. Como agora poderia dizer que não estou preparada pra lidar com isso? O câncer nada mais é que estar diante da vida e morte, e não é assim que acredito que estamos diariamente?
Outra coisa que me causava muito desconforto eram as demonstrações de fé do tipo: "Tudo vai dar certo!", "Tenha fé que tudo dará certo!". Bom, eu pensava...por que é assim que acredito: Tudo sempre dá certo! mesmo que não aconteça como gostariamos, não significa que deu errado. O Dharma se faz, e o que tiver de ser, será! e o que acontecer, está certo!
Na época do 1º câncer o tratamento foi muito doloroso, pude experimentar o que é ver alguém sofrendo juntinho de mim, sem que eu pudesse fazer muita coisa....ele venceu...atravessou essa primeira etapa, foi dado como curado....brindamos, celebramos....viajamos pra Europa para comemorar...brindamos à vida em Veneza, em Paris....merecíamos.....e nos permitimos!
Mas agora, 3 mêses depois descobrimos que escondidinho no fígado, crescia uma célula desgarrada...e teremos que enfrentar esse desafio outra vez! e assim será! Trabalharei com minha fé, que é uma fé que me diz que tudo está certo, que devemos estar abertos ao todo, que ao desejarmos a vida, não podemos excluir a morte, que ao desejarmos o prazer, não conseguiremos excluir a dor.
Sempre pedi aos Deuses para ter uma vida inteira, que os meus véus da ignorância fossem tirados um a um; continuo querendo isso e continuo querendo aprender o máximo com todas as histórias da minha vida. Vamos ver o que essa agora, quer me ensinar!
Namastê
Ludmila Rohr
P.S. foto em Templo Budista no Nepa - Roda de Orações
Lú, tudo o que vc escreveu retrata vc, mas não sei se está certo... Bjs.
ResponderExcluirLudmila,
ResponderExcluirfiquei muito triste com a notícia que você nos deu pela manhã. Vi algumas pessoas chorando, consternadas, inclusive você, mas eu não senti a mesma vontade, olhe que sou uma chorona. Senti uma onda de fé e esperança de que tudo vai acontecer como na primeira vez, ou seja, seu marido vai sair dessa vitorioso e mais forte.
Também já passei por todo esse sofrimento, ele serviu para me fazer crescer e aceitar os reveses da vida.
Saiba que estarei novamente orando e pedindo a Deus que seu marido fique bom totalmente.
Adorei seu blog. Fiquei muito emocionada com suas palavras, são lindas.
Estarei no Mahatma sábado participando da corrente de oração.
Fique com Deus, que ele te dê muita fé, força e esperança de que tudo vai dar certo.
Um forte abraço.
Ludmila.
ResponderExcluirLarissa me passou um email com o endereço do seu blog, pois ela sabe q eu sou blogueira.
Adoro ler blogs, e tenho tb o meu próprio.
Bem, o que dizer diante de uma noticia desconcertante ?
Vc ja disse tudo e com uma verdade e inteireza que me emocionaram ao ler suas palavras.
Vc está mais do que consciente das implicações do viver. É o que eu costumo dizer: Vivemos como se fôssemos super heróis e nem cogitamos dor e morte.
Mas a morte é a condição do viver. Morto não morremos.
Só menciono isso, pq acho que enfrentar o desconhecido é a experiência mais apavorante que podemos passar, ao mesmo tempo, a gente conhece o amanha ? Claro que não.
Adorei ler a parte que vc diz que não pode dizer que não está preparada para isso. Nisso me emocionei e me vi, na real.
Passo tantas coisas todos os dias, tenho passado cada dia mais as coisas, pois qndo entramos "na consciência maior", a vida fica diferente, pq passamos pelas nossas experiências de formas diferentes. Mais atentos às reais importâncias, digamos.
Acho mesmo que olhar pra trás, e identificar tudo que vc É, vai te ajudar a ver que nenhuma outra pessoa no mundo poderia estar ao lado de Judson nesse momento. Só vc. E olha como Deus, o Universo é bom... VC, essa mulher inteira, cheia de Deus, cheia do Espírito, Guerreira, nada bege (adorei isso), está ai cumprindo o que foi determinado: Estar ao lado da pessoa amada, com todo o seu amor pra fazer a única coisa que vc pode fazer por ele e com certeza é o q vc deve saber fazer melhor: Amá-lo, confortá-lo e ampará-lo. Talvez venha uma voz dizendo: E Eu ?? quem vai me amparar e confortar ? E a primeira resposta que veio aqui na minha cabeça foi: Mas foi pra isso que EU te Preparei.
Portanto querida, vc e e seu amado Judson, tenho CERTEZA, estão em Boas Mãos.
Segure firme, aguente as topadas do Caminho, que muitos raios de Sol esperam por vcs.
E qq coisa, estou aqui.
Um beijo
Patta
Oi Ludmila, sou Assistente Social, terapeuta em Análise Bioenergética e Biossíntese.Moro em Irecê-BA. Aqui trabalho na Diretoria Estadual de Saúde e sou coordenadora técnica de um CAPS.Pratico yoga há quase 2 anos e fico me perguntando como não descobri essa forma de trabalhar o corpo antes.
ResponderExcluirMas quis comentar aqui para parabenizar a sua coragem de se abrir num espaço desses, a gente sabe como na nossa área tem terapeutas que acham que tem que fechar totalmente a sua vida, eu nunca achei que ajudaria as pessoas assim e por isso também faço minha vida acontecer livremente sem medo de críticas só ainda não fiz um blog por falta de tempo.
Um forte abraço,
Marlúcia