Chegou o dia de ir embora. Depois de 2,5 anos morando na Arábia Saudita, estou indo embora. O plano sempre foi esse, sabíamos que ficaríamos de 2 a 3 anos aqui. Essa é a etapa final de um projeto que meu marido trabalha e que nos fez mudar para Houston nos EUA, e para Seul na Coréia. Tudo como planejado.
Levarei algum tempo para assimilar as experiências que vivi nesse país tão estranho e fechado. Cada vez que tento pensar no que levo de bom dessa experiência, penso nas incontáveis viagens que fiz nesse tempo. Penso na Rússia, na Hungria, Suíça, França, Espanha, Bélgica, República Tcheca, Itália, Alemanha, Áustria, Holanda, Turquia, Egito, Emirados .... morar na Arábia significou estar bem pertinho da Europa....viajar para passar um final de semana em Munich bebendo aquela cerveja maravilhosa... reconheço que o aeroporto foi um lugar de grandes alegrias...
Outra experiência indescritível e que me proporcionou prazeres quase que orgásticos, foi atravessar a ponte que liga o Reino dos Sauditas, ao Reino do Bahrain. Aquela ponte me fazia um bem enorme.... no meio dela eu já suspirava e sentia uma alegria imensa inundar minha alma.... O Bahrain onde se vende a cerveja mais cara do mundo, foi um paraíso para mim. Tirar as roupas pretas, beber uma cerveja ou vinho, rir alto sem medo de ser presa...ai...vocês não podem imaginar o que isso significa...ninguém pode, a não ser quem viveu aqui.
Cada vez que tento pensar nas coisas boas que vivi aqui, lembro que nesse período, meu filho caçula se formou, me fazendo experimentar a maior felicidade do mundo, ver o último filho formado! Lembro dos inúmeros Círculo das Deusas que realizei aqui! Os Grupos de Bioenergética! Trabalhei aqui! Dei minha primeira aula em Inglês. Realização absurda!
As pessoas me perguntam se sentirei saudade de algo. Não, não sentirei. Coisas? Não. Claro que sentirei saudade de muitas pessoas ... Algumas pessoas tocaram minha alma profundamente (de prazer e dolorosamente também). As levarei comigo nas lembranças, nas fotos, nas histórias e com certeza, eu sei que muitas delas, a vida vai proporcionar reencontros em que riremos muito do que vivemos aqui ... outras entretanto, sei que não encontrarei mais.... amigas indianas, holandesas, malásias, filipinas .... sei que apenas as verei virtualmente ...assim é a vida. Deixei pessoas queridas quando saí da Korea, sei como isso funciona.
Pensar nos nossos motoristas indianos, pensar nos funcionários do compound que são nepaleses, pensar em Von e Ronny (filipinos que sempre tomaram conta de Menino quando viajávamos) ... faz meu coração apertar.
Queridos, obrigada pela paciência que tiveram comigo, não esqueço nunca que entrei na menopausa aqui e passei meses sendo insuportável. Obrigada pelos sorrisos e pelas lágrimas que compartilhamos. Obrigada por terem aberto comigo o leque da alma humana, do que temos de pior até o que temos de melhor... O que levo daqui são as vibrações que tocaram minha alma ... essas entraram na minha pele, como tatuagem e ficarão comigo para sempre.
... e Menino... ah Menino!
Meu presente precioso .... Tinha que vir pra cá pra conhecer meu bebê louro e gordo.... Não sei como agradecer ao Universo por nos oferecer tanto amor (algumas dentadas também). Meu gatão é o troféu mais precioso! Ganhei no primeiro dia que aqui cheguei e levo onde for.